Um paciente morreu com o raro e altamente infeccioso vírus de Marburg, em Guiné, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta segunda-feira (9). Esse é o primeiro caso do vírus parecido com o Ebola no oeste da África.
Amostras do vírus que foram retiradas do paciente na cidade de Gueckedou, no sul do país, identificaram febre hemorrágica. O Marburg causa sintomas semelhantes aos do Ebola, começando com febre e fraqueza e frequentemente levando a sangramento interno ou externo, falência de órgãos e morte.
Ainda de acordo com a OMS, o vírus é transmitido por meio de morcegos frugívoros e pode ser transmitido entre humanos por meio de contato com fluídos corporais de pessoas infectadas ou em superficies e materiais contaminados. Ainda não há vacinas ou tratamento antiviral. Existem apenas tratamentos específicos que podem aumentar a chance de sobrevivência dos pacientes.
A detecção do caso acontece menos de dois meses após Guiné declarar o fim do surto mais recente de ebola.
“Gueckedou, onde Marburg foi confirmado, é também a mesma região onde ocorreram casos do surto de Ebola em 2021 na Guiné, bem como onde foram detectados inicialmente o surto de 2014 a 2016 na África Ocidental”, de acordo com a declaração da OMS.
“Amostras retiradas de um paciente já falecido e testadas em um laboratório de campo em Gueckedou, bem como pelo laboratório nacional de febre hemorrágica da Guiné, deram positivo para o vírus de Marburg. Uma análise posterior do Institut Pasteur no Senegal confirmou o resultado”, continuou.
Autoridades de saúde estavam tentando encontrar nesta segunda-feira pessoas que possam ter tido contato com o paciente. Também lançaram uma campanha pública para ajudar a conter a propagação da doença. Uma equipe de dez especialistas da OMS estão no local para investigar o caso e ajudar em uma resposta de emergência do país.
“As taxas de letalidade variaram de 24% a 88% em surtos anteriores, dependendo da cepa do vírus e do manejo do caso”, disse o comunicado. “Na África, surtos anteriores e casos esporádicos foram relatados em Angola, República Democrática do Congo, Quênia, África do Sul e Uganda”.
O vírus de Marburg foi identificado pela primeira vez em 1967, quando 31 pessoas adoeceram na Alemanha e na Iugoslávia em um surto que acabou sendo rastreado em macacos de laboratório importados de Uganda. Desde então, o vírus apareceu esporadicamente, com apenas uma dúzia de surtos registrados. Muitos deles envolveram o diagnóstico de apenas um caso.
Desenvolvido originalmente para combater o ebola, o medicamento antiviral remdesivir apresentou bons resultados em testes contra o Sars-Cov-2, vírus que causa a Covid-19. Dois estudos independentes relataram que a substância é eficaz para quebrar o ciclo de replicação do micro-organismo. Um deles, baseado em testes com um pequeno número de pessoas, mostrou índice alto de recuperação de pacientes que estavam internados em estado grave.
No fim de fevereiro, pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, haviam descoberto que o remdesivir era eficaz contra o vírus da síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), um coronavírus relacionado ao Sars-Cov-2. A substância é um dos vários medicamentos que estão tendo os ensaios clínicos acelerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em pacientes com Covid-19 hospitalizados em diversos países.
Um dos hospitais que testam o medicamento é o Cedars-Sinai, nos Estados Unidos. Em um artigo publicado na revista The New England Journal of Medicine, pesquisadores dessa e de outras instituições nos EUA, na Europa, no Canadá e no Japão relatam que, em um pequeno grupo de pacientes internados em estado grave e tratados com a substância, 68% tiveram melhora clínica e 47% receberam alta hospitalar.
Jonathan Grein, diretor de Epidemiologia Hospitalar do Cedars-Sinai e um dos autores do estudo, explica que a terapia experimental foi fornecida aos pacientes por uso compassivo. Esse programa permite, nos Estados Unidos, acesso a tratamentos ainda não aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) quando um paciente tem uma condição com risco de morte e nenhuma outra opção está disponível.
