Para quem sofre com a queda de cabelo, pensar em arrancar um fio sequer pode soar aterrorizante. Mas é exatamente esse o método para reverter a calvície proposto por um grupo de pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, num estudo publicado na “Cell”, uma das principais revistas científicas do mundo. Eles demonstraram que, ao arrancar 200 fios de cabelo de um padrão específico, outros 1.200 fios cresceram
A regeneração não ficou restrita à área afetada, mas se espalhou por regiões vizinhas do couro cabeludo, aumentando o volume de cabelo. Na verdade, de pelos, porque o experimento foi realizado em camundongos. Embora a pesquisa ainda esteja num estágio inicial, o autor principal do estudo, Cheng-Ming Chuong, pesquisador-chefe do departamento de células-tronco da universidade, acredita que ela pode levar a uma terapia eficiente contra a calvície.
— O trabalho abre as portas a potenciais novos alvos para o tratamento da alopécia, uma forma de queda de cabelo — afirma.
Durante o experimento, os cientistas retiraram os 200 fios, um por um, das costas do camundongo. Quando a área circular da retirada era maior que seis milímetros, nada acontecia. Mas se a retirada se limitasse a uma área de três a cinco milímetros, ocorria a regeneração de 450 a 1.300 fios.
ESTÍMULO MANUAL DE ÁREA AFETADA
Se para leigos o método parece extremo, para a dermatologista Denise Steiner, coordenadora científica da Sociedade Brasileira de Dermatologia, ele faz sentido e, inclusive, tem uma abordagem similar ao que já é feito hoje.
— Trata-se de um estímulo manual para gerar uma resposta na área atingida. Na clínica, usamos métodos que não são iguais, mas que têm uma proposta semelhante. Por exemplo, o microagulhamento e a radiofrequência são técnicas já usadas — explicou Denise. — A linha de pesquisa é interessante, mas ainda precisa de muito aperfeiçoamento.
Através de análises moleculares, a equipe de pesquisadores americanos mostrou que os folículos arrancados dos camundongos geraram um “sinal de socorro”, liberando proteínas inflamatórias, que recrutaram células do sistema imunológico para o local da lesão. Essas células, por sua vez, secretam moléculas de sinalização — por exemplo o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) — que, a determinadas concentrações, se comunicam com os folículos, tanto de áreas afetadas como preservadas, e estimulam o crescimento dos fios.
O trabalho não tem previsão de ser testado em humanos. Enquanto isto, estudos vêm sendo realizados, mas, segundo Denise, a maioria em fase inicial. Portanto, ela não espera ver resultados promissores ainda nesta década. Hoje há tratamentos, mas nenhuma fórmula que agregue alta eficácia sem efeitos colaterais. A dermatologista explica que a dificuldade de desenvolvê-la ocorre porque cientistas ainda não desvendaram o mecanismo que provoca a calvície.
Durante o último Congresso Americano de Dermatologia, em março, na Califórnia, algumas linhas de pesquisa foram apresentadas.
— Falou-se numa substância que era estudada para tratar a asma e a rinite e que tem apresentado bons resultados no tratamento da calvície — conta Denise, citando ainda estudos com base na engenharia de tecidos, que é a regeneração ou a criação de tecidos ou órgãos a partir do cultivo de células, e nas células-tronco.
A dermatologista fez um alerta:
— Um estudo interessante mostrou que a creatina, suplemento popular em academias, pode piorar a calvície, porque ela aumenta o hormônio di-hidro-testosterona (DHT), responsável pelo afinamento dos fios.
O Globo
Comente aqui