Foto: Luiz Lima Jr./Fotoarena/Estadão Conteúdo (5.fev.2021)
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmou nesta terça-feira (16) não ter indícios de que a imunização com a vacina da AstraZeneca/Oxford contra Covid-19 tenha influenciado na formação de coágulos sanguíneos.
Mais de uma dúzia de países europeus suspenderam recentemente o uso da vacina da AstraZeneca enquanto especialistas da EMA analisam questões sobre a segurança da vacina – há também relatos de casos isolados de hemorragia e baixa contagem de plaquetas.
“Quero ressaltar que, no momento, não há indícios que a vacinação [com o imunizante da AstraZeneca] tenha causado essas condições – não apareceram nos testes clínicos e não estão listados como efeito colateral esperado para essa vacina”, disse a diretora-executiva da EMA, Emer Cooke.
“Nos testes clínicos, tanto as pessoas vacinadas quanto as que receberam placebo não mostraram mudanças na avaliação dos dados de coagulação. E o número de eventos de formação de coágulos entre os vacinados também não parecem ser maiores do que o observado na população em geral”, continuou Cooke.
A especialista destacou ainda a importância dos imunizantes para prevenir os casos de Covid-19, especialmente nas formas graves que requerem internação hospitalar, e disse que esse é um fator de peso na avaliação de risco feita pela EMA.
“Enquanto essa investigação está em andamento, continuamos firmemente convencidos de que os benefícios da vacina da AstraZeneca em prevenir a Covid-19 superam os riscos de efeitos colaterais.”
Conclusão ainda nesta semana
Cooke afirmou ainda que o painel de especialistas analisa se há qualquer relação de causa entre o uso da vacina da AstraZeneca/Oxford e os casos adversos ou se eles foram originados por outras causas.
“Isso requer uma análise muito rigorosa de todos os dados disponíveis dos eventos. Os especialistas avaliaram esses os dados e também as circunstâncias clínicas para determinar se a vacina pode ter contribuído [para as coagulações]”, explicou.
“Vamos nos reunir novamente na quinta-feira (18) para chegar a uma conclusão com toda a informação disponível e nossos especialistas vão nos aconselhar caso haja alguma recomendação adicional que precise ser tomada – e informaremos o público sobre isso imediatamente após essa reunião.”
O governo da Dinamarca decidiu suspender o uso da vacina de Oxford, fabricada pelo laboratório AstraZeneca, contra a covid-19 como medida preventiva, devido a temores relacionados com a formação de coágulos sanguíneos nos vacinados, informou sua Agência Nacional de Saúde, nesta quinta-feira (11).
A suspensão se dá, “depois dos informes de casos graves de formação de coágulos de sangue em pessoas que foram vacinadas com a vacina contra covid-19 da AstraZeneca”, anunciou a Agência Nacional de Saúde, acrescentando que, “por enquanto, não se pode concluir que tenha uma relação entre a vacina e os coágulos de sangue”.
Na segunda-feira (8), a Áustria informou que parou de administrar um lote de imunizantes produzidos pelo laboratório anglo-sueco. O anúncio se deu após a morte de uma enfermeira de 49 anos que sucumbiu a “graves distúrbios de sangramento”, dias depois ser vacinada.
Outros quatro países europeus – Estônia, Lituânia, Letônia e Luxemburgo – suspenderam imediatamente a vacinação com doses desse lote, que foi entregue a 17 países e incluía um milhão de vacinas.
Já a Dinamarca interrompeu o uso de todas as suas vacinas da AstraZeneca.
Ontem (10), uma investigação preliminar da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) destacou que não havia relação entre a vacina da AstraZeneca e a morte na Áustria.
Até 9 de março, 22 casos de trombose foram notificados em um universo de mais de três milhões de pessoas vacinadas no Espaço Econômico Europeu, de acordo com a EMA.
“É importante ressaltar que não desistimos da vacina da AstraZeneca, mas estamos fazendo uma pausa em seu uso”, afirmou o diretor da agência dinamarquesa, Søren Brostrøm, em um comunicado.
3 milhões de doses, 22 pessoas com suspeita de trombos e 1 morte! A covid mata bem mais… acredito que não tenha relação e se tiver o efeito colateral é bem baixo.
Autópsias de pacientes que morreram com Covid-19 estão revelando mais detalhes sobre como o vírus se comporta em nosso corpo, incluindo alguns mecanismos que intrigam os médicos. Recentemente, um estudo americano publicado na revista The Lancet mostrou que vítimas fatais de Covid-19 apresentam coágulos sanguíneos em “quase todos os órgãos”, o que pode gerar uma série de outros sintomas e complicações possivelmente fatais.
Coágulos são pequenas estruturas sólidas formadas por componentes do sangue que surgem naturalmente como parte do processo de cicatrização, “tampando” ferimentos nos vasos sanguíneos e estacando sangramentos. No entanto, esses coágulos também podem acabar entupindo veias e prejudicando a circulação – é o que chamamos de trombose. No caso da Covid-19, esse quadro pode gerar uma série de complicações diferentes dependendo do órgão que atinge, como derrames cerebrais, embolia pulmonar, paradas cardíacas, insuficiência pulmonar e outros.
Não é novidade que a Covid-19 causa coagulação excessiva em pacientes. Em países que enfrentaram o vírus cedo, como China e Itália, muitos médicos já haviam observado a presença de coágulos em casos graves, especialmente nos pulmões. Pesquisadores brasileiros foram uns dos primeiros a detectar o quadro trombótico em autópsias. Uma série crescente de evidências só confirma que a doença também tem uma faceta hematológica importante. Agora, o novo estudo, feito por pesquisadores do hospital universitário da Universidade de New York, mostrou que o problema pode ser ainda maior do que se imagina.
