Os primeiros detalhes sobre os depoimentos de Carla Ubarana e George Leal à Justiça, tomados na última sexta-feira, começam a aparecer. De acordo com o advogado Heráclito Higor Noé, que presenciou todos os depoimentos na condição de defensor da acusada Cláudia Sueli, Carla e George responderam de forma objetiva aos questionamentos do juiz, confessando os crimes imputados e detalhando como se iniciaram as fraudes dentro do Tribunal de Justiça. Carla Ubarana rememorou o início de suas atividades como chefe do setor de precatórios e como se chegou ao início dos desvios.
A ex-chefe da Divisão de Precatórios do TJRN afirmou também que Cláudia e os demais laranjas não sabiam da origem do dinheiro recebido em suas contas.
Segundo o advogado Heráclito Higor, que recebeu a reportagem da TRIBUNA DO NORTE na tarde de ontem, em seu escritório, Carla relatou primeiramente o motivo de ter sido chamada para a divisão de precatórios, no início da gestão do desembargador Osvaldo Cruz na presidência do TJRN. “No depoimento, ela contou que foi chamada porque era boa com números. A ordem foi para organizar o setor, que não estava indo bem”, diz Heráclito Higor, acrescentando que antes de Carla, segundo a própria no depoimento, haviam sido identificadas “duas ou três” quebras de ordem. “Por isso ela foi chamada”, diz.
A partir disso, e com a organização do setor, passou a sobrar dinheiro no “caixa” da divisão de precatórios. Foi nesse ponto, segundo o advogado, que Carla Ubarana fixou o início dos desvios no setor. A iniciativa de operar o “esquema” teria sido, segundo o depoimento de Carla Ubarana, do desembargador Osvaldo Cruz. “Carla disse que o desembargador falou, se referindo ao dinheiro que havia sobrado: ‘Como podemos trabalhar essa verba? Dá para trabalhar essa verba?’ “, relata Heráclito.
A partir daí, as contas bancárias de George e Carla teriam sido utilizadas, numa primeira fase, para receber o dinheiro dos precatórios. Fontes da TRIBUNA DO NORTE afirmam que as provas coletadas pelo Ministério Público Estadual são cheques nominais, ofícios e outros documentos assinados pelos desembargadores. Há documentos, ainda segundo as fontes, que autorizam o pagamento à própria Carla Ubarana e à Gles Empreendimentos, empresa de George Leal.
Um outro ponto importante do relato do advogado Heráclito Higor sobre o depoimento de Carla Ubarana foi a transição entre a presidência de Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro. A ex-chefe do setor de precatórios, segundo o advogado, disse em depoimento que a continuação do esquema foi acertada da mesma forma como no início. “Carla disse que acertou com Rafael a continuidade dos pagamentos. Mas, segundo ela, o dinheiro agora era dividido por três. Recebiam ela, Rafael Godeiro e Osvaldo Cruz, que teria continuado a receber, ainda segundo Carla”, diz.
Os desembargadores citados negaram todas as acusações de Carla Ubarana. Segundo Rafael Godeiro e Osvaldo Cruz, o depoimento não confere com a realidade. Eles afirmam ser inocentes. O Ministério Público Estadual pediu o envio, por parte do juiz da 7ª Vara Criminal, José Armando Ponte, das informações dos autos para o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça e para a Procuradoria Geral da República.
Fonte: Tribuna do Norte
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