A análise incluiu dados de 53 pacientes, que receberam pelo menos uma dose de remdesivir até 7 de março. Os resultados mostraram que 68% das pessoas tratadas com a substância apresentaram melhora no nível de suporte de oxigênio ao longo dos 18 dias de acompanhamento. Além disso, das 34 que foram intubadas e necessitaram de ventiladores mecânicos, 57% tiveram os tubos respiratórios retirados. Quase metade (47%) recebeu alta hospitalar.
“Atualmente não há tratamento comprovado para a Covid-19. Não podemos tirar conclusões definitivas desses dados, mas as observações sobre esse grupo de pacientes são esperançosas”, afirma Grein. “Estamos ansiosos pelos resultados de ensaios clínicos controlados para validar potencialmente essas descobertas.”
O pesquisador ressalta que programas de uso compassivo são menos rigorosos do que um estudo controlado randomizado — no qual se compara pacientes que estão recebendo o tratamento experimental àqueles que foram submetidos à terapia padrão. Porém, durante a pandemia de Covid-19, os dados de uso compassivo podem ajudar os cientistas a entender os riscos potenciais, além de dar uma ideia sobre a viabilidade de um tratamento experimental, destaca Grein. “É fundamental que a comunidade médica encontre um tratamento seguro e eficaz para a Covid-19 e que seja suportado por dados sólidos”, afirma o pesquisador.
“Ação direta”
Em outro estudo, publicado ontem na revista Journal of Biological Chemistry, pesquisadores da Universidade da Alberta relatam que o remdesivir é “altamente eficaz para interromper o mecanismo de replicação do coronavírus que causa a Covid-19”. Matthias Götte, chefe de microbiologia médica e imunologia da instituição, conta que dados de pesquisas anteriores deram esperança à equipe de que o mecanismo de ação da substância teria um bom efeito contra o novo coronavírus.
“Estávamos otimistas de que veríamos os mesmos resultados do vírus da Mers contra o Sars-Cov-2”, diz Matthias Götte. “Obtivemos resultados quase idênticos aos relatados anteriormente com a Mers. Portanto, vemos que o remdesivir é um inibidor muito potente das polimerases de coronavírus”, diz. Polimerases são enzimas usadas pelos vírus para se replicarem dentro das células dos hospedeiros. “Se você atingi-las, o vírus não pode se espalhar, por isso é um alvo muito lógico para o tratamento da Covid-19.”
No laboratório, os cientistas demonstram como o remdesivir confunde o vírus, imitando seus blocos de construção. “Conseguimos enganá-lo incorporando um inibidor de polimerase no coronavírus, de forma que ele não consegue se replicar”, explica o cientista.
Götte afirma que as descobertas do estudo, com resultados de pesquisas publicadas anteriormente em modelos celular e animal, significam que o remdesivir pode ser classificado como um “antiviral de ação direta” contra o Sars-Cov-2. Esse termo foi usado pela primeira vez para descrever novas classes de antivirais que interferem em etapas específicas do ciclo de vida do vírus da hepatite C (HCV).
De acordo com Götte, a descoberta dessa ação direta reforça a promessa de ensaios clínicos para o remdesivir em pacientes com Covid-19. Porém, ele alerta que os resultados obtidos em laboratório não podem ser usados para prever como o medicamento funcionará com as pessoas. “Temos que ser pacientes e aguardar os resultados dos ensaios clínicos randomizados”, destaca.
Estratégia usada para desenvolver uma candidata à vacina contra o ebola, elaborada pela farmacêutica americana Flow Pharma em parceria com pesquisadores brasileiros, pode orientar a criação de um imunizante contra o novo coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19.
Em testes com camundongos, a vacina experimental contra o ebola demonstrou ser capaz de conferir, com uma única dose, imunidade contra o vírus hemorrágico que se propagou na África Ocidental entre 2013 e 2016.
Os resultados dos testes do imunizante em modelo animal foram descritos em um artigo publicado no final de fevereiro no bioRxiv – um repositório de acesso aberto de artigos em fase de pré-print na área de ciências biológicas.
