O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), assinou meia dúzia de contratos com a Delta Construções. Dos seis, quatro foram celebrados sem licitação. Ligada à quadrilha de Carlinhos Cachoeira, a empreiteira realiza o serviço de coleta de lixo na capital do Tocantins. Juntos, os contratos somam 119 milhões.
Veiculada pelos repórteres Fábio Fabrini e Alana Rizzo, a notícia chega depois que vieram à luzvídeos com cenas de encontros de Cachoeira com o prefeito petista e um preposto dele. As cenas são de 2004, ano em que Raul Filho disputou a vitoriosa campanha para o seu primeiro mandato na prefeitura.
Num dos vídeos, Cachoeira ofereceu-se para custear um showmício do petista. Noutro, prometeu borrifar R$ 150 mil nas arcas eleitorais de Raul Filho. Em troca, o futuro prefeito acenou com negócios em sua administração: “Lá é tudo mesmo na base do arranjo, sabe? Palmas tem uma série de oportunidades a ser exploradas…”
Em entrevista, o prefeito admitiu que o contraventor bancou um show do cantor Amado Batista. Reconheceu também o recebimento de dinheiro. Sem mencionar cifras, disse que a verba foi ao caixa do seu comitê. A doação foi legal? No dizer do prefeito, a tesouraria da campanha “deve ter declarado este dinheiro em sua prestação de contas.”
A afirmação não faz nexo com o que disse a Cachoeira, em 2004, o amigo Sílvio Roberto, que aparece num dos vídeos gravados por Cachoeira acertando os detalhes do repasse dos R$ 150 mil. Preposto do candidato, ele diz na fita: “Lá é o seguinte, sabe o que fazer? Passo para o Alexandre [auxiliar de Cachoeira] um fax de umas cinco contas pulverizadas, que não têm nada a ver com campanha. Chega lá, amanhã, não tem problema nenhum.”
O primeiro contrato da prefeitura de Palmas com a Delta foi firmado em 2006. Coisa de R$ 14 milhões de acordo com o Ministério Público. Depois, sob o pretexto de que a quantidade de lixo recolhida na cidade era maior, a cifra foi vitaminada em R$ 3 milhões.
O Tribunal de Contas do Estado do Tocantins farejou ilegalidades. Os preços não batiam e as medições, por inexatas, elevaram o faturamento da Delta em 107%. Nas pegadas dessa decisão, a prefeitura celebrou quatro contratos sem licitação. Deu-se entre 2007 e 2009. Coisa de R$ 30,1 milhões.
Na sequência, a Delta prevaleceu numa licitação e continuou realizando a coleta de lixo. O valor desse último contrato é R$ 71,9 milhões. Desse total, R$ 26,8 milhões já desceram à caixa registradora da empresa que a Polícia Federal afirma ter Cachoeira como “sócio oculto.”
Não é só: conforme já noticiado aqui, em 28 de maio a Justiça Federal do Tocantins acatou denúncia do Ministério Público Federal contra Carlos Roberto Pacheco, ex-diretor da Delta. Tornou-se réu num processo em que é acusado de utilizar documentos falsos para obter uma “certidão de acervo técnico” do Crea.
Com essa certidão, a Delta habilitou-se em licitações vencidas em várias cidades. Entre elas a que resultou na contratação para o recolhimento de lixo em Palmas. Carlos Pacheco responde à ação penal em liberdade. Mas teve confiscado o passaporte e comparece periodicamente perante o juiz.
O prefeito Raul Filho será convocado a depor na CPI do Cachoeira. Nesta segunda (3), três legendas requeram a inquirição: PPS, PSDB e PSD. O relator Odair Cunha (PT-MG) declarou-se favorável à ida do companheiro à comissão.
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