A geração de empregos com carteira assinada atingiu este ano o quarto pior desempenho da década, em fevereiro, e, no primeiro bimestre, o quinto mais baixo desde 2004, no Rio Grande do Norte. Dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que o estado perdeu quase 3 mil vagas de janeiro a fevereiro e 2,2 mil no mês passado. As demissões foram puxadas principalmente pela indústria de transformação e, dentro dela, pela indústria sucroalcooleira.
A indústria química, liderada pelas usinas de álcool, foi a origem do maior número de cortes. O setor demitiu quase 1.400 trabalhadores, no primeiro bimestre, e 1.322 em fevereiro. No ano passado, o número de vagas perdidas não passou de 151 no mesmo mês. “Fatores relacionados à Fabricação de Álcool” foram a principal razão da desaceleração, ressaltou o Ministério, em nota.
Três usinas vêm demitindo no RN, afirma o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetarn), Ambrósio Lins. As dispensas foram registradas em unidades instaladas em Arez, Ceará Mirim e Baía Formosa e são resultado, segundo ele, do ritmo de colheita e moagem reduzido nesse período, além do fato de as usinas estarem usando mais máquinas para realizar o corte da cana. “Uma máquina substitui o trabalho de 100 homens”, explica Lins.
As dispensas nas usinas afetaram o desempenho da indústria de forma geral. O setor registrou o pior saldo no estado em fevereiro (-1.498 vagas) e também no primeiro bimestre (-2.038). A indústria têxtil e de vestuário, que perdeu 112 vagas em fevereiro e 714 no bimestre foi outra que influenciou negativamente os números. E o movimento vai continuar. Isso porque só a Coteminas vai demitir 550 trabalhadores em São Gonçalo do Amarante. As dispensas serão motivadas pela desativação da área de fiação e tecelagem da unidade, cujo terreno dará lugar a um complexo imobiliário.
EXPORTAÇÕES
Enquanto desacelerou na geração de empregos, o setor sucroalcooleiro avançou em vendas para outros países. Dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico mostram que o setor exportou US$ 9,0 milhões em açúcar, de janeiro a fevereiro. Foi o segundo maior valor entre os produtos negociados pelo estado, atrás do melão, com US$ 11 milhões.
Agropecuária fecha mais de 1,8 mil vagas no Estado
A indústria de transformação não foi a única atividade a reduzir o ritmo de contratações este ano. O setor agropecuário também integra o ranking dos que mais dispensaram trabalhadores no período. Só em fevereiro, o setor cortou 958 vagas com carteira assinada. No bimestre, foram -1.835, desempenho que, apesar de negativo, foi melhor que o do mesmo período do ano passado, quando mais 2 mil trabalhadores perderam o emprego no estado.
Este ano, pelo menos dois fatores ajudam a explicar o ritmo. “Na agricultura temos produção de melão reduzida nessa época. E na pecuária, os problemas registrados no programa do governo (o Programa do Leite) tem estimulado as demissões”, diz o presidente da Fetarn, Ambrósio Lins. “O setor só voltará a contratar com mais intensidade quando recomeçar a safra (entre maio e junho). Na agropecuária,a retomada depende do programa do governo”, analisa ainda.
No caso do melão, a entressafra, quando a colheita é reduzida, começa em janeiro e se estende até maio em consequência do período chuvoso, quando a produtividade da fruta cai. “Em razão disso há demissões. Grande parte dos trabalhadores vai plantar milho e feijão no interior deles. Em junho, julho retornam”, diz o diretor do Coex, que reúne produtores e exportadores do RN e Ceará, e presidente do Sindicato dos produtores rurais de Mossoró e Baraúna, Francisco Vieira da Costa. Ele explica que desde 2008 as margens de lucro do setor vêm diminuindo, influenciadas pelo aumento de custos de produção e pelo dólar enfraquecido, que acaba prejudicando a receita com as exportações.
O preço na Europa, principal consumidora do melão potiguar, também foi reduzido, entre 8% e 10%, de 2008 para 2009 e não voltou a subir a partir de então, por causa da crise financeira que afeta os países. “Os produtores precisam ter muita eficiência na produção para sobreviver no negocio. Por isso não podem correr o risco de segurar o pessoal até mais tarde, fevereiro e março, como ocorria antes”, acrescenta.
Fonte: Tribuna do Norte
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