“Uma abordagem semelhante à usada para desenvolver essa vacina contra o ebola pode ser possível de ser aplicada contra o novo coronavírus”, disse à Agência FAPESP Edécio Cunha Neto, professor do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores da plataforma.
O projeto também tem a participação de Daniela Santoro Rosa, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Daniela e eu somos autores da busca da sequência para a vacina contra o ebola”, contou Cunha Neto, um dos pesquisadores principais do Instituto de Investigação em Imunologia – um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) financiados pela FAPESP no Estado de São Paulo.
A vacina contra o ebola é composta por fragmentos de proteínas (peptídeos) do vírus – capazes de estimular o sistema imune e de induzir uma resposta potencialmente protetora – encapsulados em partículas micrométricas.
Para mapear regiões da estrutura do vírus ebola mais promissoras para identificação desses peptídeos capazes de serem usados como antígenos para o desenvolvimento da vacina, os pesquisadores usaram algoritmos computacionais.
Um dos critérios que estabeleceram para os algoritmos localizarem essas potenciais regiões na estrutura do vírus é que tinham de ser muito conservadas, ou seja, não poderiam variar muito de um isolado viral para outro. Isso garante que a vacina será eficaz mesmo contra variantes do patógeno.
Outro critério é que as regiões escolhidas sejam capazes de serem reconhecidas pelo sistema imune da maioria das pessoas.
“Esse critério é muito importante porque garante a cobertura ampla da vacina, uma vez que essas regiões do genoma viral mudariam muito pouco de um microrganismo que circula em um determinado local em relação ao que está aparecendo em outro, e o sistema imune dos pacientes induzirá resposta contra a vacina”, explicou Cunha Neto.
Os potenciais peptídeos localizados em regiões mais conservadas do vírus foram testados em células de 30 pacientes sobreviventes do surto do ebola no Zaire, entre 2013 e 2016.
As análises indicaram que células do sistema imune, chamadas linfócitos T CD8+, de 26 desses 30 pacientes sobreviventes ao ebola responderam a uma proteína denominada NP44-52.
Com base nessa constatação, foi fabricada uma vacina experimental com a NP44-52 encapsulada em microesferas, na forma de um pó seco, estável à temperatura ambiente e biodegradável.
A vacina experimental foi inoculada em camundongos geneticamente modificados (C57BL/6), usados como modelo de doenças humanas.
Os resultados do estudo indicaram que a vacina produziu uma resposta imune protetora nos animais 14 dias após uma única administração.
“A plataforma que desenvolvemos possibilita a fabricação e a implantação rápida de uma vacina de peptídeo para responder a uma nova ameaça viral”, afirmam os autores no artigo.
Vacina contra a COVID-19
Na avaliação dos autores do estudo, a mesma abordagem poderia ser aplicada à Covid-19, uma vez que o vírus também possui regiões conservadas e é possível identificar peptídeos potenciais para o desenvolvimento de uma candidata à vacina.
“Se agirmos agora, durante a pandemia de Covid-19, talvez seja possível coletar e analisar amostras de sangue e criar rapidamente um banco de dados de peptídeos ideais para inclusão em uma vacina com cobertura potencialmente ampla, com desenvolvimento e fabricação rápidas”, afirmam.
Cunha Neto também trabalha em outra estratégia de vacina contra a Covid-19, desenvolvida no Laboratório de Imunologia do Incor, com apoio da FAPESP.
“A ideia de usar a mesma estratégia da candidata à vacina do ebola para desenvolver um imunizante contra a Covid-19 é da farmacêutica americana, com quem continuamos a colaborar em outros projetos. A estratégia da vacina que estamos nos baseando aqui, no Brasil, é um pouco diferente”, disse.
O pesquisador e algumas das maiores autoridades mundiais em vacina, como Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês), têm ponderado, contudo, que o desenvolvimento de uma candidata à vacina contra a Covid-19 deve demorar de um ano a um ano e meio.
