Foto: Eric Gaillard/Reuters
O ex-presidente da aliança Renault-Nissan Carlos Ghosn, que fugiu do Japão onde estava em prisão domiciliar, tinha dois passaportes franceses, incluindo um que sempre levava em uma mala trancada. Nascido no Brasil, ele também tem cidadania libanesa e francesa.
Alvo de quatro acusações de crimes financeiros e em prisão provisória sob fiança desde abril de 2019, Ghosn vivia com certa liberdade de movimento no Japão, mas sob condições estritas. O empresário teria conseguido escapar do país em um jatinho privado com a ajuda de uma empresa privada de segurança, segundo a Reuters.
Após uma escala em Istambul, na Turquia, ele seguiu para Beirute, no Líbano, onde entrou com um dos seus passaportes franceses. As autoridades turcas lançaram uma investigação sobre a fuga do empresário e várias pessoas foram presas, de acordo com a rede japonesa NHK.
Passaportes
Os advogados do executivo mantinham sob seu controle três passaportes (um francês, um libanês e um brasileiro) – condição imposta pela justiça japonesa desde que ele foi colocado em prisão domiciliar. Porém, Ghosn tinha dois passaportes franceses.
Em maio, uma autorização excepcional do tribunal permitiu que o empresário ficasse com um dos dois documentos franceses trancado em uma mala. A chave dessa mala, no entanto, ficava com seus advogados.
O documento servia como visto de curta duração no arquipélago e ele precisava utilizá-lo em seus deslocamentos internos.
No Japão, estrangeiros devem se deslocar com seu passaporte ou um documento de identidade fornecido por um governo. Então, em caso de um controle, o empresário deveria entrar em contato com um de seus advogados para que ele fosse encontrá-lo (e levar a chave). A imprensa francesa ressalta que essa não era uma condição exclusiva de Ghosn, mas a todas as pessoas que estão em algum regime de liberdade condicional.
As autoridades japonesas não têm registro de que ele tenha, porém, apresentado sua real identidade aos controles de fronteira.
Prisão de Ghosn
Carlos Ghosn foi preso no Japão no dia 19 de novembro de 2018 e, desde então, deixou a presidência do conselho das três montadoras que comandava: da Nissan, da Mitsubishi e da Renault.
Ele foi solto sob pagamento de fiança em março de 2019, após mais de 100 dias detido, mas acabou preso novamente em abril, por novas acusações das autoridades. No mesmo mês, foi solto após pagamento de fiança de US$ 4,5 milhões, valor equivalente a R$ 17,8 milhões. E agora aguardava o julgamento, previsto para 2020.
As circunstâncias da fuga ainda não estão claras. Ele teria usado um jato particular que decolou do aeroporto de Kansai, no oeste do Japão. Segundo a imprensa japonesa, uma aeronave deste modelo teria deixado o país no dia 29 de dezembro, às 23h, em direção a Istambul. A aterrissagem teria acontecido no aeroporto de Atatürk, fechado para voos comerciais.
Na mídia libanesa levantou-se a hipótese que Ghosn teria escapado escondido em uma caixa de instrumento depois de um concerto privado na sua residência. “É ficção pura”, disse a mulher Carole, em conversa com a Reuters.
Pessoas próximas a Ghosn disseram ele foi recebido pelo presidente do Líbano, Michel Aoun.
Já em Beirute, Ghosn divulgou um comunicado em que afirmou que não será “mais ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento em que se presume culpa, onde direitos humanos básicos são negados. Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política. Agora posso finalmente me comunicar livremente com a mídia e estou ansioso para começar na próxima semana”.
Nesta quinta-feira (2), a secretária de Estado francês para a Economia, Agnès Pannier-Runacher, declarou que o empresário não será extraditado se vier para a França. “A França nunca extradita seus cidadãos, então aplicaremos a Ghosn as mesmas regras que aplicamos para todos. Não é por isso que achamos que ele não deva ser julgado pela Justiça japonesa”, declarou, em entrevista ao canal BFMTV.
O que se sabe sobre o caso de Carlos Ghosn — Foto: Arte/G1
G1
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