A visita de representantes do Conselho Regional de Medicina (Cremern) ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) na manhã de ontem foi mal vista pelo titular da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), Isaú Gerino. Segundo ele, todo o caos registrado ontem no interior do maior hospital do Estado não passa de “uma montagem” e o “exagero” seria a melhor palavra para definir a atuação do Cremern nas instalações. “Chamo aquilo de terrorismo. Aquela situação denigre a imagem dos médicos que estão por trás e leva a população a acreditar que realmente a situação está incontrolável”, alegou Gerino, por telefone à reportagem da TRIBUNA DO NORTE.
Por volta das 10 horas da manhã de ontem, o presidente do Cremern, Jeancarlo Cavalcante, chegou ao Walfredo Gurgel em companhia do presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, Marcos Dionísio Caldas, para iniciar a visita que visava constatar a situação “caótica” em que se encontraria a unidade hospitalar de regência estadual. Uma comitiva de 10 pessoas, sem contar com toda a imprensa presente na apuração do acontecimento, caminhou pelo interior do hospital – que estava com 92 pacientes internados pelos corredores – e entrou nos centros cirúrgicos, UTI’s e no setor de Politrauma, onde vários doentes se encontravam em estado grave de internamento.
Pelos corredores, era possível ver pacientes em macas baixas, ao nível do chão, ou mesmo em colchões improvisados pela falta de macas. Alguns usavam tampas de lixeiras para acomodar os travesseiros na cabeça. “Aqui tudo é no improviso. Não temos condições de permanecer assim”, disse a enfermeira Ruiara Pinheiro. Com o setor de emergência clínica fechado, o setor de Politrauma abriga pacientes que fazem uso dos monitores de registro de batimentos cardíacos de forma compartilhada, o que, segundo enfermeiros, não adianta em nada para compreender a situação dos pacientes. Nesse mesmo setor, um homem agonizava de tanta dor pela falta de medicamentos apropriados para o alívio.
A diretora da unidade hospitalar, Fátima Pinheiro, informou que da última sexta-feira até a segunda-feira, dia 10 de agosto, 26 óbitos haviam sido registrados no hospital, mas não confirmava que essas mortes tinham relação com a precariedade no atendimento. “Estamos atendendo o melhor que podemos. Já se passaram dois meses desde a implantação do Plano de Enfrentamento à Urgência e Emergência no Estado. Com mais um mês, acredito que tenhamos resultados. É nessa confiança que eu permaneço na direção do hospital”, informou, de forma positiva, Fátima Pinheiro.
O acúmulo de pacientes que aguardavam cirurgias ortopédicas aumentou desde a última segunda-feira, quando haviam 87 pessoas aguardando a cirurgia. Até a manhã de ontem, 92 pessoas aguardavam pela operação, entre esse número algumas crianças que estavam no setor pediátrico. “Sem remédios para dor e com a demora para atender, principalmente às crianças, a conseqüência serão as sequelas para toda a vida”, afirmou Jeancarlo Cavalcante.
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