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O plástico, produzido a partir do petróleo, se tornou um dos grandes vilões do meio ambiente. O uso de sacolas de supermercados, copos e canudinhos vem sendo cada vez mais evitado.
Embora o consumo de plástico deva crescer 1,5% neste ano, para 7,2 milhões de toneladas no país, essa aversão vem provocando uma espécie de revolução silenciosa em toda a cadeia da indústria petroquímica.
De um lado, há o desenvolvimento de tecnologias para produzir resinas plásticas a partir de fontes renováveis, como cana-de-açúcar, milho, mandioca e batata. Do outro, a busca pela reutilização do material que hoje é descartado na natureza.
De acordo com a European Bioplastics, associação das empresas do setor, os plásticos feitos a partir de fontes renováveis respondem por apenas 1% da produção global de plásticos, de 359 milhões de toneladas.
Mas uma série de iniciativas deve incrementar essa fatia, inclusive no Brasil.
— Há um esforço de toda a indústria em criar novos plásticos, mais leves e mais fáceis de serem reciclados, a partir de fontes renováveis. Essas soluções ainda são muito novas e muitas ainda estão em fase inicial. Mas são extremante importantes para o futuro – disse José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).
Embalagem sustentável
No Brasil, a Braskem, maior produtora de resinas da América Latina, vem investindo no desenvolvimento de plásticos a partir da cana-de-açúcar. A companhia tem uma unidade no Rio Grande do Sul voltada para esse tipo de plástico, que consumiu investimentos de US$ 290 milhões.
A empresa se prepara para atingir a produção de 10 mil toneladas por ano de uma resina a partir do etanol (chamada de Eva), que tem aplicação para diversos setores, como o de calçados e automotivo, entre outros. E estuda ampliar suas operações.
— A gente imagina que a demanda pelo plástico verde vai crescer mais rápido do que a do plástico de origem fóssil (a partir do petróleo), e a gente avalia oportunidade de novos investimentos — disse Edison Terra, vice-presidente da Unidade de Olefinas e Poliolefinas da Braskem na América do Sul.
Segundo ele, há uma demanda crescente no mercado por esse tipo de produto, e a companhia tem analisado novas alternativas possíveis de investimento, mas ainda não foi tomada qualquer decisão nesse sentido.
— Trabalhamos em diferentes opções de aumento de capacidade da produção do plástico verde. Estamos sempre atentos a oportunidades de negócios sustentáveis — afirmou Terra, destacando que a companhia vem desenvolvendo pesquisas para buscar outras fontes renováveis.
Na ponta dessa cadeia, a indústria vem adotando com rapidez as inovações. É o caso da Copapa, uma fabricante de papel higiênico que usa plástico feito a partir do milho. Fernando Pinheiro, diretor executivo da Copapa, lembra que, ao iniciar uma série de mudanças sustentáveis em sua linha de produção, buscou novas opções para o plástico usado nas embalagens do papel higiênico.
Após estudar alternativas, passou a usar uma resina a partir do milho, que é importada da Alemanha. A troca faz parte dos R$ 10 milhões que a companhia investiu em pesquisa e desenvolvimento.
— O plástico ganhou uma fama de vilão no mundo todo. Hoje, a dificuldade é buscar os fornecedores certos. Apesar de termos um custo maior com o plástico feito de milho, reduzimos a margem de lucro para que o produto fosse acessível – disse Pinheiro, cuja unidade fabril fica em Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro.
‘Lavagem verde’
Kate Melges, especialista na campanha de plástico do Greenpeace nos Estados Unidos, critica a busca pelo plástico verde. Ela diz que mudar de plástico descartável para papel, bioplástico ou até materiais compostáveis não é solução.
— Isso é apenas uma lavagem verde usada por multinacionais para manter viva a cultura descartável. E com apenas 9% do plástico produzido realmente reciclado no mundo, sabemos que esse também não é o caminho a seguir — afirmou Kate.
Para ela, não se pode considerar o plástico de base biológica recurso renovável:
— Não é renovável, pois há pressões do uso da terra e de emissões e processos agrícolas. O plástico de base biológica representa cerca de 1% do plástico do mundo. E a maioria do mercado não é 100% (de fonte renovável), mas, sim, uma combinação de material com origem em combustível fóssil e não fóssil.
Brasil recicla apenas 26% do material
Além da busca de mais fontes renováveis, outra área de atuação da indústria é a reciclagem do plástico. O Brasil tem hoje um índice de reciclagem de 26%, percentual bem abaixo do de países da Europa, como Portugal, Espanha e Alemanha, cuja taxa oscila entre 40% e 50%.
Edison Terra, vice-presidente da Unidade de Olefinas e Poliolefinas da Braskem na América do Sul, destaca as iniciativas que visam ao reaproveitamento do plástico. Segundo ele, outra frente de trabalho é conseguir produzir novamente uma resina plástica com qualidade a partir da reciclagem dos materiais usados.
— Temos trabalhado de forma conjunta com toda a cadeia petroquímica para encontrar soluções para os resíduos de plásticos, porque é um problema que não dá para ignorar — explicou Terra.
Hoje, no Brasil, a reciclagem de plástico ainda é pequena: cerca de um quarto de todo o material descartado é reaproveitado, dizem a Braskem e a associação do setor.
— Estamos investindo no desenvolvimento de tecnologias no campo da reciclagem química, e o nosso foco é transformar plásticos pós-consumo, como sacolinhas de mercado e filmes de embalagens de salgadinhos e biscoitos, novamente em produtos químicos que podem ser utilizados em diversas cadeias de valor — destacou Terra.
A SC Jonhson, fabricante de produtos como Off e Raid, selou uma parceria com a canadense Plastic Bank, que recolhe e recicla garrafas e sacos que chegam aos mares.
Centros de coleta no Rio
A organização, que acabou de abrir três centros de coleta no Rio, vai inaugurar seis novas unidades entre fevereiro e maio deste ano.
David Katz, presidente da empresa e idealizador da iniciativa, diz que os novos locais ainda não foram definidos.
— Pretendemos estar em áreas vulneráveis socialmente, perto da região da Baía de Guanabara. O Rio é a nossa primeira cidade escolhida fora da Ásia — afirmou.
A Plastic Bank paga pelo plástico que recebe de catadores. Segundo o Sindicato Independente de Recicladores do Rio de Janeiro, existem cerca de 300 mil catadores independentes que dependem da coleta de materiais recicláveis nas ruas.
O que o centro de coleta faz é revender esse plástico a empresas. A SC Jonhson, por exemplo, vai lançar neste ano uma garrafa 100% reciclada para uma de suas marcas.
— Construir uma infraestrutura que interrompa o ciclo desses resíduos antes que terminem no oceano é fundamental — disse Fisk Johnson, presidente do Conselho de Administração e presidente executivo da SC Johnson.(R. O. e B. R.)
O Globo
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