Foto: Reprodução / Adriano Abreu
Passados quase dois anos após a sua demolição, o terreno onde funcionava o antigo Hotel Internacional Reis Magos, na Praia do Meio, zona Leste de Natal, ainda não tem um projeto pronto para sua área, de cerca de 9.500m². Segundo o advogado que representa a empresa Hotéis Pernambuco S/A, dona do espaço, o projeto só será formatado após a publicação do novo Plano Diretor de Natal, em tramitação na Câmara e com previsão de aprovação até o fim do ano.
De acordo com o advogado que representa a empresa, João Vicente Gouveia, ainda não há definições sobre o que será erguido no terreno bem localizado na avenida Café Filho, na praia do Meio. “Será aguardada a definição do novo Plano Diretor para saber o que será feito com o terreno. O que se sabe é que não será um hotel”, disse, acrescentando ainda que já houve conversas com eventuais investidores, mas nada concreto.
Atualmente, o espaço que abrigava o Hotel Reis Magos basicamente está terraplanado, sem árvores ou plantações e não possui nenhum empreendimento desde a demolição, iniciada no dia 08 de janeiro de 2019. O baixo muro que cerca o terreno recebeu pichações e grafitagens.
De acordo com o titular da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb), Thiago Mesquista, a área da Praia do Meio, assim como toda a orla de Natal, pode ser impactada com a aprovação do Plano Diretor que tramita na Câmara. O gabarito na orla continuará sendo 7m, com exceção da Redinha, que poderá ter prédios de até 30m.
“Ponta Negra, Praia do meio e Redinha teremos uma mudança de uso, passando a ser misto. Hoje é exclusivamente turístico. Vamos permitir que seja também imobiliário, com exceção da Via Costeira, que não poderá ter condomínios multifamiliares”, explica.
O titular da pasta confirmou ainda que não recebeu qualquer tipo de pedido ou informação a respeito de perspectivas para o terreno onde funcionava o Hotel Reis Magos.
O Hotel
Localizado na Praia do Meio, o Hotel Internacional Reis Magos foi fundado em setembro de 1965 pelo então governador do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves. O empreendimento funcionou como hotel de luxo entre 1965 e 1995, quando foi desativado. À época de sua demolição, o local estava em ruínas, deteriorado e acumulando lixo e sujeira.
O complexo possuía 63 apartamentos, uma suíte presidencial, recepção, salões nobres, elevadores, parque aquático, sauna, playground, restaurante, estacionamento, entre outras áreas. O empreendimento foi adquirido pelo grupo Hotéis Pernambuco S/A em 1978, que operou o local por 10 anos, após uma grande reforma em 1979/1980. Depois, o local foi arrendado de 1989 a 1995; e de 1995 a 2002. Nesse último período houve ordem de despejo litigioso para o ocupante.
Em 2013, o grupo chegou a anunciar que faria a demolição do prédio para a construção de um empreendimento comercial, mas a proposta gerou desconforto e protestos por parte de estudantes de arquitetura. Na avaliação da defesa da empresa, laudos comprovavam que a estrutura do prédio não suportaria uma restauração.
Em ruínas e em estado de degradação à época, o Hotel Internacional Reis Magos não teve um futuro definido por décadas, o que contribuiu para sua degradação e consequentemente, demolição, após uma série de processos judiciais. O prefeito Álvaro Dias (PSDB) chegou a dizer que o prédio “enfeiava” a orla de Natal, sendo favorável à derrubada da estrutura.
“Isso não é patrimônio histórico. Ruínas, o prédio caindo, já desmoronou uma parte, pelo contrário: é um atentado ao ser humano, à vida humana que se coloca em risco. Isso é inadmissível, é preciso que se resolva. É uma contribuição para modernizar nossa orla marítima. Temos uma das praias mais bonitas do mundo, não podemos permitir que obras como essa enfeiem e prejudiquem nossa cidade”, disse Álvaro Dias no dia da demolição.
Revisão do PDN não muda situação do Hotel BRA
Obra embargada desde 2005 a pedido do Ministério Público Federal (MPF), o imbróglio envolvendo o “Hotel BRA” não será resolvido pela revisão do Plano Diretor, segundo informações do secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, Thiago Mesquita.
“Aquele hotel é uma questão judicial, saiu da esfera do município. Está na justiça. Não tem nenhuma mudança de prescrição urbanística que vá solucionar aquele problema”, explica.
O “Hotel BRA” pertence à empresa Nathwf Empreendimentos S/A. Há 16 anos, a Justiça Federal proibiu a continuidade da obra por ela ter um pavimento maior do que o permitido na legislação ambiental.
Em reportagens publicadas em anos anteriores na TRIBUNA DO NORTE, a empresa chegou a demonstrar interesse em retomar a obra e realizar mudanças no projeto inicial para se adequar à legislação ambiental vigente.
Uma das últimas decisões judiciais relativas ao empreendimento é de 2016, do juiz federal Magnus Delgado, que determinou que o município de Natal providenciasse o licenciamento da obra, ao passo em que a empresa deveria realizar o projeto corrigido. Uma das adequações necessárias, segundo reportagens da época, seria a demolição do último piso.
A reportagem procurou o advogado da empresa, Kaleb Freire. Ele falou que não vai se manifestar sobre o assunto, cabendo apenas à diretoria da Nathwf Empreendimentos S/A falar sobre o tema. O empresário Humberto Folegatti foi contatado, mas não estava disponível para gravar entrevista.
De acordo com Thiago Mesquita, são previstas modificações na Via Costeira. A rodovia se enquadra numa Área Especial de Interesse Turístico e Paisagístico (AEITP) e a proposta é que a Via Costeira passe a ter empreendimentos de menor porte. O documento encaminhado à Câmara prevê lote mínimo de 2.000 m² (atualmente é de 5 a 30 mil m²) e taxa de ocupação de 60% do lote (PDN atual é de 40%). O gabarito seguirá sendo o mesmo.
Prédio abandonado
Sem estar concluído e com boa parte das obras ainda por terminar, o “Hotel BRA”, localizado na Via Costeira, chama a atenção dos turistas e moradores de Natal que circulam diariamente pela avenida Senador Dinarte Mariz. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou nas instalações do prédio inacabado na tarde da última quarta-feira (06).
Foi possível constatar que a maresia já deteriorou boa parte da estrutura, que em dados momentos, foi invadida por populares e moradores. Há pichações, desenhos em paredes, bem como objetos soltos, como pneus, botas, entre outros. Na entrada do espaço, uma empresa faz a vigilância do empreendimento.
Boa parte das paredes apresentam rachaduras, há mato, capim e cactos crescendo por entre as paredes e os “esqueletos” de sustentação do concreto surgem em alguns trechos da obra. Há equipamentos como betoneira, carroças, parte de um guindaste e de um quadro de energia, tomados pela ferrugem.
Com informações de Tribuna do Norte
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