Saúde

Casos de dengue no país têm maior patamar desde epidemia de 2015

O Ministério da Saúde antecipou este ano o combate ao mosquito Aedes aegypti. FOTO: EFE/ Marcelo Sayão

O verão ainda não chegou, mas o país já está em alerta contra a dengue e o mosquito Aedes aegypti, seu transmissor, pois foram registrados neste ano quase 1,5 milhão de casos, o maior patamar desde 2015, segundo dados oficiais.

Embora a doença seja endêmica no Brasil e os picos sejam comuns a cada dois ou três anos, o expressivo aumento de registros antes mesmo da chegada da primavera – que começa no próximo dia 23 – e da temporada de chuvas vem provocando preocupação na comunidade médica e científica do país.

Segundo dados do Ministério da Saúde, pelo menos 591 pessoas morreram devido à doença de 30 de dezembro de 2018 a 24 de agosto deste ano, e outras 486 mortes suspeitas de terem a dengue como causa estão sob investigação. Neste período foram registrados mais de 1,4 milhão de casos de dengue, um crescimento de 600% em relação ao mesmo período de 2018 (que foi de 205.791). Foi o maior índice desde 2015, quando houve 1,6 milhão de casos de janeiro a dezembro.

Apesar de a dengue ser considerada uma doença cíclica, a preocupação entre médicos, agentes de saúde e autoridades é que o período mais quente e úmido do ano ainda não começou.

“A temporada de chuvas ainda não chegou. É quando os casos se multiplicam. Nós ainda estamos no inverno – um bastante seco, inclusive. Não deveríamos ter esse pico da dengue agora, esses números estão fora da curva”, afirmou o médico Thiago Henrique dos Santos, mestre em Saúde Pública pela USP.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que uma situação é considerada epidemia a partir de 300 casos para cada 100 mil habitantes. Atualmente, a taxa de incidência da doença no Brasil é de 690,4 casos a cada 100 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde.

Santos criticou o que classificou como desmonte das políticas públicas de prevenção da doença.

“O governo está correndo atrás do prejuízo”, disse o médico, que lamentou os cortes drásticos para o setor de saúde pública, que vem acontecendo desde 2016.

Essa redução, segundo Santos, impactou de maneira significativa os recursos das equipes de saúde ambiental que atuam em todo o país no combate à dengue e que dão orientação aos moradores sobre as melhores estratégias de prevenção da doença.

O médico e pesquisador Alexander Precioso, diretor da Divisão de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Instituto Butantan, também vê os orçamentos cada vez menores como uma preocupação para todos que trabalham com pesquisa no país.

O especialista, no entanto, afirmou que, no campo da dengue, os recursos estão em uma “situação bastante satisfatória”.

Precioso é um dos pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento de uma vacina de dose única contra os 4 tipos da doença. Ele aponta que mesmo que a fórmula tenha proteção confirmada, dificilmente acabará sozinha com a doença, e por isso o país não pode abandonar as outras ações.

“A luta contra a dengue é uma batalha eterna. É uma luta que depende de políticas públicas de saúde, de ações governamentais, mas também da participação ativa da população”, garantiu.

Com isso, as visitas casa a casa e a orientação aos moradores de áreas de risco continuam sendo a maneira mais eficaz de combate aos criadouros do mosquito, permitindo, assim, que seja interrompido o contágio da população urbana.

“O período para que uma larva se transforme em mosquito é de apenas uma semana. É um ciclo muito rápido, constante e a partir do momento que as pessoas esquecem os recipientes cheios de água, os casos de dengue voltam a disparar”, declarou à Efe a agente de endemias do município de São Paulo, Dulcineia Prates.

Porém, a maior cidade do Brasil é considerada uma “bolha” que constrasta com os números nacionais: enquanto em todo o estado de São Paulo o coeficiente de incidência alcançou a marca de 959,7 casos por 100 mil habitantes, na capital paulista a taxa se situa em 138 casos a cada 100 mil pessoas, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.

A coordenadora do Departamento Municipal de Vigilância em Saúde de São Paulo, Solange Saboia, contou que estão sendo preparadas atividades ampliadas de combate ao mosquito nos meses que antecedem o verão, devido à situação alarmante deste ano.

“Temos bastante preocupação em relação à chegada do calor e das chuvas e, por isso, estamos antecipando várias das estratégicas de intensificação”, explicou.

Por sua vez, a agente de endemias Marlene Ferreira, que há 18 anos faz visitas residenciais, lembrou que, para uma prevenção efetiva, é necessário um esforço coletivo, constante, maciço e metódico.

