Política

EUA e número dois de Maduro tiveram encontro secreto para discutir transição, diz agência de notícias

Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, teria se encontrado com representantes do governo americano Foto: FEDERICO PARRA / AFP / 12-08-2019

Os Estados Unidos iniciaram conversas com Diosdado Cabello , número dois do regime chavista, e com outros membros da alta cúpula de Nicolás Maduro buscando persuadi-los a realizar um acordo que garanta uma saída para a crise política venezuelana. Segundo a agência Associated Press, que noticiou as negociações, os representantes venezuelanos buscam garantias de que não sofrerão represálias caso cedam às demandas internacionais para remover Maduro.

As conversas, que ainda estão em estágio preliminar, incluem garantias e incentivos para que alguns líderes chavistas cedam às demandas da comunidade internacional e concordem com um acordo eleitoral confiável. Segundo a Associated Press, ainda não está claro se Maduro tem ciência das discussões. A realização de um segundo encontro estaria sendo discutida.

Cabello teria recebido em julho um representante em contato direto com o alto escalão do governo americano para escutar suas propostas. Na estrutura de poder venezuelana, o vice-presidente do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv) é uma das figuras mais radicais e intransigentes, e vê sua influência crescer conforme o poder de Maduro diminui. Washington, entretanto, o acusa de comandar um esquema de corrupção e tráfico de drogas, além de responsabilizá-lo por ameaças de morte contra o senador americano Marco Rubio, um crítico ferrenho do regime venezuelano.

O representante do governo americano que falou em condição de anonimato com a AP disse que a Casa Branca não tem intenções de que Cabello substitua Maduro, mas busca utilizá-lo para pressionar a alta cúpula do regime chavista, que passa por uma suposta disputa interna de poder. Além do homem forte do presidente, outros funcionários de Caracas, como os ministros da Defesa Vladimir Padrino e do Interior, Néstor Reberol, também estariam em contato com Washington. Em diversas ocasiões, o governo americano já declarou que poderia retirar as sançoes impostas a líderes do governo venezuelano caso que tomassem “ações concretas e significativas” para acabar com o mandato de Maduro.

Novas eleições

Este não é o primeiro sinal que o regime chavista dá de que poderá ceder. O jornal Washington Post noticiou que durante as negociações mediadas pela Noruega entre o governo e a oposição venezuelana, os representantes de Maduro teriam concordado, sob algumas condições, com novas eleições presidenciais em um período entre nove e 12 meses. As conversas, entretanto, foram interrompidas pelo governo venezuelano após Washington anunciar novas sanções econômicas, desta vez abrangendo empresas e indivíduos de terceiros países que negociarem Caracas.

Entre as condições estabelecidas pelo regime venezulano estão o fim das sanções americanas e a permanência de Maduro no poder até que uma nova votação seja realizada, algo que vai na contramão da posição americana, que diz que manterá as restrições até que o presidente venezuelano abandone o cargo. Washington, entretanto, teria oferecido garantias de segurança a Maduro caso ele aceitasse novas eleições e concordasse em se exilar. Outra questão polêmica é se o líder chavista teria permissão para concorrer novamente após sua reeleição no ano passado, em um processo eleitoral considerado fraudulento pela oposição e por mais de 50 países.

Cabello, que não participou das rodadas de negociação em Barbados, no Caribe, é visto pelos Estados Unidos como uma das únicas pessoas com capacidade para derrubar Maduro — ele é presidente da Assembleia Nacional Constituinte, convocada em 2017 por Maduro para anular os poderes do Legislativo e não reconhecida pela oposição ou pelo governo americano. O vice-presidente do partido governista também apresenta há cinco anos um popular programa no canal de televisão estatal, onde faz críticas constantes ao governo americano.

Apesar de todos os sinais públicos indicarem que Cabello continua fiel a Maduro, os doislíderes são, há muito tempo, visto como rivais. O vice-presidente do partido governista tem visões econômicas mais pragmáticas e posições políticas menos extremas que as do presidente venezuelano. Na última aparição pública de Hugo Chávez, em 2013, Maduro sentou-se à esquerda e Cabello, à direita.

O Globo

 

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