Imagem: Reprodução/Instagram/@nicolepuzzi
Nicole Puzzi diz que sempre foi desaforada, sempre gostou de afrontar e não nega que esses traços de sua personalidade foram os escudos que encontrou para se proteger do preconceito e dos assédios que sofreu durante toda sua vida. Aos 60 anos, símbolo sexual e estrela da pornochanchada nas décadas de 70 e 80, a atriz diz não entender por que é julgada até hoje por ter atuado no gênero mais criticado do cinema brasileiro.
“Eu me pergunto muitas vezes o que eu fiz de errado e qual foi o erro que eu cometi para ser tão crucificada. Por que algumas atrizes que também ficaram nuas, trabalharam na pornochanchada lá atrás foram poupadas das críticas e do preconceito e outras, não. Eu trabalhei com a Christiane Torloni em ‘Ariella’ [filme de John Hebert] e temos a mesma idade. Não existem papéis só para mim? Não entendo”, desabafa a atriz.
Apesar de estar em cartaz com a peça “Transex”, da Companhia de Teatro Os Satyros, em São Paulo, e comandar o programa “Pornolândia”, no Canal Brasil, ela assume que gostaria de voltar voltar a atuar mais.
“Queria fazer tudo! Cinema, teatro e televisão porque é o meu oficio. Eu sou atriz, mas você acha que algum dia eu vou pedir um trabalho? Nem pensar! Eu não peço nada a ninguém. Atuei e produzi a primeira peça do Walcyr Carrasco, “O Terceiro Beijo”, e ele sempre me elogia nas suas publicações. Gosto dele, um grande dramaturgo, só que não me chama para nada. E ele também não tem obrigação nenhuma, mas eu não peço. Graças a Deus, não estou morrendo de fome”.
Nicole é de Floraí, interior do Paraná, e saiu de casa aos 17 anos. Trabalhou na Boca do Lixo paulistana, o centro da pornochanchada e foi estrela de longas como “Possuídas pelo Pecado (1975), “Damas do Prazer” (1975), “O Prisioneiro do Sexo” (1978), “Eros, o Deus do Amor” (1981) e “As Sete Vampiras” (1986). Também fez “Gabriela, Cravo e Canela” (1983), ao lado de Sônia Braga e Marcello Mastroianni, e “Eu” (1987), com Tarcísio Meira. Na televisão, atuou em 14 novelas, a última foi “Amor e Revolução” (2011), no SBT.
“Nunca mais chamaram. Fiz novelas na Tupi, na Globo, na Manchete e no SBT. Trabalhei na Record também. Acredita que há pouco tempo um diretor, que eu não vou citar o nome, deu a entender por que não me chamavam mais na emissora? ‘A sua imagem não combina com a Record’. Fui obrigada a ouvir isso. Se a gente for julgar a moral de atores e diretores, não sei, não”, alfineta Nicole, que afirma ter sido muito assediada ao longo da carreira.
A atriz, de 60 anos, foi musa da pornochanchada na década de 70 e 80 Imagem: Reprodução/Instagram/@nicolepuzzi
“A minha vida toda fui assediada sexualmente, mas teve uma época que a gente tinha que ficar calada porque a culpa era da mulher. Sempre tinha um homem ou até mesmo uma mulher com aquele julgamento: ‘O que é que você fez?’. Hoje, não é mais assim, graças a Deus. A pessoa que assedia é quem está errada”, diz.
Recentemente, a atriz causou barulho nas redes sociais ao ameaçar expor os autores propostas indecentes que recebe até hoje. “Estava demais, mas deu uma maneirada depois da minha postagem. Continuo bloqueando! É impressionante como me assediam. Não cantada, é assédio sexual mesmo por inbox, por qualquer rede social que eu tenho. Eu sei que isso é uma atitude muito machista, mas assediar uma mulher de 60 anos é demais.”
¨60 anos não pesa”
Em paz com o espelho, Nicole diz não sentir os 60 anos que não aparenta. “Eu olho no espelho e me surpreendo como ainda estou bonitona. Acho maravilhoso chegar na minha idade com essa aparência e, se eu não fosse preguiçosa, estaria melhor, mas tenho uma preguiça ferrada de ir para academia, vivo arrumando desculpa”, admite.
Ela conta que também não faz dietas, fez uma lipoaspiração em 2000 e, há dois anos, um peeling profundo no rosto. “Me rejuvenesceu muito. Valeu super a pena e hoje só uso cremes manipulados especialmente para mim”.
Em outubro, a musa da pornochanchada vai ser homenageada com uma mostra na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
“Sou a primeira atriz da pornochanchada a ganhar uma mostra e estou muito feliz. Sempre foi uma arte pra mim e eu fico chateada de ver que só no Brasil metem o malho no gênero. O Quentin Tarantino é fã, o Pedro Almodóvar mandou uma mensagem por uma amiga me parabenizando pelos filmes. Acho que essas críticas só podem ser inveja de pessoas sexualmente mal resolvidas. Elas têm o direito de não gostar, mas desmerecer a importância da pornochanchada no cinema brasileiro, não”, diz, provocativa como sempre.
UOL
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