GALINHAS COM DNA HUMANO LIBERAM OVOS QUE CONTÉM MEDICAMENTO CONTRA CÂNCER (FOTO: NORRIE RUSSELL, THE ROSLIN INSTITUTE)
Pesquisadores do Reino Unido criaram galinhas geneticamente modificadas que podem botar ovos que contêm proteínas para combater a artrite e alguns tipos de câncer. Segundo o estudo publicado no periódico BMC Biotechnology, a produção pode ser ampliada com o tempo para liberar medicamentos em quantidades comerciais.
De acordo com Lissa Herron, da empresa britânica Roslin Technologies, as aves não sofrem e são mimadas em comparação com outros animais de fazenda. “Elas vivem em cercados muito grandes, são alimentadas e cuidadas diariamente por técnicos treinados, vivendo de forma bastante confortável”, ela afirmou em entrevista à BBC. “Até onde a galinha sabe, é como botar um ovo normal. Isso não afeta sua saúde de forma alguma.”
Existem doenças que são causadas porque o organismo humano não produz naturalmente uma certa substância química ou proteína o suficiente. Tais enfermidades podem ser controladas com remédios que contenham a proteína que falta – e os remédios sintéticos de empresas farmacêuticas geralmente são caros.
Neste estudo, os cientistas conseguiram reduzir os custos ao inserir um gene humano – que normalmente produz a proteína deficiente – na parte do DNA das galinhas envolvida na produção dos ovos.
OVOS DE GALINHA PODERÃO SER USADOS PARA DESENVOLVER REMÉDIOS CONTRA O CÂNCER (FOTO: MAX PIXEL/CREATIVE COMMONS)
Os pesquisadores se concentraram em duas proteínas essenciais para o sistema imunológico: o IFNalpha2a, que tem efeitos antivirais e anticâncer; e o macrófago-CSF, que está sendo desenvolvido como terapia para estimular tecidos danificados para autorreparação.
Os resultados apontaram que três ovos são suficientes para produzir uma dose de remédio – e as galinhas podem botar até 300 ovos por ano. Com muitas aves, os estudiosos acreditam que podem produzir medicamentos em larga escala.
Eles afirmaram que o desenvolvimento de fármacos para os humanos e os documentos regulatórios necessários levarão entre 10 e 20 anos para ficar prontos. No momento, os ovos são apenas para fins de pesquisa e não estão à venda nos supermercados.
A revolução dos bichos
Estudos anteriores já haviam demonstrado que cabras, coelhos e galinhas geneticamente modificadas poderiam produzir terapias proteicas a partir de seu leite ou ovos. Os cientistas dizem que essa nova abordagem é mais eficiente e com melhores rendimentos.
“A produção de frangos pode custar de 10 a 100 vezes menos do que as fábricas. Por isso, esperamos ver pelo menos 10 vezes o custo total de fabricação”, declarou Herron. A economia vem do fato de que galpões de galinhas são mais baratos de construir e operar do que salas estéreis de produção industrial.
Os pesquisadores ainda esperam poder usar galinhas para melhorar a saúde veterinária, com o desenvolvimento de medicamentos que estimulam o sistema imunológico de animais de criação como uma alternativa aos antibióticos, o que reduziria o risco do desenvolvimento de novas cepas de superbactérias resistentes a antibióticos.
De acodo com Herron, ainda há o potencial para usar as propriedades curativas do macrófago-CSF para tratar bichos de estimação. “Podemos usá-lo para regenerar o fígado ou os rins de um pet que tenha sofrido danos nestes órgãos”, ela explicou.
“Ainda não estamos produzindo medicamentos para as pessoas, mas este estudo mostra que as galinhas são comercialmente viáveis para produzir proteínas adequadas para remédios e outras aplicações em biotecnologia”, declarou Helen Sang, professora do Instituto Roslin da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido.
Galileu
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