Na edição deste domingo o Novo Jornal traz uma excelente matéria para eleitores potiguares, em especial os natalenses e principalmente para aqueles mais esquecidos. A reportagem de Dinarte Assunção explica como os candidatos que hoje se odeiam e fazem duras críticas durante o programa eleitoral, já estiveram juntos em algum momento recente. Em tempos de eleição a matéria parece leitura obrigatória:
Confira a reportagem na íntegra
UM DESAVISADO QUE chegue hoje a Natal e eventualmente se detenha a assistir a um ou dois programas eleitorais ficará intrigado com a babel de declarações e dedos em riste que os candidatos empunham uns contra os outros. “Que loucura é essa?” questionaria quem viu pelo menos um pouco da história recente da política local.
Para o bem ou para o mal a cidade parece ter poucos desavisados. Mesmo assim não custa lembrar que os principais protagonistas da eleição deste ano estiveram juntos em algum momento recente se confraternizando.
As relações de vai e vem até fazem lembra o poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade, que há muito escreveu que João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim…
Começando por quem está acirrando a disputa, Carlos Eduardo Alves (PDT) e Hermano Morais (PMDB) se chamam hoje de “capataz”, “cangaceiro”, “destemperado” e “desequilibrado”. Não muito tempo atrás, estiveram no mesmo partido, o PSB, e foram aliados, com Hermano líder do então prefeito na Câmara de Vereadores.
Ambos seguiram vida partidária divergente, mas nunca se atritaram. Carlos foi para o PDT; Hermano se aninhou no PMDB.
Em 2008, seguiam na mesma base aliada do então presidente Luis Inácio Lula da Silva e até pularam juntos aquele Carnaval no Burro Elétrico, com Hermano já na condição de potencial sucessor do então prefeito.
Do mesmo modo que, de surpresa, foi lançado candidato a prefeito de Natal em 2008 por Garibaldi Filho, Hermano foi igualmente destituído da disputa. E lá estavam ele e Carlos Eduardo pedindo votos juntos para a campanha derrotada de Fátima Bezerra. Em janeiro seguinte, o PMDB estava com Micarla.
O palanque de 2008 é especialmente digno de atenção, sendo ponto de convergência e dispersão. Nele, a composição de versos desta nova “Quadrilha” dá conta das paixões forjadas no hiato.
Naquele ano, Garibaldi se uniu a Wilma para apoiar Fátima, que escanteou Mineiro, candidato que venceu as prévias do PT para disputa. Para apoiar Fátima, Garibaldi desautorizou Hermano, que se juntou calado a Mineiro, que endossou Carlos Eduardo, que apoiava Fátima.
Como ninguém gosta de assumir paternidade de derrota, tão logo Fátima foi deixada para trás na vitória acachapante de Micarla de Sousa (PV), as paixões se dissolveram porque 2010 estava batendo à porta. Garibaldi pediu divórcio de Wilma e retomou o casamento com o DEM, fazendo Rosalba Ciarlini governadora, contra Iberê Ferreira e Wilma de Faria.
Divórcio como fim
Há hiatos que paixões políticas não unem. Alguns personagens da ciranda parecem decididos a considerar o outro como um leproso. O caso mais emblemático de amor e ódio é o de Carlos Eduardo Alves e Micarla de Sousa. Vice de Carlos em 2004, Micarla abandonou o barco quando foi tolhida dentro da administração. Do caso saiu a frase conhecida até hoje e atribuída a seu adversário: “vice é vice”.
Por motivo semelhante, Wilma de Faria e Rogério Marinho (PSDB) encerraram suas parcerias e nunca mais estiveram do mesmo lado. No período pré-eleitoral de 2008, os dois se digladiaram. De um lado, a vontade de Rogério de ser o candidato do PSB à Prefeitura do Natal; do outro, Wilma, resoluta em afirmar que o partido apoiaria Fátima Bezerra. O resto da história é conhecida: Rogério foi para o palanque de Micarla de Sousa, duramente criticada por ele hoje.
Antes disso, Rogério Marinho foi secretário de Carlos Eduardo Alves e seu líder na Câmara Municipal de Vereadores, lá pelos idos de 2005. Ao dizer agora que Natal está comparando o ruim com o péssimo, Rogério Marinho parece não se lembrar que ele mesmo deu sustentação às duas administrações.
Contra Carlos Eduardo, Fernando Mineiro tem sido mais comedido. Não se sabe se porque também deu apoio às suas gestões ou porque é lógico que em eventual segundo turno do qual não faça parte, o PT estará fechado com a candidatura do postulante que lidera a corrida eleitoral. De todo modo, Mineiro alfineta em seus programas televisivos dizendo que a cidade merece mais do que voltar ao passado.
Cirandar por que eu era e não sou mais
A reportagem procurou os quatro principais candidatos citados na matéria para ouvi-los sobre o que pensam a respeito da “Quadrilha”. Rogério Marinho defende sua postura e diz que a crítica feita a Carlos Eduardo é porque ele o conhece, em razão de ter convivido. “E por conhecer, eu sei que ele é uma pessoa difícil. Tem dificuldades, no processo de administração, de conviver com a crítica, de se relacionar com outras instituições”, diz.
O candidato do PSDB enfatiza ainda que seu principal adversário passou sete anos “marcando passo”. “Atuava em função das emergências. Justamente por conhecê-lo eu posso fazer essas críticas”, argumentou.
Rogério comenta ainda que sua atuação na defesa de Carlos Eduardo tempos atrás foi legítima. “Eu participei da administração porque ajudei a elegê-lo e saí depois. Uma coisa é você é errar, outra é continuar no erro. Acho difícil estar num palanque com ele porque ele pensa diferentemente de mim sobre instituições, liberdade de imprensa. Ele é incapaz de trabalhar em equipe”, disse.
Hermano Morais também não faz cerimônias ao relembrar que apoiou a gestão do candidato que hoje critica em seus programas eleitorais. Ele também faz citações semelhantes às de Rogério ao sublinhar que nos primeiros meses da gestão de Carlos Eduardo saiu e foi para oposição por não concordar com os modos administrativos do então prefeito.
“Eu estive sim com ele. Fui seu correligionário e defendi à época (2004) sua candidatura. Fui seu líder na Câmara, mas posteriormente divergimos no início de seu governo. Política é isso, discordamos da forma como ele conduzia o governo e preferi me afastar”, relembra.
O candidato do PMDB ressalta ainda que não foi uma escolha sua estar no palanque com Carlos Eduardo em 2008. “Ao final do governo, próximos das convenções, houve o entendimento, do qual eu não participei, de que o partido deveria seguir com Fátima Bezerra.
Isso terminou juntando. Eu me reencontrei com ele nessas circunstâncias”, disse Hermano, que desconversou quando indagado se poderia voltar a frequentar o mesmo metro quadrado político de Carlos Eduardo.
Fernando Mineiro também reafirma que participou da gestão de Carlos Eduardo. “Do meu ponto de vista ele fez um bom trabalho”, comentou. Ele lamenta, entretanto, que os programas eleitorais tenham abrigado a crítica pela crítica. “Não dá para ficar fazendo as pessoas de idiotas. Espaço eleitoral é para discutir propostas”.
Mineiro diz que seu discurso de “Natal merece mais do que votar ao passado”, não se dirige a Carlos Eduardo, que foi procurado, mas não retornou as chamadas até o fechamento da matéria.
O nome dele deveria ser Brazuca e o da bola, Gorduchinha…