O representante comercial da Davati Medical Supply Cristiano Carvalho detalhou nesta quinta-feira (15), em depoimento à CPI da Covid, a participação de pelo menos oito autoridades do Ministério da Saúde que teriam atuado para agilizar a negociação de vacinas com a Davati. Da lista, pelo menos seis são militares (veja nomes abaixo).
A empresa, com sede nos Estados Unidos, ofereceu ao ministério lotes com milhões de vacinas da Astrazeneca e da Janssen. As negociações avançaram, mesmo sem a Davati apresentar qualquer comprovação da existência dos lotes. Os dois laboratórios já negaram que atuem com esse tipo de intermediação.
Em uma dessas reuniões, o policial militar Luiz Paulo Dominghetti – que também se apresenta como representante da Davati – diz ter recebido uma cobrança de propina, de US$ 1 por dose, para viabilizar a compra de 400 milhões de vacinas da Astrazeneca. A Davati entrou na mira da CPI em razão dessa denúncia.
Questionado por diversos senadores nesta quinta, Cristiano Carvalho confirmou reuniões e cobranças feitas por oito autoridades ligadas ao Ministério da Saúde, incluindo o ex-número dois da pasta Élcio Franco.
Reunião no ministério
Carvalho afirma que, em 12 de março, ele e Dominguetti participaram de reunião no ministério da Saúde intermediada pelo reverendo Amilton Gomes, da Secretaria de Assuntos Humanitários (Senah, uma instituição privada) e pelo coronel Helcio Bruno, do Instituto Força Brasil. A dupla não tem cargo público.
No ministério, o grupo teria se reunido com:
o então diretor de Planejamento do Ministério da Saúde, coronel Cleverson Boechat;
o então diretor de Programas do Ministério da Saúde, coronel Marcelo Pires;
o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco.
Na segunda-feira seguinte, diz Carvalho, o dono da Davati, Herman Cárdenas, enviou uma comunicação oficial a Élcio Franco para oferecer doses de vacina da Janssen em lugar da vacina da Astrazeneca, argumentando que o produto era mais barato e poderia ser administrado em dose única.
Questionado pela senadora Leila Barros (PSB-DF), Cristiano Carvalho citou também o ex-assessor do Ministério da Saúde e coronel Marcelo Blanco. Segundo ele, Blanco e Helcio Bruno (do instituto Força Brasil) pareciam os principais interessados no avanço das negociações.
Carvalho chegou a criticar, também em resposta a Leila Barros, a capacidade técnica das autoridades envolvidas na negociação.
“Percebi que eles não conheciam de comércio exterior, o que surpreendeu, inclusive. Fiquei pensando como estavam negociando vacinas com os fabricantes se não tinham as informações básicas”, afirmou.
Autoridades citadas
Confira abaixo a atuação de cada uma dessas autoridades, na versão de Cristiano Carvalho:
Élcio Franco, coronel da reserva do Exército e ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde
Segundo Cristiano Carvalho, Élcio Franco se reuniu com os representantes da Davati em 12 de março e, em seguida, recebeu a comunicação da sede da empresa nos Estados Unidos para tratar de negociações da vacina da Janssen.
Carvalho diz que não voltou a se reunir com Franco e que, nessa única reunião, não houve qualquer cobrança de propina ou contrapartida. O e-mail sobre as doses da Janssen não foi respondido, e Élcio Franco foi exonerado do Ministério da Saúde em 26 de março. Hoje, ocupa cargo no Palácio do Planalto.
“Eu acredito que, logo depois, ele foi exonerado do cargo – dez dias depois se eu não me engano –, e não teve nem tempo de ele retornar, nada mais, porque, dois dias depois dessa reunião, o próprio general Pazuello já tinha dado indícios de que ele sairia do cargo por questões médicas. Neste caso do Elcio Franco, eu acredito que não foi concluído porque realmente ele não fazia mais parte do ministério, dois ou três ou quatro dias depois”, declarou Carvalho.
