Desafeto número um de José Serra, Ciro Gomes avalia que o tucano é franco favorito na disputa pela prefeitura de São Paulo. Acha que, considerando-se a inexperiência dos adversários, Serra pode prevalecer ainda no primeiro turno.
Ciro expôs a opinião num encontro reservado da caciquia do seu partido, o PSB. Na véspera da reunião que manteve com Lula, no domingo, Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB federal, voou para Fortaleza.
Acompanhado de Márcio França, presidente do PSB no Estado de São Paulo, Eduardo reuniu-se com Ciro e com o irmão dele, o governador cearense Cid Gomes. Iniciada num almoço, a troca de idéias se estendeu pela tarde.
Espremendo-se a conversa, chega-se ao seguinte sumo: do ponto de vista estritamente partidário, o apoio do PSB ao petista Fernado Haddad, rival de Serra na disputa paulistana, é desinteressante.
Se vier a ser formalizado, o acordo com Haddad será creditado à deferência de Eduardo com Lula. Afora a amizade, deve a ele a fatura dos vultosos investimentos federais feitos em Pernambuco durante sua passagem pela Presidência.
Para desassossego do PT, que ainda não conseguiu por em pé uma coligação partidária para Haddad, Eduardo a São Bernardo do Campo, nas pegadas do encontro de Fortaleza, decidido a ganhar tempo.
Levou para a cobertura onde Lula reside uma lista de contrapartidas. Em troca do apoio a Haddad, o PSB cobra a generosidade do PT noutras praças. Entre elas duas cidades de porte médio –Campinas (SP) e Duque de Caxias (RJ).
Entre elas também três capitais: Macapá (AP), João Pessoa (PB) e Mossoró (RN). Enfiaram-se na lista, de resto, dois abacaxis que o PT tem dificuldades de descascar. Um é servido a Cid, em Fortaleza. Outro, a Eduardo, no Recife.
Na capital cearense, a prefeita petista Luizianne Lins conduz a própria sucessão de costas para os irmãos Gomes. Ela empina a candidatura do petê Elmano Freitas, secretário de Educação do município. Eles desejam outro petê: Nelson Martins, secretário de Desenvolvimento Agrário do governo Cid.
Na capital pernambucana, o prefeito João da Costa, do PT, dono de elevada taxa de rejeição, lança-se à reeleição. Eduardo prefere seu secretário de governo, Maurício Rands, seu secretário de governo. Se der João, o mandachuva do PSB ameaça inclusive romper a aliança que o une ao petismo no Recife.
Com a saúde intacta, Lula teria dificuldades para entregar a mercadoria encomendada pelo PSB. Operando desde o estaleiro, os obstáculos como que se potencializam. De todo modo, abriu-se um duto para tentar fazer fluir a negociação.
Pelo lado do PSB, vai operar em nome de Eduardo o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, que participou da conversa com Lula. Também presente, Rui Falcão, o presidente do PT, indicou como interlocutor Paulo Frateschi, secretário de organização do partido.
O PSB planeja cozinhar o galo, como se diz, até junho, o mês das convenções partidárias. Ainda que desatendido em suas reivindicações, Eduardo terá dificuldades de dizer ‘não’ a um apelo de Lula.
Não ignora, porém, o tamanho do enrosco em que pode se meter. Hoje, se fosse convocado a deliberar, o diretório do PSB no município de São Paulo fecharia com Serra. Márcio França, o presidente estadual da agremiação, é secretário de Turismo do governo tucano de Geraldo Alckmin.
Quer dizer: para enfiar o seu partido dentro da coligação petista, Eduardo terá de atravessar Haddad na traquéia dos seus partidários. Dispõe de instrumentos, já que o diretório nacional precisa referendar as alianças feitas em cidades com mais de 200 mil habitantes. Mas terá de abrir a caixa de ferramentas.
Uma aliança com Serra soaria como afronta a Lula. Eduardo não parece disposto a patrocinar a ousadia. Mas mantém aberta, ainda que como mera cogitação, uma janela para a terceira via. Nessa hipótese, o PSB refugaria Serra, mas evitaria fechar com Haddad.
O partido optaria por um nome alternativo. Das opções presentes no tabuleiro, a que oferece melhores condições para que o PSB componha uma chapa de vereadores é a candidatura de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, do PDT.
Em meio à encrenca, o que mais chama a atenção é a avaliação de Ciro sobre favoritismo de Serra. Sua análise contrasta com a do próprio candidato tucano. Em privado, Serra exala cautela.
Escaldado com o ‘efeito Lula’, que vitaminou Dilma Rousseff na sucessão presidencial de 2010, Serra alerta seus apoiadores para a necessidade de não subestimar Haddad. Afora a força do patrono, enxerga qualidades no antagonista.
Ciro, ao contrário, fala como se já enxergasse Serra na cadeira de prefeito. Acha que a disputa, apinhada de candidatos novatos, o favorece. Considerando-se a aversão que nutre por Serra, Ciro pode ser acusado de tudo, menos de ser generoso com o “coiso”, como costuma se referir ao ex-companheiro de tucanato.
Fonte: Josias de Souza
Comente aqui