Foto: (Marco Vacca/Getty Images)
Depois que cientistas israelenses imprimiram o primeiro mini-coração 3D usando tecido humano, chegou a hora do Brasil entrar em cena. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) usaram células sanguíneas humanas para desenvolver organóides hepáticos — em português claro, mini-fígados.
Os mini-órgãos fazem as mesmas funções que um fígado normal: sintetizam proteínas, armazenam e secretam substâncias exclusivas do órgão, como a albumina. Mas a sua aparência é bem diferente de um órgão tradicional. Como você pode ver no vídeo abaixo, a versão 3D em miniatura parece uma espécie de rosquinha amarela.
Para produzir os fígados, os cientistas utilizaram amostras de sangue de três voluntários. As células sanguíneas são reprogramadas para se tornarem pluripotentes, ou seja, poderem se “transformar” em qualquer outro tecido humano (uma característica típica das células-tronco). Elas se diferenciam em células hepáticas e são misturadas à biotinta da impressora.
A grande inovação do grupo de brasileiros está em como incluir essas células na tinta. Normalmente, as impressoras 3D costumam imprimir células individualizadas, o que acaba prejudicando o contato entre elas e fazendo com que percam a funcionalidade.
Os pesquisadores desenvolveram uma técnica que agrupa as células antes de serem misturadas na biotinta, formando pequenos esferóides. Esses agrupamentos de células garantem que o contato entre elas não seja perdido. Assim, o órgão é capaz de funcionar por muito mais tempo.
A impressão em si demora alguns minutos, mas o processo não para por aí. Depois que o órgão foi impresso, ele ainda precisa passar por um período de maturação de 18 dias. Todo o processo, desde a coleta do sangue até chegar no órgão funcional, demora cerca de 90 dias.
O artigo que descreve a criação do mini-órgão foi publicado na revista Biofabrication. Os mini-fígados, é claro, estão longe de estarem prontos para serem transplantados em humanos, mas essa é uma possibilidade viável. Em entrevista à Agência FAPESP, o pesquisador e autor do estudo Ernesto Goulart disse que é fácil progredir para a produção de órgãos inteiros se houver interesse e investimento.
“Ainda existem etapas a serem alcançadas até obtermos um órgão completo, mas estamos em um caminho muito promissor. É possível que, em um futuro próximo, em vez de esperar por um transplante de órgão seja possível pegar a célula da própria pessoa e reprogramá-la para construir um novo fígado em laboratório. Outra vantagem importante é que, como são células do próprio paciente, a chance de rejeição seria, em teoria, zero” disse a pesquisadora Mayana Zatz, coautora do estudo.
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