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Moraes Moreira: ‘Todas as músicas dos Novos Baianos foram compostas na base do LSD’

Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Aos seis meses de idade, Moraes Moreira teve uma crise de asma e foi entregue aos avós maternos. Os pais tinham ido morar numa fazenda distante e consideraram mais seguro que o menino, terceiro filho de quatro, fosse criado numa cidade onde havia médicos (“eles me achavam muito desgraçadinho”, brinca o compositor).

Assim, cresceu até os 13 anos em Ituaçu, no interior da Bahia, perto da Chapada Diamantina. Era uma Bahia longe do mar e quando deu de cara com ele pela primeira vez, aos 15 anos, em Salvador (onde desistiu de prestar vestibular para Medicina após conhecer Tom Zé num seminário de música), levou o que considera um dos maiores sustos de sua vida.

— Tive muito medo, foi forte, até cruel — lembra. — Até hoje, vou só até onde dá pé e volto correndo. Não sei nadar.

Voltando à infância em Ituaçu, foi ali que Moraes construiu sua base musical. Acompanhava as serenatas madrugada a dentro (“isso é hora de menino tá na rua?”, ralhavam comigo), as festas regadas a sanfona e ouvia rádio na “casa dos outros”.

O alto-falante da praça, que depois da hora da Ave-Maria tocava músicas pedida pelos moradores, foi outra fonte das canções que até hoje ecoam na cabeça do compositor. No repertório, Luiz Gonzaga, Angela Maria, Cauby Peixoto, Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, entre outros.

Inspirado nessa memória, Moraes, de 72 anos, formulou um novo show. “Elogio à inveja”, que será apresentado sábado (10), no Manouche, é um apanhado das músicas que ele adoraria ter feito. “Quem há de dizer”, de Lupicínio Rodrigues, “Gente humilde”, de Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Garoto, e “Aos pés da cruz”, de Orlando Silva, são algumas. A apresentação também é um descanso do próprio repertório.

— “Preta pretinha” e todo o “Acabou chorare”… Porra, bicho, tô meio cansado disso — diz ele, que entre os próximos projetos tem um show com mais de 20 inéditas compostas recentemente, e um novo livro com cordéis e poesias. – Fiz até um programa explicando o que é o show para não aparecer um cara lá no meio gritando “toca Preta pretinha!”.

Foi, no entanto, o repertório clássico que emocionou o compositor quando assistiu, em São Paulo, ao musical “Novos baianos”, que estreia dia 31, no Teatro Riachuelo (“chorei do começo ao fim”). Entre as músicas, claro, “Preta pretinha” e as demais registradas em “Acabou chorare”, disco que teve, segundo Moraes, o criador da bossa nova como “produtor espiritual”.

— Roubei muitos acordes de João Gilberto. Eu e Pepeu ficávamos só de butuca olhando ele tocar — diverte-se. — João era um rádio, tocava canções que ninguém sabia ou lembrava mais. Eram músicas dos anos 1940, de Noel Rosa, Assis Valente…

Nesta entrevista exclusiva, Moraes lembra o passado de loucuras no sítio-comunidade dos Novos Baianos (“acho que todas as músicas dos Novos Baianos foram compostas na base do LSD, praticamente”) e conta porque resolveu deixar a casa do grupo (“fui embora por causa dos meus filhos, como aqueles meninos iam se alimentar se os caras tomavam o leite deles no mingau da larica?”). Ele comenta ainda as brigas na turnê que reuniu o grupo entre 2016 e 2017, diz que “o Brasil de hoje é pior que o da ditatura”, e fala sobre os problemas de saúde que o fizeram abandonar a cachaça.

O Globo

Opinião dos leitores

  1. Esse aí é um dos maiores compositores vivos do país. Quem conhece sua extensa obra (muito além de Preta Pretonha) atesta. Merece todas as homenagens.

    1. Até que enfim alguém usou o LSD como instrumento de plena inspiração, pois na maioria das vezes o uso de produto é apenas para devaneios.
      Moraes Moreira é um grande compositor, músico e tem muita presença de palco.
      Suas músicas são um bálsamo diante do que muitos chamam de músicas, as produzidas hoje, que são um verdadeiro lixo!
      Escute essa canção que é para tocar no fundo de seu coração… E aí vai só obra prima.

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