Isaac Lira para Tribuna do Norte:
Representantes do Conselho Federal de Medicina e da Federação Nacional de Médicos se reuniram ontem pela manhã com a governadora do RN, Rosalba Ciarlini, para discutir a crise pela qual passa o sistema de saúde do Estado. Contudo, não houve acordo. O Conselho Federal de Medicina irá denunciar o Governo do Estado à organizações internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos, e pedir uma intervenção federal na saúde do Estado. Rosalba Ciarlini não aceita a intervenção e afirma já existir uma parceria entre o Governo do Estado e o Governo Federal, o que, segundo ela, torna a intervenção “desnecessária”.
Como anunciado na última segunda-feira, o Conselho de Medicina irá denunciar o Governo do Estado por desrespeitar os direitos humanos no Hospital Walfredo Gurgel, maior unidade de saúde do RN. Ontem, Aloísio Tibiriçá, segundo vice-presidente do CFM, e José Morisseti, representante da Fenam, visitaram o Walfredo Gurgel no intuito de colher imagens e informações que irão fundamentar o pedido de intervenção e a denúncia na Corte Interamericana. Lá puderam presenciar pacientes alojados em macas no chão, falta de materiais hospitalares importantes, como respiradores e tubos de oxigênio e uma fila de 91 pacientes à espera de cirurgias ortopédicas.
Após a visita ao Hospital Walfredo Gurgel, os representantes se reuniram com a governadora Rosalba Ciarlini. Foi uma reunião tensa, com uma discussão marcada pelo tom áspero das duas partes. Aloísio Tibiriçá e José Morisseti defenderam com veemência a necessidade de uma intervenção federal no Rio Grande do Norte. Para isso, tomaram como base “a questão orçamentária e a incompetência administrativa”. Em outras palavras, as entidades médicas acreditam que o Ministério da Saúde, por ter participação efetiva em boa parte do financiamento do sistema estadual, precisa gerir a Secretaria de Saúde, “já que o governo tem dado sinais de que não consegue lidar sozinho com a situação”, disse Aloísio Tibiriçá.
Ao ouvir a cobrança, que foi feita de forma incisiva, a governadora Rosalba Ciarlini retrucou: “Meu amigo, você tem alguma fórmula para fazer milagre e resolver em uma semana? Se tiver, eu anoto”. O clima continuou pesado quando o representante da Fenam, José Morisseti, avisou que seria confeccionado um relatório acerca das violações de direitos humanos no Hospital Walfredo Gurgel. Rosalba Ciarlini pediu para que o relatório fosse entregue ao governo. Morisseti retrucou: “Nós não vamos entregar relatório nenhum. Nós vamos denunciar o governo”.
Dentre os inúmeros pontos debatidos, o embate entre as partes se mostrou acirrado ao se falar sobre as supostas violações de direitos humanos, a greve dos médicos em curso no RN e os resultados alcançados com o decreto de calamidade pública, que data de mais de dois meses atrás.
“Colocar ponto eletrônico não é ser contra médico”
Após a reunião com representantes do Conselho Federal de Medicina e da Federação Nacional dos Médicos, a governadora Rosalba Ciarlini falou com a TRIBUNA DO NORTE. De pronto, rechaçou qualquer possibilidade de o Governo do Estado requisitar intervenção do Governo Federal. A governadora considera “desnecessário”. “Quando decretamos estado de calamidade, já incluímos a parceria com o Ministério da Saúde. Estamos em constante diálogo”, disse.
Além disso, Rosalba anunciou novas medidas, como a liberação de parte de um empréstimo junto ao Banco Mundial para realizar um projeto-piloto de reforma gerencial no setor de saúde. O projeto será tocado pelo professor Vicente Falconi, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), responsável pelas reformas gerenciais dos estados de Minas Gerais e Pernambuco.
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