Zezé Perrella e Wagner Pires de Sá — Foto: Bruno Haddad
Rebaixado pela primeira vez para a segunda divisão, o Cruzeiro enfrentará em 2020 um dos descensos mais difíceis da história moderna do futebol brasileiro. Ao mesmo tempo em que acumula dívidas, o clube mineiro terá de ajustar as suas contas com um faturamento consideravelmente mais baixo. Resultado da gastança e da irresponsabilidade que marcaram a administração de Wagner Pires de Sá, presidente, e Itair Machado, agora ex-vice-presidente de futebol.
A queda cruzeirense ocorre justo no momento em que o futebol brasileiro mudou de fórmula em relação aos direitos de transmissão. No passado, as cotas eram negociadas entre clubes e emissoras e tinham seus valores inteiramente garantidos durante o período do contrato.
A partir de 2019, o Brasil entrou em um modelo de distribuição semelhante ao das grandes ligas europeias. De todo o valor pago pelo Grupo Globo na primeira divisão, 40% são iguais para todos os competidores, 30% estão condicionados à quantidade de transmissões, e 30% são distribuídos de acordo com a colocação na tabela. Ainda há o pay-per-view, vinculado a uma pesquisa na base de assinantes.
A mudança na fórmula ocasionará a primeira consequência negativa para o Cruzeiro. Ficou estabelecido antes do início do Campeonato Brasileiro que, dentro dos 30% referentes à performance, rebaixados não teriam direito a nada. Se o Cruzeiro tivesse conseguido a 16ª colocação, receberia R$ 11,22 milhões neste mês de dezembro.
Se tivesse ficado na primeira divisão, o Cruzeiro receberia R$ 11 milhões da televisão por ter alcançado o 16º lugar. O dinheiro seria útil para pagar décimo terceiro salário, férias e pagamentos atrasados. Com o rebaixamento, não haverá repasse em dezembro de 2019.
Também por causa da alteração no modelo, a partir de 2020 o clube mineiro não poderá manter o contrato que possuía na primeira divisão. À diretoria caberá a seguinte decisão: ou o Cruzeiro opta por receber a cota fixa e igualitária da Série B, correspondente a cerca de R$ 8 milhões; ou decide receber os valores do pay-per-view, variáveis.
O blog simulou os valores recebidos pelo Cruzeiro, dentro do modelo 40-30-30, para chegar à diferença entre as cotas desta temporada e da próxima. No total, incluindo as televisões aberta e fechada e o pay-per-view, o clube recebeu cerca de R$ 70 milhões em 2019. Se ficar apenas com o pay-per-view previsto no contrato com a Globo, decisão mais provável, a cota ficará em torno de R$ 30 milhões em 2020.
A cota de televisão do Cruzeiro deverá ser reduzida de R$ 70 milhões para R$ 30 milhões, aproximadamente. Mas o cálculo piora. A maior parte da cota de 2020 foi antecipada por Wagner Pires de Sá e Itair Machado em 2018.
A redução em mais da metade seria problemática suficiente para um clube do porte do Cruzeiro. Mas a diretoria de Wagner Pires de Sá foi além. Na gastança em seu primeiro ano de administração, o atual presidente assinou a antecipação de recursos da televisão.
Por meio de operação financeira com o Polo, um fundo de investimento em direitos creditórios, o Cruzeiro antecipou em 2018 valores que seriam recebidos entre 2019 e 2022. No total, foram antecipados R$ 70 milhões. Esse dinheiro foi consumido em 2018. Dali em diante, a Globo passa a direcionar os pagamentos diretamente para o fundo de investimentos.
Antecipação feita por Wagner Pires de Sá, no Cruzeiro, com o fundo Polo — Foto: Reprodução
Considerados apenas os pagamentos previstos para 2020, foram antecipados R$ 20 milhões nesta operação. Isso fará com que o Cruzeiro, dos cerca de R$ 30 milhões a que terá direito por meio do pay-per-view, receba apenas R$ 10 milhões. Pela temporada inteira. Isso se não houver outras antecipações das quais o blog não recebeu documentos.
Dos cerca de R$ 30 milhões que o Cruzeiro deve receber em 2020 pelo pay-per-view, R$ 20 milhões serão consumidos pelo empréstimo feito pela diretoria celeste. O restante não é suficiente para pagar nem um mês de salários.
Se na televisão a receita cairá dos cerca de R$ 70 milhões no total para apenas R$ 10 milhões, em outras fontes de arrecadação as perdas são difíceis de mensurar por causa da falta de transparência.
O programa de sócios-torcedores cruzeirense, que já chegou a proporcionar mais dinheiro até do que a televisão, possui apenas 23 mil adimplentes, segundo Zezé Perrella. Com o rebaixamento para e as desconfianças que cercam os atuais dirigentes celestes, o desempenho do programa em 2020 será uma incógnita. O mesmo vale para bilheterias. Talvez não valha abrir o Mineirão para jogos da Série B. Nos patrocínios, a falta de credibilidade e o amadorismo atrapalham.
As dívidas passaram do meio bilhão registrado no ano passado e se aproximaram de R$ 700 milhões, também de acordo com Perrella. As despesas, descontroladas há muitos anos, precisarão ser drasticamente reduzidas. E as receitas cairão muito, prejudicadas ainda por antecipações. Ao torcedor restará apenas uma certeza: diante da irresponsabilidade de dirigentes, para tirar o Cruzeiro da Série B, novamente é do bolso dele, torcedor, que precisará sair a salvação.
Blog do Rodrigo Capelo – Globo Esporte
Na europa times de futebol quebram e fecham. Aqui vao inventar uma loteria, vao perdoar dividas fiscais, etc.