Está no Uol. Mais uma vez a crise da saúde do Rio Grande do Norte. Problema conhecido por todos nós está ganhando espaço na mídia nacional com frequência. Greves, falta de material médico, corredores lotados e paciente esperando atendimento, toda a calamidade da saúde é destaque na material de capa do portal.
Confira a reportagem na íntegra.
Corredores lotados de pacientes clamando por atendimento, falta de material médico e remédios. Esta é a realidade do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, o maior em urgência e emergência do Rio Grande do Norte, e que sintetiza em sua estrutura a calamidade na saúde pública pela qual passa o Estado, agravada nos últimos dias pela greve dos médicos cooperados que prestam serviço ao município.
Com o fechamento das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e AMEs (Atendimento dos Ambulatórios Médico Especializado), responsáveis pelo atendimento básico na saúde, a demanda destas unidades está seguindo para o Walfredo Gurgel, que sente em suas estruturas também o impacto da falta de atendimento nos outros hospitais do município cujos médicos estão em greve.
“Deveríamos cuidar apenas de casos graves, mas estamos recebendo aqui desde pacientes com unhas encravadas, ou outros problemas mais simples, até pessoas que estão necessitando de atendimento da mais alta complexidade. Nosso maior problema hoje é a ortopedia. Isso porque a Prefeitura de Natal é a responsável por contratar os serviços de cirurgias ortopédicas, mas como há uma dívida do município de milhões com a Coopmed, e os médicos desta cooperativa estão com os salários atrasados desde junho, há esse caos. O ideal é que tivéssemos também um outro hospital para traumas”, explicou a diretora-geral do Walfredo Gurgel, a médica cirurgiã Fátima Pereira.
Nesta quinta-feira (13), 209 pacientes foram atendidos na unidade. Um total de 61 passaram por cirurgia geral e outros cinco pelo setor de queimaduras. Nesta sexta-feira (14), 79 esperavam nos leitos e corredores por cirurgias ortopédicas.
Para a diretora, já é possível prever um fim de semana de caos, já que é a partir de sexta-feira que ocorre a maior procura por hospitais, em virtude de acidentes de trânsito e brigas. “Não há como fazer um plano para o fim de semana, se não estamos dando conta nem do que tem aqui. A capacidade de nosso hospital é de 261 vagas. Estamos com nossos cinco leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) lotados e todos os outros setores cheios também. O reflexo desta superlotação está nos corredores”, contou.
Só ontem, quando a reportagem do UOL esteve no hospital, 56 pacientes ocupavam macas pelos corredores. Entre eles, o pedreiro Adriano Barbosa, 31. Ele está há 15 dias no local depois de um acidente de trânsito em Parnamirim (a 15 quilômetros de Natal). Para dar “maior sustentação” à sua “cama”, os parentes de Adriano trouxeram de casa travesseiros, cobertores e uma caixa de papelão, que ergue a cabeça do paciente. “Chamamos esta área aqui de corredor da morte porque quando não morre alguém aqui, passa o corpo de quem acabou de morrer. Só na quinta, nas minhas contas, passaram seis corpos por aqui”, contou Barbosa. Dados oficiais do hospital mostram que morrem no Walfredo Gurgel de sete a oito pessoas diariamente.
Adriano explicou que precisa fazer muito barulho para ser ouvido e atendido no hospital. “Nós ficamos nos corredores sem receber nenhum medicamento. Eu estou tomando um remédio por conta própria. Temos que fazer barulho o tempo todo para enfrentar os problemas daqui. De vez em quando os funcionários passam com uns tambores de lixo encostando nas nossas macas. O banheiro é para homem e mulher. Não tem higiene alguma. O pior é que já recebemos o comunicado de que se fizermos mais barulho, vão chamar a polícia”, desabafou.
Perto da cama de Adriano está o agricultor Marcondes Paixão, 37, também esperando por atendimento ortopédico após ter se machucado em uma briga no município de Nova Cruz (a 80 quilômetros de Natal). “Cheguei aqui há 19 dias”, disse. Com o braço quebrado, o pescador José Hélio, 34, andava de um lado para o outro em um dos corredores, no início da tarde de sexta. Sua agonia era conseguir dinheiro para comprar medicamentos que, segundo ele, não há no hospital. “Estou há 31 dias aqui. A situação é vergonhosa, não há remédio, a alimentação é ruim”.
