(Elisa Riemer/CLAUDIA)
Em 1949, a filósofa Simone de Beauvoir escreveu em Segundo Sexo, obra que se tornaria referência para os movimentos feministas: “Na cama, a mulher aguarda o desejo do homem, espera, por vezes ansiosamente, seu próprio prazer”. Naquele momento, as mulheres lutavam pelo direito de trabalhar e, nas décadas seguintes, com a pílula anticoncepcional, ganharam mais autonomia para planejar a gravidez.
Hoje, não esperam mais pelo próprio prazer e guiam, elas mesmas, essa busca. Com a reinvenção do feminismo, na última década, estimulado pela discussão de ideias nas mídias sociais, uma nova geração de mulheres adentra a vida adulta com outras perspectivas sobre a sexualidade – mais centradas nelas e menos preocupadas em atender a convenções ultrapassadas.
Concentradas na faixa dos 20 aos 40 anos, se insurgem contra a violência nas relações, o descaso e a ignorância sobre o que lhes dá prazer. Além de poder decidir, elas querem gozar. Há um deslocamento sobre a percepção da sexualidade, que passa a incluir as mulheres no papel de protagonistas e tem o consenso como base na hora do sexo. Assim, não seria exagero afirmar que elas abrem frente para uma nova revolução sexual.
“Ainda que nas décadas passadas tenha se iniciado uma revisão comportamental, a grande mudança aconteceu nos últimos anos. A mulher não se expressava. Agora se permite fazer escolhas sem tanta culpa nem estereótipos”, afirma Heloísa Buarque de Hollanda, professora aposentada de sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro Explosão Feminista: Arte, Cultura, Política e Universidade (Companhia das Letras).
Se antes as conversas sobre sexualidade feminina ficavam confinadas a grupos de amigas, com o que a socióloga chama de a “explosão” elas passaram a compartilhar experiências via redes sociais. Essa ampliação permite que o debate vá, pouco a pouco, atingindo diferentes perfis e gerações de mulheres.
“Hoje, até a mãe de família mais recatada tem acesso à internet, e sua cabeça já começa a mudar ao ter contato com as filhas, que vivem este momento”, explica Heloísa. Nesse espaço recente, por vezes, elas percebem que não são as únicas a enfrentar certas situações e a estar insatisfeitas com suas experiências sexuais. Ao mesmo tempo, trocam vivências positivas.
Após um relacionamento que não lhe trazia nenhum prazer e a deixava insegura para explorar o próprio corpo, a carioca Roberta publicou um pedido de ajuda em um grupo de Facebook que reúne mulheres de todo o Brasil. Conforme descrevia no post de 2016, Roberta não conseguia ter orgasmos e cada relação sexual era um fiasco.
“Na época, eu tinha um namorado que rechaçava masturbação feminina, sentia nojo de sexo oral feminino e não se importava com meu prazer”, conta a jovem de 24 anos, estudante de pedagogia.
No entanto, suas questões eram ainda mais complicadas, remontando à infância – aos 8 anos, havia sido estuprada por um primo; aos 14, a relação que entendia como a do fim de sua virgindade também acontecera à força. Dali em diante, todas as suas experiências sexuais a lembravam das violências.
O contato com outras mulheres, ao vivo e virtualmente, fez com que despertasse para o impacto dessas vivências em sua sexualidade e a repensar a forma como a conduzia. “Passei a me masturbar, encontrei prazer no sexo ao me relacionar com homens com pensamentos mais abertos e me assumi bissexual. Agora, sou muito mais plena”, afirma. O nome dela e o de outras mulheres que compartilharam suas experiências com a reportagem foram trocados para preservar a privacidade delas.
A geração de Roberta admite a possibilidade de experimentar diferentes práticas sexuais e de não se limitar a identidades de gênero e orientação sexual predefinidas. “Surge a noção de sexualidade fluida, mais aberta à diversidade e mais livre de tantos estereótipos sobre o que é sexo”, aponta Carolina Ambrogini, coordenadora do Projeto Afrodite, que orienta mulheres sobre sexualidade e está instalado no Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Romper com os estereótipos implica novas formatações para relações sexuais – isto é, foge ao protocolo que entende sexo apenas sob o ponto de vista das relações heterossexuais e da penetração – e para os papéis de gênero desempenhados. Em busca de parceiros que façam sentido, os nativos digitais usam ainda a tecnologia, o que inclui tanto os aplicativos de relacionamento quanto o envio e recebimento de sexts (termo em inglês para as mensagens e fotos de cunho sexual, mais populares entre os jovens).
Ninfomaníaca, é isto que as mulheres precisam ser, igual aos homens, que buscam o seu prazer sexual a qualquer custo, não importa como, com quem ou com o que, o importante é sentir prazer. Essa coisa de que não pode isso não pode aquilo é passado, na visão destas feministas.
É claro! Sempre! O homem é objeto de prazer para ser muito usado por mulheres.