Esse tempo é necessário para a realização de todas as fases de testes, inicialmente em animais e depois em humanos, a fim de assegurar a segurança e a eficácia do imunizante, ressaltam os especialistas.
O artigo An effective CTL peptide vaccine for ebola Zaire based on survivors’ CD8+ targeting of a particular nucleocapsid protein epitope with potential implications for Covid-19 vaccine design, (doi.org/10.1101/2020.02.25.963546), de CV Herst, S Burkholz, J Sidney, A Sette, PE Harris, S Massey, T Brasel, E Cunha Neto, DS Rosa, WCH Chao, R Carback, T Hodge, L Wang, S Ciotlos, P Lloyd e R Rubsamen, pode ser lido no bioRxiv.
E o artigo Coronavirus infections – more than just the common cold (10.1001/jama.2020.0757), de Catharine I. Paules, Hilary D. Marston e Anthony S. Fauci, pode ser lido no Journal of the American Medical Association (JAMA).
Ginseng: droga à base da raiz e outros compostos raros seria a cura para todas as doenças – Reprodução
Aids, ebola, Mers e Sars. Nenhuma dessas doenças que amedrontam as pessoas ao redor do mundo são páreo para a sabedoria dos norte-coreanos, que anunciaram nesta sexta-feira, sem provas, ter encontrado a cura para todos esses males: uma droga à base de ginseng.
A agência de notícias oficial da Coreia Central disse que os cientistas desenvolveram Kumdang-2 a partir do ginseng cultivado com fertilizante misturado com elementos raros da terra. De acordo com o site local e pró-governo “Minjok Tongshin”, a droga foi originalmente produzida em 1996.
“Infecções de vírus mal-intencionados, como a Sars, ebola e Mers são doenças que estão relacionadas ao sistema imunológico, e podem ser facilmente tratadas por Kumdang-2 injetável”, disseram as autoridades.
A Coreia do Norte alardeou o mesmo medicamento durante os surtos mortais de gripe aviária em 2006 e 2013.
O paciente, de 47 anos, considerado suspeito de infecção por ebola, já está na Fundação Oswaldo Cruz, em Maguinhos. Ele foi transferido, de avião, de Cascavel (PR) para a cidade do Rio nesta manhã. Uma ambulância do Serviço de Assistência Móvel de Urgência (Samu) e uma equipe do Corpo de Bombeiros acompanharam o paciente da Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, até a unidade de saúde. Ele ficará internado no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, referência nacional para casos de ebola.
O homem suspeito de infecção pelo vírus ebola chegou recentemente da Guiné, um dos três países que concentram, o surto da doença na África, juntamente com a Libéria e Serra Leoa, onde estão concentrado o foco da doença.
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio informou que o Rio de Janeiro está trabalhando de acordo com determinações do Ministério da Saúde para manter as unidades de saúde em alerta para a possível identificação de sintomas relacionados ao vírus ebola. Um plano de contingência já foi elaborado em parceria com as secretarias municipais de Saúde, Corpo de Bombeiros e Fiocruz. Há equipamentos de proteção individual (EPIs) estocados para os profissionais de saúde.
Em caso de suspeita de paciente com o vírus, ele será encaminhado pela unidade de emergência em que for atendido para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (Fiocruz), que é a unidade de saúde de referência para isolamento e início dos cuidados médicos adequados. O ebola é uma doença de notificação compulsória imediata, que deve ser realizada pelo profissional de saúde ou pelo serviço que prestar o primeiro atendimento ao paciente, pelo meio mais rápido disponível, de acordo com a Portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014. Todo caso suspeito deve ser notificado imediatamente às autoridades de saúde das secretarias municipais, estaduais e à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
O Continente Africano registra surtos de ebola desde 1976. Entre os sintomas estão hemorragia, vômito e febre. A doença só é transmitida por meio do contato com o sangue, tecidos ou fluidos corporais de indivíduos doentes, ou pelo contato com superfícies e objetos contaminados. O vírus é transmitido quando surgem os sintomas.
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