Funcionários
A superlotação no Walfredo Gurgel e todos os problemas decorrentes da greve está levando funcionários do hospital a pedirem exoneração. “Dois médicos vasculares assinaram o pedido, sei que há dois cardiologistas também querendo deixar a unidade e hoje soube pela imprensa de um ortopedista”, relatou a diretora.
Na quinta-feira (13), médicos revoltados com as condições de trabalho aproveitaram a visita de representantes do Creme-RN (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte) e do CEDH (Conselho Estadual de Direitos Humanos) e armaram um protesto pedindo soluções. Depois do que viram, membros do Conselho de Direitos Humanos avaliam comunicar à Corte Latinoamericana de Direitos Humanos a situação de caos na saúde pública do Rio Grande do Norte.
O pedreiro Adriano Barbosa, 31, está há 15 dias no hospital Walfredo Gurgel depois de um acidente de trânsito em Parnamirim (a 15 quilômetros de Natal). Para dar “maior sustentação” à sua “cama”, os parentes de Adriano trouxeram travesseiros, cobertores e uma caixa, que ergue sua cabeça
O cirurgião Edesio Macario estava na manhã desta sexta-feira como plantonista na traumatologia do Walfredo Gurgel e relatou o caos no hospital. “Sou funcionário público e cirurgião há 41 anos. Estou no Walfredo desde 1975 e já assumi diversas diretorias dentro deste hospital, mas nunca vi uma fase tão ruim como agora. O secretário de saúde do Estado [Isaú Gerino] já declarou por aí que há exagero por parte dos médicos, mas não é verdade. Não temos material para fazer nossos procedimentos. Pacientes não podem fazer hemodiálise, as seringas que temos aqui não têm qualidade. Combinamos uma reunião entre os médicos e a diretoria do hospital, na segunda à noite. Nossa intenção é expormos a real situação na qual estamos trabalhando. Queremos acabar com esta imagem de que estamos exagerando”, justificou.
Enquanto o médico relatava as dificuldades de trabalho, uma enfermeira passava avisando que não havia mais oxigênio.
Sem atendimento
Nas outras unidades de saúde do município, as portas estão fechadas ou recebendo pacientes “à conta gotas”. Na UPA de Pajuçara, por exemplo, um paciente que enfartava na manhã desta sexta-feira aguardava posicionamento se deveria ou não ser encaminhado para o Walfredo Gurgel. Além desta unidade, na sexta-feira, o atendimento também foi suspenso nas AMEs de Brasília Teimosa, Planalto e Nova Natal.
No Hospital da Mulher, o atendimento está reduzido, limitando-se aos 30% dos médicos, conforme a lei para greves. Assim como nesta e em outras unidades de saúde de Natal o que se vê são pacientes retornando sem atendimento ou corredores vazios. “Acho que todo mundo que está precisando de atendimento médico em Natal e nos municípios próximos está indo para o Walfredo Gurgel porque já sabe que se for para outro hospital não vai conseguir nada”, comentou a dona de casa Maria Lúcia Antunes, 42, enquanto procurava atendimento para o marido Antônio Carlos Antunes, 47, no Hospital dos Pescadores.
Dos 56 pacientes que aguardavam atendimento pelos corredores do Walfredo ontem, mais de 30 vieram de municípios próximos a Natal. “Há um problema na saúde pública em todo o Estado. E as ambulâncias que vêm com pacientes de outras cidades simplesmente não nos ligam para saber se temos vaga e ao chegarem deixam o paciente aqui na entrada do hospital e vão embora. Sem contar que estes mesmos pacientes recebem alta e ficam dias aqui à espera das ambulâncias para levá-los de volta. As unidades de saúde do interior sempre respondem que só poderão levar estes pacientes de volta quando estiverem com outro para trazerem”, contou a diretora do maior hospital do Rio Grande do Norte.
