Rafael Barbosa Do G1 RN
As cirurgias ortopédicas no Hospital Regional Deoclécio Marques, em Parnamirm, na região metropolitana de Natal, foram suspensas nesta terça-feira (11) porque os enfermeiros, os técnicos e os cirurgiões não têm fardamento esterilizado para entrar no centro cirúrgico. De acordo com o médico Jean Valber, coordenador de Ortopedia do Estado, a lavanderia contratada para lavar as roupas usadas durante as intervenções não recebeu o repasse do Governo e não entregou as peças.
Em nota enviada pela assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), o Estado se comprometeu em fazer o repassa do dinheiro ainda nesta terça para que a lavanderia retome os serviços.
Em entrevista ao G1, o médico Jean Valber contou que tem utilizado seu próprio carro para buscar os fardamentos emprestados em outras unidades na capital, como na Maternidade Divino Amor, lá mesmo em Parnamirim, e no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, porque já há algum tempo que a lavanderia não realiza o serviço. Porém, hoje, o médico não conseguiu o fornecimento com as direções dos hospitais.
Nesta segunda-feira (10), somente uma cirurgia foi realizada no Deoclécio Marques e outras cinco canceladas. Nesta terça, oito já foram suspensas por causa do problema com a falta de fardamentos limpos.
A unidade também sofre com problemas no atendimento aos pacientes. Segundo Jean Valber, a situação se agravou depois do fechamento dos centros cirúrgicos dos hospitais Memorial e Médico-Cirúrgico, ambos em Natal. “As unidades realizavam, em média, 40 cirurgias ortopédicas por dia. E esta demanda foi transferida para o Deoclécio, que possuía média de seis a oito cirurgias diárias”, explicou o médico.
Falta de macas
O setor de ortopedia do Hospital Deoclécio Marques dispõe de seis macas, sendo quatro para os pacientes que estão se recuperando de cirurgias e duas utilizadas para o transporte de pessoas. Todas as camas estão ocupadas na enfermaria. Até as 7h desta terça-feira, 74 pessoas estavam internadas no setor aguardando pela realização de cirurgia, sendo 29 em macas espalhadas pelos corredores e o restante em cadeiras e bancos.
José Francisco Ribeiro de Pontes, de 37 anos, é uma dessas pessoas. Ele chegou no último sábado (8) da cidade de Monte Alegre, na Grande Natal, e aguarda em uma cadeira plástica no corredor do hospital para ser atendido. “Desde sábado estou dormindo nesta cadeira”, reclamou José Francisco. Ele conta que fraturou parte do dedo indicador esquerdo quando soltava fogos de artifício próximo de casa.
Com o acúmulo de pacientes na unidade, também faltam macas para alojá-los. O paramédico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Almir Reis diz que desde ontem uma maca de uma ambulância a qual ele é responsável está presa no hospital. Reis atendeu a um homem que sofreu acidente de motocicleta em Parnamirim, e o conduziu até o Deoclécio Marques.
Ao chegar na unidade, foi informado que o paciente precisaria permanecer na maca do carro do Samu, porque não havia mais camas disponíveis. “E desde ontem ele está lá no corredor, e a nossa viatura parada”, completou o técnico.
Segundo Almir Reis, a ambulância parada foi montada especificamente para atender acidentes de trânsito, sendo usada para retirar pessoas de ferragens. Ainda de acordo com Almir, este é o único veículo estruturado para este serviço que está à disposição do Samu da Região Metropolitana de Natal. Ao todo são nove ambulâncias do Samu nos corredores da unidade.
Apesar de ter o perfil de atendimentos a traumas ortopédicos, o Hospital Deoclécio Marques recebe pacientes com complicações de saúde de diversos tipos, e vindos de várias cidades do interior do Rio Grande do Norte. É o caso de Flávio Medeiros, de 53 anos. Ele sofreu um enfarte no último domingo em Acari, na região Seridó do estado, e foi encaminhado para o hospital de Parnamirim.
O filho de Flávio, Tiago da Silva Medeiros, conta que ele ainda foi levado para os hospitais de Caicó e Currais Novos, ambos no Seridó, mas nenhum deles dispunha de vagas. “Meu pai ficou na maca até ontem (segunda-feira) com um aparelho de oxigênio e tomando soro no corredor”, afirmou Tiago Medeiros. Flávio Medeiros permaneceu durante todo o domingo na mesma maca em que chegou ao hospital, e conseguiu transferência para a sala de reanimação no dia seguinte.
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