O governo dispensou à Delta um tratamento de gato. Apostou no destino da empreiteira e ainda deu sete vidas de vantagem. De repente, o Cachoeiragate converteu a campeã de obras do PAC em águas passadas. E o governo começa a se dar conta de que deu com os burros do contribuinte n’água.
Há quatro dias, a Delta protocolou na Justiça do Rio um pedido de concordata, agora rebatizado de ‘pedido de recuperação judicial’. Se for deferido, a dívida da empresa será escalonada e os credores irão à fila. Entrando dinheiro, aciona-se o conta-gotas. Do contrário, as faturas vão às calendas.
O contribuinte brasileiro encontra-se acomodado nas duas pontas. É no Tesouro Nacional que está instalado o principal guichê de pagamentos à Delta. O BNDES é uma das mais vistosas logomarcas da fila de credores.
Numa conta que inclui linhas de crédito do Finame (financiamento à aquisição ou fabricação de máquinas e equipamentos), somam R$ 160,3 milhões as dívidas da Delta com o bom e velho BNDES. Há empréstimos com vencimentos até 2020.
Apenas no período de 2010 a 2012, período em que a Polícia Federal já varejava a quadrilha de Carlinhos Cachoeira, a empresa do doutor Fernando Cavendish beliscou no BNDES R$ 139 milhões. Desse total, R$ 119 milhões foram providos sob Dilma Rousseff.
Com água pelo nariz, a Delta já começa a rebarbar até seus compromissos trabalhistas. Os cerca de 800 funcionários demitidos em maio das obras do Complexo Petroquímico do Rio queixam-se de que ainda não receberam o dinheiro da rescisão. Estão impedidos de acessar o FGTS.
A despeito disso, o fluxo de pagamentos do governo federal à empreiteira continua a fluir. Apenas neste ano da graça de 2012, a Delta recebeu do governo federal R$ 240 milhões. Em maio, mês em que a CPI quebrou o sigilo das contas da matriz da empreiteira, o Tesouro borrifou na caixa registradora da Delta R$ 55,2 milhões.
Tudo isso num instante em que já ficou claro que o gato, aquele que se imaginava dono de sete vidas, subiu no telhado.
Ótimo texto, como diz o velho ditado, o pior cego é aquele que não quer ver…