A volta das chuvas no semiárido nordestino trouxe a esperança de dias melhores ao sertanejo, mas ainda estão longe de acabar com a devastação ambiental causada pela seca desde o início de 2012. Segundo especialistas e autoridades, a recuperação de um período de estiagem tão longo e intenso só deve acontecer em um década. Isso, caso as chuvas voltem à média nos próximos meses e ações governamentais sejam tomadas para garantir o abastecimento de água. A seca 2012-2013 já é considerada a pior em pelo menos 40 anos.
Em muitas regiões do sertão, a semana foi de chuva intensa, que chegaram a causar prejuízos e levaram municípios que sofriam com a seca a decretar emergência no Piauí e na Bahia. Porém, devido ao deficit hídrico acumulado, as chuvas não devem ser capazes de suprir toda a carência deixada nos últimos meses. É a chamada “seca verde”, quando o pasto floresce, o chão fica úmido, mas não houve um bom acúmulo de água.
“Essas chuvas deram uma aliviada, mas não resolvem o problema, pois o deficit é muito grande e vem de longo tempo. Há ainda um prejuízo muito grande para a agricultura, pois a retomada vai demorar muito tempo.”, afirma o coordenador da Defesa Civil da Bahia, Salvador Brito.
Em Alagoas, 37 municípios sofrem com a estiagem e a situação também é de caos. Para o ex-secretário de Estado da Agricultura e recém-empossado na cidade de Pão de Açúcar, Jorge Dantas (PSDB), é preciso que o governo federal participe de forma mais atuante no processo. Ele também acredita que a recuperação nordestina só ocorrerá a longo prazo.
“Serão 10 anos para recuperar os efeitos desta seca. Precisamos pensar em ações de médio e longo prazo, porque a seca é um efeito natural que sempre acontece. É necessário propor a criação de um órgão a nível federal específico para seca”, disse.
Diante da necessidade de recuperação a médio e longo prazo, a AMA (Associação dos Municípios Alagoanos) preparou uma série de reivindicações que serão entregues, nos próximos dias, ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. Entre as medidas solicitadas estão o fortalecimento do programa de segunda água, que prevê a construção de cisternas com capacidade para 52 mil litros (que serviria para consumo animal), recuperação de 100% dos poços artesianos e criação de um programa para plantio da palma (vegetação da mesma família do cacto, que sobrevive a longos períodos de seca, mas serve de alimento para o rebanho).
Na Paraíba, onde 195 municípios decretaram emergência, as chuvas caíram com menos intensidade nos últimos dias. A situação no Estado ainda é considerada bastante preocupante, especialmente no que diz respeito a questão pecuária. Segundo o presidente da Federação da Agricultura da Paraíba, Márcio Borba, 40% das cabeças de gado do Estado foram perdidas com a seca, seja por morte, transferência de Estado ou abate antecipado.
“A Paraíba tinha 1,2 milhão de reses [animais que se abatem para a alimentação] antes da seca, e hoje não temos 800 mil. Se continuar seco, além das 40% perdidas, 30% irão daqui para o final de 2013. Vamos levar de oito a 10 anos para recuperar esse índice, caso tenhamos anos normais e se houver incentivo do governo federal, que até agora tem feito algo quase que insignificante”, disse.
Segundo um estudo do Etene (Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste), ligado ao Banco do Nordeste, os Estados também sofreram severamente com a perda de lavoura, o que levará um tempo para ser recuperado. Em 2012, por exemplo, houve uma queda da safra de 85% de milho e feijão no Ceará — foram 1,179 milhão de toneladas colhidas em 2011, contra 176 mil no ano passado. A perda foi a maior desde 1958.
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