“Eu comeria ela e o bebê, num tô nem aí”. A piada que tem levado Rafinha Bastos à bancarrota é tão grave e despudoradamente de mau gosto, mas semelhante a todas as outras atrocidades vociferadas em tom de anarquismo pelo rapaz que fez de seus aguçados sofismas um ícone reverenciado por uma plateia mediana, tão sem crivo analítico quanto o rapaz que dizem ter senso de humor.
Rafinha caiu porque mexeu com gente grande. O discurso de puni-lo porque ele incorreu em um sério preconceito é de tão mau gosto quanto a piada em si.
Antes de dizer que chegaria às vias de fato com Wanessa e seu filho, Rafinha deu entrevista na qual disse que as mulheres feias deveriam agradecer se fossem estupradas, porque seria um favor – e não o crime – a violação. O que houve a Rafinha por essa declaração? Nada.
Rafinha se tornou porta-voz dos segmentos que vivem do culto ao preconceito. A sua musculatura cerebral é comparável a de seus pares que, mais pomposamente, ocupam colunas e blogs para disseminar um ódio contumaz contra qualquer princípio verdadeiramente democrático. Vide a galeria que vai de Merval Pereira a Reinaldo de Azevedo, perpassando Ali Kamel, William Waack e Diogo Mainardi. (Pardón, quase esqueço Arnaldo Jabor).
Gilberto Maringoni, na Carta Maior, antecipou esse pensamento do qual compartilho e publicou um texto com esse mesmo viés. Apenas em um país como o Brasil, um cidadão defende a ditadura e há uma plateia para aplaudi-lo – foi um dos fulanos aí de cima.
Rafinha, assim, é produto midiático desses tempos em que novos valores são construídos na esteira da boçalidade; da vitória da preguiça sobre o talento; nesses tempos em que heroísmo se confunde com canalhice.
É curioso que Bastos seja defenestrado da Band sob o argumento de quem passou dos limites; que foi preconceituoso. A mesma emissora não puniu Boris Casoy quando ele, esquecendo que os microfones estavam ligados, humilhou os garis que encerraram uma edição de seu programa ao desejar feliz Ano Novo. Quem não se lembra do “Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades… do alto de suas vassouras”?
Rafinha deixa o “CQC” e a Band pelo bullying que fez no lado oposto da pirâmide. Marcos Buaiz, esposo de Wanessa Camargo, é influente empresário. O comediante do CQC tinha carta livre para xingar qualquer minoria, exceto a dos abastados.
A Band também pode aprender. A Cuatro Cabezas, emissora argentina detentora dos direitos do programa, ameaça não renovar o contrato de concessão diante da polêmica. Torcemos por esse desfecho.
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