No artigo, os pesquisadores descreveram as descobertas de sete autópsias feitas em pacientes com Covid-19. Todas elas possuíam vários coágulos pelo corpo, e o que chamou atenção foi o fato de que eles afetavam vários órgãos para além do pulmão, como coração, rins, fígado e até em ossos. Além disso, os coágulos também foram encontrados em grande quantidade em vasos sanguíneos menores, ao contrário de outras observações, que focaram em veias e artérias maiores.
Em entrevista à CNN, a patologista Amy Rapkiewicz, autora principal do estudo, disse que os resultados foram “dramáticos”. “Ainda que esperávamos encontrar [coágulos] nos pulmões, acabamos encontrando-os em quase todos os órgãos analisados na autópsias”, relatou a médica. No estudo, a equipe escreve que as descobertas sugerem que a trombose tem um papel importante no quadro da doença ainda em seus estágios iniciais.
É possível que esse processo de coagulação possa ajudar a explicar, pelo menos em partes, alguns sintomas menos comuns da Covid-19. No início da pandemia, acreditava-se que a doença se manifestasse como um tipo de pneumonia, mas agora sabemos que, apesar dos danos ao sistema respiratório serem os principais, outros órgãos podem ser afetados seriamente. Problemas neurológicos e cardíacos, por exemplo, podem aparecer.
Mesmo sintomas leves podem ser explicados por esse mecanismo – é o caso dos “dedos de covid“, um sinal da doença que se manifesta como regiões do corpo (geralmente os dedos) com um tom roxo ou avermelhado por conta da obstrução dos vasos sanguíneos causada por coágulos. Além disso, os coágulos também podem explicar poque nem todos os pacientes que têm os pulmões seriamente comprometidos sentem falta de ar.
O novo estudo, assim como outros anteriores, também chama a atenção para um outro fator: o de trombose em pacientes que já se recuperaram da Covid-19, ou que sequer tiveram sintomas respiratórios. Relatos de pacientes que apresentaram coágulos muito depois de se infectarem com o vírus sugere que o problema pode se manifestar a longo prazo, e que é necessário um acompanhamento melhor dessas pessoas.
Ainda não se sabe exatamente como a Covid-19 resulta em coagulação extrema, mas uma das hipóteses é a resposta imunológica do corpo influencia no surgimento de trombos. É bem estabelecido que, em casos mais graves de Covid-19, o sistema imunológico acaba atacando os tecidos infectados com muita agressividade para tentar se livrar do vírus, destruindo no processo também as células saudáveis – e gerando um quadro inflamatório que, apesar de ter a intenção de destruir o SARS-CoV-2, acaba fazendo muito mal para o paciente. No processo de reconstrução desses tecidos, o corpo pode gerar uma quantidade muito grande de coágulos (afinal, eles têm a função de cicatrização), o que também acabam fazendo mais mal do que bem e entope vasos sanguíneos.
Está cada vez mais claro que a coagulação sanguínea é uma faceta importante do vírus e que pode agravar casos e gerar sintomas possivelmente fatais. Isso nos leva a pergunta: o que podemos fazer? Apesar da Covid-19 ser uma doença nova, os coágulos são inimigos antigos da medicina, e a humanidade já inventou diversos tratamentos contra eles. Faz sentido pensar, então, que utilizar anticoagulantes pode ser uma arma eficaz contra a Covid-19.
Equipes médicas pelo mundo estão estudando essa alternativa, inclusive no Brasil. Por aqui, o assunto chamou atenção da pneumologista Elnara Negri, pesquisadora da Universidade de São Paulo e médica do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital das Clínicas. Ainda em abril, ela e outros pesquisadores publicaram um artigo descrevendo a presença de microtrombos nos pulmões de pacientes com Covid-19. Negri começou então a testar o anticoagulante heparina em pacientes graves do Hospital Sírio-Libanês. Os primeiros resultados mostraram que os casos tratados dessa maneira se recuperam entre 10 e 14 dias de internação, enquanto outros casos graves de Covid-19 precisam de, em média, 28 dias no respirador.
O uso de anticoagulantes, no entanto, deve ser feito com cuidado e somente com prescrição médica, já que pode ter efeitos colaterais graves, como hemorragia. Ainda não há uma pesquisa com amostragem robusta e controlado que comprove que as substâncias de fato conseguem evitar que coágulos se formem em casos graves. A equipe brasileira está fazendo estudos amplos, controlados e randomizados com a heparina, em parceria com a Universidade de Toronto e Universidade de Amsterdã.
Em documento publicado no último dia 10 na revista científica Clinical and Applied Thrombosis/Hemostasis, especialistas brasileiros e estrangeiros dão orientações a respeito do tratamento para trombose em pacientes com Covid-19. O texto afirma que, embora se saiba cada vez mais que a coagulação sanguínea é um fator importante na Covid-19, ainda há muito que não sabemos, como por exemplo os detalhes que levam a formação de trombos. O documento afirma que os médicos devem agir de acordo com as evidências presentes até então, e, em casos de dúvida, devem realizar experimentos controlados antes de tomar decisões para o tratamento. Além disso, o texto diz que cerca de 40 estudos do tipo pelo mundo estão avaliando a eficácia de se utilizar anticoagulantes no tratamento da Covid-19.
BG sei que o título da matéria não é seu.
Sei também que está de forma clara e entendível pra todos, cumprindo seu papel de informar. Mas, o termo autópsia não é o mais adequado tecnicamemte.
O mais apropriado é o termo necrópsia (ou necropsia) que significa exame cadavérico.
Forte abraço!
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