Falta de acordo
Depois de a secretária de Saúde de Natal, Maria do Perpétuo Socorro Nogueira Lima, ter apelado aos médicos cooperados para que usem o ‘bom senso’ e voltem ao trabalho, os profissionais vinculados à Coopmed decidiram, em assembleia na noite de quinta-feira (13), não aceitar a proposta da Secretaria Municipal de Saúde e lançaram uma contraproposta. Os médicos querem que os pagamentos referentes aos meses de junho e julho sejam feitos imediatamente. E que a remuneração referente ao mês de agosto seja paga no dia 15 de outubro.
Mesmo após a prefeitura já ter feito o pagamento de algumas parcelas da dívida com a cooperativa, ainda faltam R$ 4 milhões.
Não bastassem os problemas dentro dos hospitais, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) também é afetado pela paralisação na saúde. O serviço está reduzido por conta da greve dos enfermeiros e dos técnicos, que se iniciou no dia 30 de agosto.
A crise na saúde pública do Rio Grande do Norte vai levar os médicos para as ruas de Natal neste sábado (15). Eles farão um manifesto principalmente contra as precárias condições na pediatria. A concentração será no Pronto-Socorro Infantil Sandra Celeste, na avenida Jaguarari, às 9h. Do local, o grupo seguirá à pé até o Hospital Walfredo Gurgel.
Estado
O governo do Rio Grande do Norte informou que desde o dia 4 de julho vem tomando as providências necessárias para resolver os problemas da rede de urgência e emergência do Estado, o que inclui a reforma de hospitais e o chamamento de parceria público-privada destinada à construção do novo hospital de trauma de Natal.
O Estado informou ainda que realizou todos os repasses devidos à Cooperativa dos Médicos e que a atual situação de paralisação de algumas unidades de saúde em Natal diz respeito a serviços e pagamentos de responsabilidade da prefeitura, incluindo os do Samu.
Interessante que eles alegam desequilíbrio Econômico colocando culpa na integraçao e ainda demitindo os cobradores usando um funcionário para duas funcoes no caso os motoristas. Esses empresários so querem lucrar enquanto a população é a mais prejudicada
Isso é ridículo, no final da matéria eles falam de uma "ida à praia", e quanto ao deslocamento casa/trabalho, casa/faculdade… Eu não tenho uma opção única de ônibus quando o meu destino é casa/trabalho, sem contar que no retorno para casa, a demora dos ônibus é tão grande que há dias que não consigo realizar a integração, além de que a integração dentro desse tempo que foi determinado, não se pode com uma passagem pegar mais que dois ônibus, mesmo que sejam com destinos diferentes, pois eu já passei por situações em que foi necessário pegar três ônibus de linhas completamente distintas, e paguei DUAS passagens. Usar o argumento de "desequilíbrio econômico", sinceramente isso parece uma piada, a região em que o salário mínimo é um dos mais baixos e os impostos são altíssimos, os empresários dizerem "não ter condições de pagar a folha do pessoal", já não basta o desconforto que passamos quando esperamos mais de 30 minutos em um ponto de ônibus para no final pegar um transporte lotado ao extremo, isso quando o motorista resolve abrir a porta, pois quase todos os dias da semana, a segunda opção que preciso pegar (essa já seria a integração), quase sempre o motorista sequer abre a porta por não ter espaço no ônibus, isso se repete e só piora, e os empresários argumentarem não ter condição de pagar o pessoal, que país é este em que vivemos?
Quem vai sair prejudicado é o trabalhador que utiliza o cartao de passagem, pois vai sobrar mes e faltar passagem no cartao. Cade o MPE e o MPT?
Isso tudo são medidas para pressionar o aumento da tarifa novamente, mesmo um processo doloroso pra população que mais precisa, mas, tenho que admitir que a única solução é a saída dessas empresas que colocam o lucro à frente da quantidade do serviço, se não houvesse monopólio (ou diria cartel?) essas empresas já teriam falido, assim como são as mentes de seus administradores. Procurem outra forma de fazer receita com seus ônibus, grandes "outdoor's ambulantes" e deixem de explorar o povo de Natal.
Absurdo