Formada em gestão de recursos humanos, a jovem Elivania Franco, de 21 anos, trabalha como recepcionista por não conseguir um emprego na sua área. O motivo ela logo reconhece: é porque não sabe falar inglês. O caso de Elivania é apenas mais um que reflete o cenário brasileiro: o país tem um dos piores índices de proficiência em inglês do mundo, segundo pesquisa da escola EF Cursos no Exterior.
Além disso, apenas 5% da população sabe falar inglês, de acordo com levantamento feito pelo British Council. Em épocas pré-eventos esportivos, em que os olhos do mundo todo começam a se voltar cada vez mais para o Brasil, a falta de fluência na língua inglesa representa risco de perda de oportunidades, para profissionais e para as empresas.
— Participei de processos seletivos de grandes companhias e, em alguns casos, até levava vantagem em termos de conhecimentos técnicos, mas fui descartada porque não tinha o conhecimento da língua — conta Elivania.
— O inglês, hoje, é um elemento econômico, que te coloca numa posição diferenciada — diz Claudio Anjos, diretor de Exames do British Council no Brasil.
Para piorar, muitas vezes o brasileiro exagera em suas qualificações linguísticas no currículo. Um estudo do site Vagas.com feito com 37.389 candidatos em 12 estados mostrou que 51% informam ter inglês avançado ou fluente para escrita e leitura. Porém, destes, ficou provado, após teste de proficiência, que somente 36% podem ser considerados avançados ou fluentes.
E nem mesmo os funcionários de multinacionais se destacam quando o assunto é fluência na língua estrangeira. A GlobalEnglish, empresa especializada em fornecer soluções corporativas para o ensino de inglês, fez uma pesquisa com 108 mil empregados de multinacionais em 76 países. Os 13 mil brasileiros que responderam ao teste tiraram nota 2,95 (em um total de 10), deixando o país em 67º lugar.
— A maioria das empresas ainda não atentou para a importância de ter funcionários falando bem inglês — ressalta o diretor-geral da GlobalEnglish, José Ricardo Noronha.
Setores com maior exigência
Noronha lembra o caso de um gerente de multinacional que deixou de ser promovido a diretor na Europa porque não tinha o inglês afiado o suficiente.
— Acabaram promovendo outro com menos experiência — lembra o diretor.
Outro movimento que se torna recorrente é a contratação dos que falam melhor inglês e não os mais qualificados.
— Algumas empresas já não escolhem o mais capacitado e com mais experiência — comenta Marcelo Barros, diretor de educação da rede CNA.
Profissionais sem habilidades com o idioma correm mais riscos de perder posições nos segmentos de petróleo e gás, naval e industrial, de marketing, TI e finanças, de acordo com Jorge Martins, diretor da consultoria Robert Half.
Com previsão de ser concluída no fim de outubro, a pesquisa da EF Cursos no Exterior deste ano indica que houve uma queda no índice de proficiência em inglês em relação à 2010, ano da última pesquisa.
— A razão principal é a deficiência do ensino da língua inglesa no total da população. Há uma correlação direta entre a estrutura do ensino médio e a política educacional do país com os resultados baixos — explica Luciano Timm, diretor de marketing da EF.
A escola viu subir em 27%, no último ano, o número de jovens profissionais e de funcionários corporativos que procuraram um curso de inglês para fazer, o que mostra que tem gente que está correndo atrás.
— O inglês hoje não é mais um diferencial, é obrigatório. É uma deficiência histórica que hoje tem necessidade urgente de resolução — diz Timm.
O problema, também, é que o modelo brasileiro de ensino de inglês é baseado apenas na leitura, quando deveria levar em consideração também as habilidades de escuta, escrita e fala, conforme ressalta o British Council. A instituição, inclusive, firmou parceria com o governo federal para ensinar inglês aos participantes do programa de bolsas no exterior Ciência sem Fronteiras.
— O programa expôs essa realidade: a formação em língua estrangeira precisa ser revista porque isso reflete, também, na produção acadêmica brasileira — destaca Claudio Anjos, diretor de Exames e Educação do British Concil.
Alexander Vieira, diretor do Brasas, lembra que, à época da candidatura do Rio para receber as Olimpíadas de 2016, um dos fatores negativos apontados pelo Comitê Olímpico Brasileiro foi o baixo índice de pessoas com proficiência em inglês.
— Isso, sem dúvida, é bastante preocupante — afirma Vieira, que acha, porém, que, aos poucos, as empresas começam a acordar para a importância de se ter uma equipe fluente em inglês. — Um exemplo disso é que tivemos, no último ano, um incremento de 30% na procura por cursos in company.
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