(dottedhippo/Getty Images)
Para levar a cabo a árdua missão de fazer uma limpa na órbita terrestre, tamanho não é documento. É o que motiva um grupo de pesquisadores do Instituto Politécnico Rensselaer, em Nova York, a criar um pequeno satélite robótico que promete ser de grande ajuda nesse desafio. Qualquer semelhança com Wall-E não é mera coincidência.
Na animação de 2008 produzida pela Pixar, uma Terra soterrada pelo lixo em 2100 é o lar do solitário e simpático robozinho, que passava seus dias rodando a superfície e cuidando dos dejetos que a humanidade deixou para trás antes de abandonar o planeta. No ritmo em que a poluição da órbita terrestre está se agravando, uma realidade distópica semelhante parece estar se construindo. Só que no espaço.
Segundo uma estimativa da Agência Espacial Europeia, há 128 milhões de minúsculos fragmentos menores que um centímetro e 34 mil objetos maiores que 10 centímetros perdidos em órbita. Pequeno ou grande, qualquer lixo espacial pode fazer estragos em espaçonaves, satélites ou estações espaciais: eles viajam a 28,2 mil quilômetros por hora.
Um fato preocupante é que a quantidade observada de detritos está crescendo mais depressa do que a taxa em que novos objetos são colocados no espaço. “Isso é um indicativo de que os estágios iniciais da Síndrome de Kessler podem estar acontecendo”, alerta Kurt Anderson, professor de engenharia em Rensselaer e líder do projeto. Esse cenário prevê um momento em que a órbita terrestre estará tão saturada de lixo que as colisões entre um pedaço e outro vão sair do controle. Será o início de uma reação em cadeia, de um efeito dominó que deixará a órbita baixa inutilizável.
Conforme a comunidade espacial ganha consciência sobre o problema e fica mais disposta a resolvê-lo, especialistas no mundo todo estão atrás de soluções para tornar sustentáveis os lançamentos de foguetes e operações espaciais. Isso inclui satélites capazes de “se matar” na atmosfera terrestre antes de perderem completamente a função, e também sondas que atuem como garis celestiais e limpem os detritos que já estão lá em cima. É justamente isso que o OSCaR promete fazer.
Batizado com a sigla em inglês para Captura e Remoção de Espaçonaves Obsoletas, o projeto de baixo custo criado por Anderson e seus alunos consiste em três cubos de 10 centímetros grudados um no outro. É o chamado cubesat do tipo 3U (três unidades), com cada uma desempenhando funções distintas e vitais.
No módulo do “cérebro” ficam o GPS para a navegação, o armazenamento de dados, comunicação, além dos sistemas térmicos e elétricos. Em outro está o propelente e o sistema propulsor para movimentar o pequeno gari. E, por último, mas de forma alguma menos importante, o terceiro cubo contém o aparato necessário para a captura dos detritos.
Além de quatro redes e cabos para apanhar quatro pedaços de lixo espacial, há também sensores de radar para que o OSCaR localize seus alvos na vastidão do espaço. Quase todo o processo ocorre autonomamente, com os controladores tendo de se envolver muito pouco. Depois de cinco anos em missão, o cubesat arrasta a si próprio e aos resíduos capturados atmosfera adentro, destruindo-os por completo.
Anderson e seus alunos estão aperfeiçoando os algoritmos para testar o dispositivo primeiro em terra firme, ainda este ano, e futuramente no espaço. As expectativas são grandes. “Nós imaginamos um dia em que poderemos mandar lá para o alto toda uma frota, um esquadrão de OSCaRs para irem juntos atrás de grandes amontoados de lixo”, diz o professor. Pelo menos, o trabalho do Wall-E dos nossos tempos não será tão solitário quanto o do desenho.
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