“Logo chega a temporada de chuvas, e qualquer respingo de água nos vasos de planta ou tigelas de animais já é suficiente para que o mosquito venha, coloque seus ovinhos, e a gente tenha um novo surto de dengue”, alertou.

EFE

 

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Diversos

Confiança dos empresários da construção tem maior patamar desde 2014

Antônio Cruz/Agência Brasil

O Índice de Confiança da Construção (ICST), calculado pela Fundação Getulio Vargas, (FGV) subiu 0,8 ponto em dezembro, na comparação com novembro e alcançou 85,5 pontos. É o maior nível desde dezembro de 2014, quando chegou a 88,8 pontos.

Segundo a pesquisadora da FGV Ana Maria Castelo, os empresários perceberam melhora no ambiente de negócios da construção ao longo de 2018, “mas isso não vai se traduzir em um resultado positivo para o PIB do setor”.

O Índice de Situação Atual, que mede a percepção sobre o presente, subiu 0,6 ponto de novembro para dezembro e chegou a 74,7 pontos, o maior nível desde abril de 2015 (75,5 pontos).

O Nível de Utilização da Capacidade do setor avançou 1,9 ponto percentual, para 66,6%. As expectativas de recuperação da demanda do setor estão se refletindo positivamente nas intenções de contratação.

A proporção de empresas que relatam redução no quadro de pessoal para os próximos meses caiu de 26,2% em dezembro de 2017, para 20,5% em dezembro de 2018.

A parcela de pessoas que reportaram aumento subiu de 13,9% para 19,5%.

Agência Brasil

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Economia

Juros do cheque especial chegam a 220,4% ao ano, maior patamar desde 1995

CDXuqCoW4AEh2aiAs taxas de juros das principais linhas de crédito rotativo para os brasileiros – cheque especial e cartão de crédito – voltaram a subir em março, informou nesta sexta-feira o Banco Central (BC). De acordo com relatório divulgado pela autoridade monetária, os juros do cheque especial atingiram nada menos que 220,4% ao ano em março de 2015. Esse é o maior patamar registrado desde dezembro de 1995. Em fevereiro, a taxa era de 214,2% e, em janeiro, de 209%. Já em março de 2014, os clientes do cheque especial pagavam 159,4% ao ano.

No caso dos cartões de crédito, as taxas de juros alcançaram um patamar ainda mais alto: 345,8% ao ano em março. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, o valor representa um recorde na série histórica desse indicador, que começou a ser feita em março de 2011. Em fevereiro, essas taxas eram de 342,7% e, em janeiro, de 334,6% ao ano. No mesmo período do ano passado, os juros do cartão de crédito eram de 313,7% ao ano.

Esse aumento das taxas de juros, no entanto, não se refletiu num aumento da inadimplência dos consumidores. Segundo a nota do BC, no caso do cartão de crédito, ela se manteve estável em 34,1% entre fevereiro e março de 2015. Já no caso do cheque especial ela teve uma redução de 13,6% para 12,8% no mesmo período.

— A inadimplência de pessoas físicas e jurídicas ficou bem comportada em março. Houve uma estabilidade num patamar relativamente baixo — afirmou Maciel.

A taxa média de juros cobrada das pessoas físicas nas operações de crédito com recursos livres também cresceu no terceiro mês do ano. Ela passou de 54,3% ao ano em fevereiro de 2015 para 54,4%. Já no caso das empresas, os juros para empréstimos com recursos livres subiram de 26,1% para 26,5% no mesmo período de comparação.

De acordo com o BC, o crédito total do sistema financeiro, incluindo operações com recursos livres e direcionados, atingiu R$ 3,06 trilhões em março, o que representa um aumento mensal de 0,4% em relação a fevereiro. Isso foi reflexo principalmente de um aumento da demanda das empresas e também do maior número de dias úteis no mês.

A carteira de crédito das pessoas jurídicas somou R$ 1,622 trilhão – com alta de 1,6% sobre fevereiro. Já a carteira das pessoas físicas atingiu R$ 1,439 trilhão e cresceu 0,8% no mesmo período. Assim, o crédito no país ficou em 54,8% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), contra 54,4% em fevereiro e 52,2% em janeiro de 2015.

Segundo Maciel, o BC espera que esse indicador termine o ano em 57% do PIB. Ele explicou que o governo trabalhava anteriormente com uma expectativa de 61%. No entanto, como houve mudanças nos cálculos do PIB, a conta foi refeita e a projeção ficou um pouco menor.

O Globo

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *