Saúde

Casos diários de Covid-19 no país já são 30% mais altos do que no pico de 2020

Foto: Diego Vara/Reuters

Março começou com o aumento explosivo da pandemia no Brasil, mas o país sente apenas o vento que antecede um novo tsunami, a terceira onda de casos e mortes, alertam cientistas. O número de casos diários de Covid-19 no país é agora cerca de 30% maior do que nos piores momentos da primeira onda, em julho de 2020. E o número de mortos fala ainda mais alto, com aumento de 31,66% em relação ao recorde da primeira onda. A tendência é de crescimento, afirma o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto Domingos Alves, do portal Covid-19 Brasil.

Alves lembra que o maior valor observado na média móvel de mortes diárias na primeira onda havia sido de 1.096 mortes por dia em 26 de julho. Esse valor foi superado em 7 de fevereiro, com 1.171 óbitos. Sem controle, a Covid-19 continuou a matar mais e no sábado foram registrados 1.443 óbitos diários, na média móvel.

Já o maior número de casos por dia da média móvel na primeira onda foi de 46.393, em 29 de julho. Porém, anteontem (dia 6), o Brasil registrou 60.229 novos contágios, um aumento de 13.836 ocorrências diárias em relação ao maior valor apresentado na média móvel da primeira onda. O número de novas infecções por dia é agora 29,82% maior do que na primeira onda, calcula Alves.

Em alguns estados, como o Rio Grande do Sul, que ontem teve o décimo dia seguido de alta na média móvel de novos casos, o aumento em relação à primeira onda chega a cerca de 50%.

— Estamos na praia vendo a terceira onda crescer e se aproximar e, para nos defender, temos apenas castelos de areia, isto é, as pífias e ineficazes medidas de distanciamento tomadas por governadores e prefeitos — frisa Alves.

O professor titular de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Medronho explica que uma terceira onda, pior do que as anteriores, é o cenário mais provável até o fim deste mês porque o crescimento explosivo de casos registrado desde o fim de fevereiro tem se mostrado sustentado. Não se trata, portanto, de uma flutuação aleatória.

A situação do Brasil é tão grave que, no fim de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a alertar para a possibilidade de uma quarta onda no país.

O cientista da USP, conhecido por acertar suas projeções, diz que o Brasil, que passou os 11 milhões de casos de Covid-19, pode chegar a 15 milhões entre o fim de março e a primeira semana de abril. Segundo ele, podemos alcançar 70 mil casos por dia até o final da próxima semana e a 100 mil casos diários até 8 de abril:

— Essa é uma projeção conservadora porque a subnotificação é muito grande. Minha estimativa é que o Brasil tenha, na verdade, mais de 24 milhões de infecções.

O número de mortes avança em ritmo semelhante. Segundo Alves, se mantivermos o ritmo de 1,4 mil mortes por dia, chegaremos a 300 mil óbitos provocados pela pandemia entre 25 e 27 de março, talvez antes. E, segundo as projeções, o país pode começar a ter o registro de 2 mil óbitos diários entre 20 e 22 de março. Seguindo esta tendência, até o fim do mês, o país chegaria a contabilizar 3 mil mortes por dia.

A subnotificação impede que o Brasil conheça todos os mortos pela Covid-19. O país já registrou 265,5 mil óbitos pela pandemia, segundo boletim do consórcio de veículos de imprensa. Alves, porém, estima que esse número represente apenas a metade do real.

— Esses números são conservadores porque podemos começar a ver muita gente morrendo em casa, por falta de assistência. Isso já acontece em várias regiões brasileiras. E o mais trágico é que governantes e parte da população não ligam — enfatiza Alves.

O pesquisador destaca que o atual panorama da pandemia no país foi antecipado pelos cientistas em novembro, mas nada se fez para evitá-lo.

— O Brasil levou três meses para chegar a 10 mil óbitos. Apenas na semana passada tivemos 10 mil mortes — compara. — Chegamos a um nível de desgraça inimaginável. É muito importante que a população entenda o risco que corre.

Controle maior nos Estados Unidos

Medronho sublinha que a progressão da Covid-19 no Brasil só é comparável à dos EUA, o país mais castigado do mundo pelo coronavírus. Por lá já foram observadas três ondas da pandemia, mas agora o número de casos caiu 75% em relação a janeiro, resultado de uma combinação da vacinação em massa e mudanças nas políticas de combate à doença, implementadas com a chegada de Joe Biden à presidência.

No Brasil, em número de casos, a primeira onda da pandemia foi superada pela segunda em 18 de dezembro. O recorde foi novamente quebrado em 20 de fevereiro, anunciando o princípio da terceira onda da pandemia.

A receita da tragédia brasileira tem três ingredientes: falta de medidas adequadas de distanciamento social, baixíssima vacinação e espalhamento de novas variantes do Sars-CoV-2 mais transmissíveis.

— As doses anunciadas e efetivamente compradas pelo Ministério da Saúde não são nada, um mero trocado enquanto precisamos de muitos milhões. Poderíamos ter mais vacinas, mas o governo federal não quis comprar quando houve oportunidade — afirma Medronho.

Ele observa que há uma espécie de anestesia social e fadiga coletiva, que faz com a sociedade brasileira não se importe com a pandemia.

— Se tivermos até menos que as previsíveis 2.500 mortes por dia, digamos que sejam 2.400 os mortos diários. Isso dá 100 mortes por hora, uma pessoa morta por minuto. Mas parte da população se comporta como se não houvesse amanhã e realmente parece não se importar. É uma aposta perigosa, pois, para muitos, não haverá mesmo dia seguinte — lamenta Medronho.

Variantes são consequência, e não causa de espalhamento

Novas variantes do coronavírus causam apreensão pela possibilidade de que sejam mais transmissíveis ou reduzam a eficácia das vacinas. Conhecidas por siglas ininteligíveis para não especialistas — como P1 (brasileira) ou B.1.1.7 (britânica) —, elas são apontadas como culpadas pela explosão recente de casos. Mas cientistas explicam que essas variantes são consequência, e não a causa principal do espalhamento do Sars-CoV-2. Sozinhas, diz o epidemiologista da UFRJ Roberto Medronho, não teriam feito tamanho estrago.

O virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica, que sequencia e analisa o genoma do coronavírus em todo o Brasil, avalia que as novas variantes são fruto da falta de uma política nacional de distanciamento social, que permitiu que o coronavírus se espalhasse descontroladamente.

É um ciclo vicioso: quanto mais o vírus se propaga, maior a chance de sofrer mutações que originem variantes mais eficientes na transmissão, realimentando a pandemia.

— Variantes eram esperadas e precisam ser monitoradas. Elas alavancam a pandemia, mas não conseguem se disseminar com uso de máscara, vacina e distanciamento — diz.

Análises preliminares sugerem que a chamada variante brasileira, a P1, surgida na Amazônia, já é predominante e responde por até 70% das amostras. Estudos sugerem que ela é mais transmissível e, talvez, mais agressiva.

— Estamos sob uma tempestade perfeita gerada por decisões erradas no passado, medidas insuficientes agora e variantes mais transmissíveis — alerta Spilki.

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. POREM!!! LAMENTAVELMENTE AQUI NO RN, AINDA NÃO TEMOS O NÚMERO DE LEITOS QUE TINHAMOS EM JUNHO DO ANO PASSADO.
    A DESGOVERNADORA DESMOBILIZOU OS LEITOS AO INVÉS DE ABRIR MAIS.
    O RESULTADO É ESSE AÍ Ó!!
    POLÍCIA NA RUA BOTANDO O POVO PRA DENTRO DE CASA GERANDO QUEBRADEIRA E DESEMPREGO EM MASSAS.
    DIZEM, NÃO SEI SE É VERDADE, QUE A FÁTIMA ANDOU EMPRESTANDO EQUIPAMENTOS, NÃO SEI.
    sei o que todos sabem, respiradores fantasmas e compra de equipamentos quebrados.
    Bom!!
    Sendo assim, tire suas conclusões.

  2. Se uma parcela dos médicos não fossem covardes, receitariam o kit para tratamento no início dos sintomas. Diminuiria e muito a quantidade de casos graves que chegam a óbitos.
    Cloroquina não faz efeito , mas David Uip um dos maiores e respeitado infectologista brasileiro, tomou quando foi contaminado.
    Por que será?

    1. O que poderia ter amenizado o caos atual seria vacinação no tempo certo e em dose suficiente para todos. Não discuto a possibilidade da cloroquina, ivermectina, anitta, serem de alguma valia. Mas vacina e empenho estão sendo deixados de lado para dar lugar à política eleitoral rastaqüera.

    2. Só vacina não acaba com esse vírus não. Tem que ter tbm tratamento precoce. É incrível como é difícil de colocar na cabeça do povo que hj em dia existe várias variantes que a vacina já não proteger. Até qdo as pessoas iram deixar a política de lado pra salvar vidas ???

  3. Depois de UM ANO e MUITO dinheiro repassado pelo governo federal (onde foi aplicado?), não se deveria mais estar falando em falta de leitos. Esse "lockdown" é um enorme ATESTADO DE INCOMPETÊNCIA.

    1. Calma palestrante de butiquim, seu presidente mandou buscar o spray. ??

    2. EIS aí uma prova de que dinheiro em mãos erradas dá errado!!
      milhões dados de graça e não resolveu o problema!!
      realmente se tivesse pego essa dinheirama e investido nas vacinas, hoje a pandemia estaria controlada e a economia voltando aos trilhos!
      o Brasil hoje está na estaca (-15). pra chegar à estaca "0" vai ter que tomar todas as atitudes corretas. (é terrível ter incompetentes no poder)!!!

  4. Não tem leito de uti que dê conta! O que poderia ter evitado esse caos seriam VACINAS! Mas como temos um presidente inepto e negacionista, só teremos vacinas pra impedir a terceira onda, e olhe lá!

    1. O spray israelense está em fase deviestes ainda! Lá em Israel eles estão usando VACINAS e lockdown pra amenizar o contágio! Aqui faltam vacinas pq o MINTOmaníaco eh inepto e negacionista! Só começou a comprar quando só tínhamos a vachina do Doria!

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Saúde

Casos diários de covid-19 no Brasil se aproximam do pico de julho

Foto: Reuters

Desde o início de novembro, os casos de covid-19 no Brasil voltaram a subir e estão quase no mesmo nível do pico de julho, em novos casos diários na média móvel de sete dias. Os dados são do Monitora Covid-19, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz).

Durante toda a pandemia, o dia em que foram registrados mais casos novos de covid-19 no país foi 29 de julho, com 46.393. Após esse dado, a tendência geral de contágio se manteve em queda, atingindo o mínimo de 16.727 casos novos no dia 6 de novembro. Os dados atualizados ontem (13) apontam para 42.630,29 casos novos. Na sexta-feira (11), o país notificou 43.179,86 casos na média móvel de sete dias.

Há um mês, no dia 14 de novembro, a tendência de alta era percebida, com 27.917 casos. No domingo passado (6), chegaram a 41.257,14.

Óbitos

No registro de óbitos em médias móveis, o país se manteve num patamar acima de 900 casos por dia entre 23 de maio e 27 de agosto. A queda se manteve constante até o pico mínimo de 323,86 no dia 11 de novembro. No domingo passado a tendência de alta se consolidava com 586,86 e ontem foram 637,29 mortes causadas pela covid-19 no país.

O Brasil acumula 6.901.952 casos de covid-19 e 181.402 óbitos, segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde.

Rio de Janeiro

No estado do Rio de Janeiro, os dados do Monitora Covid-19 apontam para quedas e subidas constantes no número de novos casos diários na média móvel de sete dias. O pico de alta foi em 25 de julho, com 3.009 casos, e houve um pico de baixa no dia 10 setembro, com 648,86. Desde então os registros oscilam na faixa entre mil e 2 mil casos por dia, com poucos dias abaixo de 800. No dia 14 de novembro foram 1.613,86 casos novos e há uma semana, no dia 6 de dezembro, 2.637. Os dados registram 2.578,57 casos novos ontem.

Os óbitos no estado seguiram um padrão parecido, sem uma queda constante nos números. As mortes por covid-19 oscilaram entre 60 e 130 de 1º de julho a 1º de novembro, com um pico de baixa no dia 11 de novembro, quando foram 30,14 óbitos. Há uma semana foram 81,43 e ontem 84,43.

