Quase um terço das moradias brasileiras (31,1%) está em ruas sem qualquer pavimentação, de chão batido. Os dados, que deixam em evidência as más condições de infraestrutura urbana ainda existentes no Brasil, são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. Pela primeira vez o levantamento, que analisa os gastos das famílias, pesquisou informações sobre os domicílios e seu entorno.
Os números que apontam a situação precária de vida de muitos brasileiros não param por aí. Há proximidade das estradas de grande circulação em 31,8% dos domicílios e 7,2% das moradias não têm água canalizada. O esgoto a céu aberto ou valão, por sua vez, é uma realidade para 8,9% dos domicílios no país. Já 10,6% dos domicílios estão próximos de rio, baía, lago, açude ou represa poluídos.
Os problemas são ainda mais graves quando se observa a disparidade entre as regiões do país. Mais da maioria (52,6%) dos domicílios na Região Norte estão em ruas de terra, enquanto no Nordeste o índice chega a 46,1%. A única região com taxa baixa é a Sudeste, em que não há asfalto nas ruas de 16,9% das moradias.
— O fato de que quase 50% dos domicílios não têm acesso à urbanização no Norte e no Nordeste é extremamente preocupante porque isso dificulta a atração de pessoas qualificadas e o crescimento da economia — diz a professora de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Tatiane de Menezes, para quem a comparação do Norte com o Sudeste é “absurda”.
O resultado mais uma vez aponta a desigualdade entre as regiões:
— Saindo dos centros urbanos, a ausência de pavimentação é ainda maior. Essa realidade afeta fortemente o desenvolvimento humano e dificulta a circulação de riqueza e o crescimento — afirma o professor da Fundação Getulio Vargas Ricardo Teixeira.
Até mesmo no Sul o índice de moradias em ruas sem pavimentação é elevada, de 36,6%. Neste caso, o dado pode não ser necessariamente negativo, segundo Tatiane. Ela disse que há cidades do interior de Santa Catarina e Paraná que são desenvolvidas, mas guardam características do interior.
Coletiva seletiva de lixo restrita
Outro indicador negativo é o de coleta de lixo. No país, 80,7% do lixo são coletados diretamente. No Nordeste, o número cai para 65%, atingindo 51,1% no Maranhão. O melhor índice de coleta direta está em São Paulo, de 94,5%, enquanto no Sudeste, é de 88,7%.
— O saneamento e a coleta de lixo no Norte e no Nordeste têm padrões de países da África, en quanto no Sul e no Sudeste os padrões são europeus — diz Tatiane de Menezes.
Nem mesmo o esforço de separação do lixo em material biodegradável e não degradável tem sido aproveitado. No Brasil, 29,7% do lixo são separados, mas em apenas 40% desses casos esse lixo é coletado de forma seletiva, seja pelo poder público ou por outras formas, como catadores de lixo.
— As condições precárias dos domicílios e de acesso a trabalho, estradas e saneamento acabam dificultando as famílias. As desigualdades se mantêm, se não mudarmos as condições que geram a má distribuição de renda — disse o diretor da EPGE/FGV, Rubens Cysne.
As notícias mais positivas vêm do Sul. O técnico do IBGE José Mauro de Freitas Junior chamou a atenção para o fato de que, na região, 59,9% do lixo são separados e, desses, mais da metade (55,6%) têm coleta seletiva.
— No Paraná, a separação dentro das residências atinge 64,6% do lixo. Desse total, 60,5% são coletados de forma seletiva — afirmou o técnico do IBGE.
O IBGE também apurou que o aquecimento de água não está em todos os domicílios com água encanada. Somente 75,3% tinham fonte de aquecimento, seja elétrica, a lenha, a carvão ou solar. No Nordeste e no Norte, regiões mais quentes, 74,9% e 86% não têm água aquecida.
Fonte: O Globo
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