A tentativa de superar o impasse na disputa entre o PT e a bancada evangélica pelo comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara pode colocar lado a lado, na mesa de direção desta comissão, dois adversários políticos: o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e o deputado defensor da causa LGBT, Jean Wyllys (PSOL-RJ). Pelo acordo, a bancada evangélica apoiaria o petista Paulo Pimenta (RS) para presidir a comissão, e a mesma chapa teria como três vice-presidentes Feliciano, Jean Wyllys e a deputada evangélica Rosângela Gomes (PRB-RJ).
O acordo tem como pressuposto a formação de uma chapa consensual, ou seja, uma chapa em que não haja o risco de, no voto, um dos nomes acabar não sendo eleito. Feliciano diz aceitar o acordo, desde que ele seja o primeiro vice. A ordem dos vices ainda está sendo negociada pelos dois lados. Jean Wyllys também afirma que o acordo político é a melhor saída para o impasse. Para ele, a sociedade irá entender o fato de ele e Feliciano estarem, juntos, no comando.
— A sociedade tem que entender. Esse é o papel da política. É uma saída pelo diálogo, temos que reconhecer, eles se tornaram maioria aqui. Só com eles, a comissão se deslegitima. Temos que estar aqui — disse Jean Wyllys, acrescentando: — É a metáfora da mesa: aproxima as pessoas, mas demarca posições de cada um.
Feliciano também defende o entendimento:
— Quem abandonou a comissão foram eles, eu sempre tive a bandeira branca (levantada). O Congresso Nacional é o local do diálogo. Acho ótimo (Jean Wyllys na chapa), eu nunca fugi do debate — afirmou Marco Feliciano.
A eleição está marcada para esta quarta-feira, mas não pode ser realizada enquanto estiver sendo realizada a sessão do Congresso Nacional. Em maioria na comissão formada por 18 titulares, os deputados da bancada evangélica lançaram, na semana passada, a candidatura avulsa do deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ). A eleição foi adiada e Sóstenes foi tirado da vaga de titular pelo líder do PSD, Rogério Rosso (DF), para viabilizar o cumprimento do acordo de divisão das comissões feito entre os partidos e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A bancada não conseguiu viabilizar outra candidatura avulsa e partiu para negociar, com Pimenta, a ocupação das demais vagas da mesa direitos da comissão. O PT topou tentar um entendimento com os evangélicos para viabilizar a eleição de Pimenta. Em maioria na comissão, os evangélicos poderiam obstruir a votação.
A briga entre deputados de partidos mais à esquerda, que sempre ocuparam as vagas e tiveram o comando da Comissão de Direitos Humanos e a bancada evangélica se intensificou em 2013, quando houve a divisão das comissões temáticas entre os partidos. Ao contrário de anos anteriores, o PT e outros partidos de esquerda não escolheram a de Direitos Humanos e ela acabou ficando nas mãos do PSC.
O escolhido pelo partido para presidir foi Marco Feliciano. Frases polêmicas publicadas no twitter do deputado acabaram gerando revolta nas redes sociais e entre militantes da causa dos direitos humanos que tentaram impedir sua eleição. Durante semanas, houve protestos na Câmara e, mesmo depois de eleito, Feliciano teve uma gestão marcada por protestos. Sob seu comando, a Comissão de Direitos Humanos aprovou propostas polêmicas, como a “cura gay”.
O Globo
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