Leitos

A prefeitura do Rio de Janeiro informou ontem que a rede municipal possui atualmente 918 leitos para covid-19, sendo 288 em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), que inclui as unidades municipais, estaduais e federais, o município está com ocupação de 93% dos leitos para covid-19 em UTIs e de 92% nos leitos de enfermaria.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a rede SUS na capital está com 1.401 pessoas internadas em leitos especializados para covid-19, sendo 600 em UTIs. Cerca de 400 pessoas aguardam transferência, 205 delas para leitos de UTIs. O número de pessoas internadas praticamente dobrou desde o início de novembro.

No dia 3 de novembro não havia fila de espera de leitos para covid-19 na cidade, com total de 881, sendo 251 deles em UTIs. Naquele momento, a rede SUS estava com ocupação de 80% dos leitos para covid-19, com 52% em enfermarias. Eram 729 pessoas internadas em leitos especializados na capital, sendo 378 em UTIs.

Agência Brasil

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Saúde

Mundo registra mais de meio milhão de casos da Covid-19 em apenas um dia e bate novo recorde, segundo agência

Pessoas usando máscaras nas ruas de Roma durante a pandemia de coronavírus na Itália — Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

O mundo registrou na terça-feira (27) um recorde de mais de 500 mil novos casos de coronavírus, segundo um balanço da agência AFP com base nos números divulgados pelas autoridades de saúde.

No total, foram declaradas 516.898 novas infecções e 7.723 mortes em 24 horas. De acordo com especialistas, este aumento do número de casos no mundo não pode ser explicado apenas pelo maior número de testes realizados desde a primeira onda mundial da epidemia, compreendida entre março e abril.

Mais da metade dos casos registrados em 24 horas estão localizados nos dez países mais afetados, segundo o levantamento da AFP: Estados Unidos, Índia, Brasil, Rússia, França, Espanha, Argentina, Colômbia, Reino Unido e México.

Estados Unidos também vive um aumento no número de casos detectados. Pela primeira vez, registrou mais de 500 mil infectados em uma semana, enquanto na semana passada eram 370 mil.

Alerta na Europa

A Europa é o continente onde a pandemia avança mais rápido, com uma média diária maior que 220 mil novos casos nos últimos sete dias, um aumento de 44% em relação à semana anterior, segundo a AFP. A região se aproxima dos 2 mil mortos por dia. Durante o pior momento da pandemia, em abril, eram registrados mais de 4 mil mortes diárias.

A República Tcheca tem a maior taxa de infecção da Europa. Enquanto o mundo apresentou um aumento médio de cerca de 7% nos casos nas últimas duas semanas, segundo dados da OMS, essa taxa no país do Leste Europeu é de cerca de 40%.

Vários países europeus estão aumentando as restrições para controlar essa segunda onda.

Outubro teve 9 recordes

Outubro ainda não terminou, mas já é o pior momento da pandemia no que diz respeito a transmissões do vírus, já que o mundo bateu 9 vezes o recorde de novos casos diários de Covid-19 somente este mês, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos dias 22, 23 e 24, os recordes diários foram batidos de forma consecutiva – sendo que, no último deles, veio o maior número diário desde o início da pandemia: 468.409 novas infecções.

Outro levantamento, o da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, mostra que o mundo atingiu os 44 milhões de casos do novo coronavírus nesta quarta-feira (28). O número de mortos pela Covid-19 desde o início da pandemia em todo o planeta passa de 1,1 milhão.

Em apenas dez dias desde a confirmação dos 40 milhões de infectados, mais de quatro milhões de pessoas contraíram a Covid-19. A alta neste balanço é impulsionada pelos Estados Unidos, que em sete dias teve mais de 500 mil casos.

G1

Opinião dos leitores

    1. O doidim não rouba, não é comunista e não vende o nosso país, mais um João sem teta pra mamar…

  1. Enquanto isso quem produziu em laboratório a porra desse vírus,tudo leve, livre e solto e vendendo insumos e vacinas não testadas para os incautos que se habilitarem.

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