Diversos

Anúncio de sinal de vida em Vênus é ‘imprudente’ e ‘precipitado’, diz astrofísica brasileira associada à Nasa

Astrofísica brasileira Duilia Fernandes de Mello pede cautela pede cautela na divulgação de gás que poderia indicar a presença de micróbios na atmosfera de Vênus — Foto: Duilia de Mello/ BBC

Março de 2014: cientistas chocam o planeta com o anúncio da detecção de ondas gravitacionais descritas como “ecos” do Big Bang, em uma descoberta retratada como das mais importantes da história sobre as origens do universo. O anúncio é destaque nas principais revistas científicas e especialistas dão o prêmio Nobel como certo para a equipe de astrônomos.

Janeiro de 2015: os mesmos cientistas voltam atrás, pedem desculpas à comunidade científica, e afirmam que o que haviam descrito como reflexo da megaexplosão que aconteceu há 14 bilhões de anos era na verdade uma interpretação equivocada. As ondas atribuídas ao Big Bang eram, na verdade, sinais emitidos pela poeira que se espalha pela Via Láctea. A descoberta virava pó.

Foto: NASA / JPL-Caltech

Cinco anos depois, na segunda-feira (14), veio o anúncio da descoberta de um gás que, apesar de várias ressalvas apontadas pelos próprios cientistas, pode indicar a presença de micróbios na atmosfera de Vênus. Divulgada pela revista “Nature Astronomy” e pela Sociedade Astronômica Real, de Londres, a descoberta causou euforia e foi vista, por muitos, como o indício mais forte de vida extraterrestre já anunciado pela ciência.

Explica-se: no planeta Terra, as mesmas moléculas de fosfina identificadas pelo estudo em Vênus só existem na natureza como fruto da ação de seres microscópicos que vivem nas entranhas dos animais e em ambientes pobres em oxigênio, como pântanos.

Como não há outra explicação para a presença natural de fosfina além da atuação destes micróbios, a descoberta poderia ser um sinal concreto de vida na atmosfera venusiana. Mas cientistas importantes como a astrofísica brasileira Duilia Fernandes de Mello, vice-reitora da Universidade Católica de Washington e pesquisadora junto à Nasa há 18 anos, pedem cautela.

“As pessoas, às vezes, na ansiedade de mostrar resultados, acabam cometendo erros”, diz a professora em entrevista à BBC News Brasil.

Na avaliação da brasileira, responsável pela descoberta da supernova SN1997 (supernovas são as megaexplosões que ocorrem no fim do ciclo de uma estrela) e participante da equipe que identificou as chamadas “bolhas azuis” (aglomerados estrelares detectados pelo famoso telescópio Hubble), o anúncio sobre Vênus é “imprudente”, carece de “confirmação” e pode ser fruto de uma “coincidência”.

“Estamos em uma fase muito complicada da ciência, com as pessoas negando a ciência. Então é preciso ser muito cuidadoso.”

Coincidência?

Liderada por astrônomos da Universidade de Cardiff, no País de Gales, em parceria com outros cientistas no Reino Unido, nos EUA e no Japão, a pesquisa identificou a presença de moléculas de fosfina em Vênus por meio de ondas de rádio pelo telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí.

Elas foram confirmadas por um conjunto de 45 das 66 antenas que formam uma espécie de telescópio gigante no importante observatório Alma, que fica no deserto do Atacama, no Chile.

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Educação

Professor da UFRN é premiado na China por pesquisa em Astrofísica

professor do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE) da UFRN, Daniel Brito de Freitas foi premiado pela pesquisa sobre a evolução do momentum angular em estrelas de baixa massa. O professor é integrante da delegação de pesquisadores da Instituição que participou da XXVIII Assembleia Geral da União Astronômica Internacional (XXVIII IAU GA, sigla em inglês).

O resultado da pesquisa foi apresentado no Simpósio IAU nº 294 sobre Dínamo Astrofísico e Solar e Atividade Magnética, que ocorreu simultaneamente durante a XXVIII IAU GA, entre os dias 20 e 31 de agosto, em Pequim, China, contando com a participação de mais de 5000 pesquisadores em Astronomia de todo o mundo.

O prêmio inédito foi dado ao trabalho intitulado “A nonextensive approach for angular momentum loss rate in low-mass stars”, que faz uma leitura inovadora do processo de evolução estelar utilizando-se do que há de mais moderno em Mecânica Estatística e teorias sobre Sistemas Complexos.

“Basicamente, nosso modelo teórico modela as possíveis condições iniciais, tais como perda de massa devido ao vento magnético estelar, massa e raio estelares, que podem ter, por exemplo, ocasionado a forma como o nosso Sol gira”, destacou Daniel Brito.

O professor salientou ainda que isso é de extrema importância para descrever a história evolutiva do Sol, assim como entender como ocorreu a formação de planetas em nosso Sistema Solar, dentre eles, um que abriga vida.

O trabalho premiado vem sendo desenvolvido há mais de três anos e conta com a colaboração do coordenador do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) e líder do Grupo de Astronomia da UFRN, professor José Renan Medeiros, além de alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pesquisadores de pós-doutorado em Física. Para o pesquisador Daniel Brito a conquista é de todos.

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