Realizou-se nesta segunda (31), no Planalto, a cerimônia de transmissão de cargo do Ministério do Esporte.
Sobrevivente da Era Lula, Orlando Silva, do PCdoB, passou o bastão para Aldo Rebelo, do mesmo PCdoB.
Dilma nomeou Aldo a contragosto. Preferia Flávio Dino, o pecedobê que preside a Embratur.
Ao discursar, a presidente como que denunciou a mal jeito ao errar o nome do novo ministro. Chamou Rebelo de Rabelo.
Perto do que estava por vir, o ato falho virou detalhe. Dilma elogiou o ministro que, há três dias, foi demitido por suspeita de corrupção. Disse coisas assim:
“Orlando Silva fez um excepcional trabalho. Esse trabalho foi incansável para a preparação do Brasil para os grandes eventos esportivos que sediaremos.”
Ou assim: “Orlando Silva não perde meu respeito, desejo muita sorte na sua cruzada pela verdade.”
A presidente também recobriu de elogios o partido acusado de converter a pasta do Esporte em usina de captação de verbas:
“O PCdoB tem sido um parceiro leal e relevante no nosso projeto nacional de governo.”
Orlando Silva, o “excepcional”, ocupara o microfone antes de Dilma, a contraditória. Vangloriou-se do trabalho realizado.
Agradeceu a “confiança” recebida de Lula e Dilma. Dirigindo-se aos familiares –mãe, irmã, mulher e filha— e à chefe que o demitiu, o ex-ministro proclamou: “Eu sou inocente.”
Foi efusivamente aplaudido pela plateia, apinhada de ministros, governadores, prefeitos, líderes partidários, atletas e dirigentes esportivos.
Aldo Rebelo também preocupou-se em afagar o demitido:
“Pude testemunhar, como deputado, a sua trajetória. Mas do que inocente, o senhor é vítima, talvez esta seja a palavra mais precisa.”
O novo ministro enalteceu também o legado do antecessor. Citou especificamente o programa Segundo Tempo, epicentro da roubalheira.
Disse que o programa, reconhecido internacionalmente, é uma tentativa de ampliar a prática esportiva no país. Algo relegado a plano secundário durante décadas.
Posou de humilde ao dizer que o cargo é maior que sua capacidade de arrostar os desafios. Pediu apoio e cuidou de injetar o Saci Pererê na solenidade fantástica (assista abaixo).
Prestes a anunciar mudanças na equipe de Orlando, a “vítima”, e nos rumos do programa “modelo” do ministério, Aldo rendeu parcas homenagens ao bom senso.
“O Partido Comunista do Brasil não está acima das críticas e da fatalidade humana dos erros”, admitiu.
“Como instituição democrática, [o partido] está aberto a aceitar as críticas, os reparos, e a procurar corrigir qualquer deformidade…”
“…Ou qualquer desvio próprio das organizações humanas, sejam elas partidárias, sejam elas públicas, sejam elas privadas.”
Um marciano que pousasse o disco voador na Brasília desta segunda-feira, autoconvertida em teatro de absurdos, ficaria embatucado.
Perguntaria: “por que diabos a presidente do Brasil trocou um ministro que considera ‘excepcional’ por outro que nem o nome consegue recordar?”
Indagaria: “por que Aldo Rabelo –ou seria Rebelo?— aceitou tomar parte do ritual de sacrifício do camarada Orlando ‘Vítima’ Silva?“
Folheando a edição desta segunda do ‘Diário Oficial’, a criatura verde do planeta vermelho daria de cara com um decreto de Dilma.
Lendo a peça, veria que Dilma decretou a moratória do pagamento a ONGs e abriu uma devassa nos convênios celebrados na pasta do Esporte e alhures.
Depois de examinar o comportamento dos atores do Planalto e de cotejar os atos de governo com as palavras das autoridades, o marciano informaria aos superiores:
Ou o ser humano alcançou no Brasil um estágio evolutivo que, por incompreensível, pode ser superior ou o homem brasileiro parou de evoluir.
Josias de Souza
Podia dar os créditos para o blog do Josias.
Caro Mário, se vc ler até o final vai ver o nome do autor do texto. Abcs