Reproduzo excelente artigo de Alex Medeiros publicado ontem na sua coluna do Jornal de Hoje, Alex acertou em cheio e comungo de cada palavra por ele escrita. Que fim melancólico de uma das maiores promessas da politica Norte-rio-grandense dos últimos anos. Segue:
Os twiteiros de todas as cores, tendências e rezas congestionaram a timeline do microblog, na noite de ontem, repercutindo a entrevista da prefeita Micarla de Sousa (PV) aos jornalistas Felinto Rodrigues e Robson Carvalho, na rádio 98 FM.
Aliás, nas últimas semanas Micarla tem feito mais pronunciamentos do que se estivesse candidata à reeleição. Vai numa média de três ou quatro por semana. Vi um em que deixou claro que o aumento das passagens de ônibus foi quase uma imposição jurídica.
Numa fala recheada de avaliações sobre a carreira política e a própria vida pessoal, surpreendeu, de novo (já havia dito aqui no JH), ao declarar que votaria em Carlos Eduardo, aquele que as torcidas de ABC e América sabem que é seu maior desafeto.
Conheço Micarla desde quando ela era adolescente e até guardo lembrança (já contei aqui) do dia em que nasceu, numa ocorrência radiofonizada em virtude da enorme popularidade do pai, Carlos Alberto, campeão absoluto de audiência na Rádio Cabugi.
Sei, por convívio e pelo depoimento de seus ex-professores de jornalismo, que poucas profissionais no RN dominam tão bem a técnica de comunicação no rádio e TV. E sei também que ela jamais se pautou facilmente pela determinação de uma assessoria.
Ontem, espantei-me com sua declaração de voto no candidato que mais soube explorar a desgraça administrativa que se abateu sobre o seu governo. Nem mesmo Mineiro e Robério, ambos de esquerda, foram tão competentes em valer-se da sua impopularidade.
Os equívocos administrativos da Prefeitura do Natal e os índices de rejeição da prefeita praticamente resgataram Carlos Eduardo para a consagração pública e eleitoral, após o insucesso na eleição de 2010, quando chegou a perder para Iberê Ferreira na capital.
O atual candidato do PDT ressurgiu nas cinzas do governo do PV, virou a maior referência contra suas falhas, tornou-se a antítese da gestão, numa versão masculina de Wilma de Faria depois do racha doméstico com o náufrago afilhado Aldo Tinoco.
Não sei o que diabo passou na cabeça da hoje evangélica prefeita. Decerto não foi orientação de marketing, numa inovação pretensamente pioneira em acarinhar o inimigo com desejos de matá-lo. Mesmo o modernoso “marketing de emboscada” não é isso.
Aliás, ela decidiu agir na contramão do que fez o pai na campanha de 1992, quando as famílias Alves e Maia se misturaram na disputa dos gêmeos Henrique e Ana Catarina. Carlos Alberto foi pra TV, declarou o voto em Aldo e ajudou a derrotar os irmãos.
Micarla é uma pessoa inteligente, boa leitora de livros e de situações, e teve no segundo caso um grande professor dentro de casa desde os primeiros passos. Só os fanáticos políticos imaginam que a sua conversa na 98 FM teve a força de uma vingança eleitoral.
Se a entrevista tinha também a missão de anunciar sua despedida da vida pública, o tal voto declarado no rival tem mais insanidade ideológica do que lucidez política. Faltou medir com a régua do amor próprio a dimensão intempestiva de tal gesto.
Não custava nada lembrar do pai ao fim da trajetória política e da própria vida, quando soube baixar as cortinas com humildade. Faltou a lição de Herman Hesse: “O homem culto é apenas mais culto; nem sempre é mais inteligente que o homem simples”.
Afinal, quando abdicou – corretamente – da luta pela reeleição, Micarla saiu do processo eleitoral, para onde jamais deveria ter tentado retornar. Se a campanha não era mais o seu meio, o tablado da batalha, para que fazer dela um fim melancólico?
Não enganou a si mesma, nem ao deus que acredita, nem aos observadores sérios da cena política. Todos sabem que seu partido, seus familiares e seus mais próximos seguidores não votarão em Carlos Eduardo, como já andam se manifestando por aí.
A Micarla de Sousa jornalista, empresária, mãe e devota tem muito mais coisas relevantes para tratar no “day after” de um fracasso do que prestar-se ao papel de última bala contra um inimigo que não é mais inimigo do que os amigos de ocasião.
A batalha, a luta e as armas agora devem ser outras. Até que reencontre a paz perdida.
Só não precisa zombar de Deus ou culpá-lo por nada. Aliás, se Micarla está buscando Deus e entregando sua vida verdadeiramente a Ele. Parabéns, ela está no caminho certo, dando um rumo perfeito a sua vida.