Roberto Ferreira Dias, sargento reformado da Aeronáutica e ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde
“Comprador do Ministério da Saúde do Brasil. Comigo, [a relação] foi estritamente comercial e informações a respeito das vacinas. […] Conforme é documentado e periciado, várias vezes ele me ligou e mandou mensagens”, afirmou Carvalho.
Roberto Dias foi acusado por Luiz Paulo Dominghetti de ter cobrado propina na negociação da Astrazeneca. Ouvido pela CPI, Dias negou essa cobrança e chamou Dominghetti de “picareta”.
Marcelo Blanco da Costa, tenente-coronel da reserva e ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde
“Ex-assessor do Roberto Dias e, aparentemente, continuava exercendo”, diz Carvalho. Segundo o representante da Davati, Blanco avançou nas negociações com ele e com Luiz Paulo Dominghetti.
Na sessão desta quinta, Cristiano Carvalho afirmou que se referia a Blanco quando disse, em uma mensagem de celular a Dominghetti interceptada pela CPI, que só havia “FDP” no ministério.
“Peço até desculpas pelo termo, mas eram mensagens que a gente trocava. Sobre isso, acho que até me excedi. Na verdade, o que eu estava me referindo é como eu passei a negociar com o senhor [Marcelo] Blanco, aqui, eu me referia a esse tipo de negociação que tinha sido instaurada. Que aparentemente, o Roberto Dias havia indicado o Blanco para negociar comigo. Ele falava em nome do Roberto Dias o tempo todo”, disse.
Cleverson Boechat Tinoco Ponciano, coronel da reserva do Exército e coordenador-geral de Planejamento do Ministério da Saúde.
“Ele era responsável pelos pagamentos dos insumos no Ministério da Saúde”, afirma Carvalho.
O representante comercial da Davati afirmou que a reunião de 12 de março ocorreu justamente no gabinete do coronel Boechat.
Em 12 de março, o representante da Davati ter participado de reunião com o coronel para tratar da suposta aquisição de vacinas.
“Se eu não me engano é no segundo andar. Foi lá que ele nos recebeu. E o coronel Pires e o coronel Elcio Franco também nos receberam dentro do gabinete do coronel Boechat. Dentro dessas tratativas e conversas dentro do Ministério da Saúde, não houve nada que desabonasse nenhum desses coronéis servidores públicos que estavam na reunião”, afirmou.
Marcelo Bento Pires, coronel da reserva do Exército e ex-coordenador do Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas contra a Covid-19
“Acredito que ele era uma espécie de assistente de ordens do coronel Élcio Franco. Ele fez vários tipos de perguntas sobre a entrega, sobre o produto, não diretamente para mim. Diretamente para o coronel Hélcio Bruno, com H, que o coronel repassou para mim e eu disponibilizei”, diz Carvalho.
Questionado por Randolfe Rodrigues, Cristiano Carvalho disse que o coronel Pires manifestou interesse na aquisição das vacinas. “Nas mensagens, ele diz que sim e faz bastante perguntas”.
Glaucio Octaviano Guerra, coronel reformado da Aeronáutica e, segundo Randolfe Rodrigues, assessor do adido militar da embaixada do Brasil nos Estados Unidos
“O coronel Guerra atuou somente como o porta-voz do Herman nos Estados Unidos, não teve influência alguma na negociação. Só transmitia as informações que a ele eram passadas”, disse Carvalho.
Guilherme Filho Odilon, apontado como coronel pelo senador Randolfe Rodrigues
Cristiano Carvalho afirmou que uma pessoa identificada como “Odilon” seria um intermediador da negociação. Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que ele também é coronel, sem declarar a qual das Forças Armadas ele seria ligado.
“O Odilon é coronel? Eu não tenho esse conhecimento. ele aparece como um dos intermediadores da negociação”, afirmou Carvalho.
Em outro momento, o representante da Davati relacionou o nome “Odilon” ao suposto pedido de propina para negociar as doses da Astrazeneca. Carvalho usa o termo “comissionamento” para falar desse pedido.
“A informação que veio a mim, vale ressaltar isso, não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon”, afirmou Cristiano.
As mensagens obtidas pela CPI no celular de Luiz Paulo Dominghetti também mostram um contato identificado como Guilherme Filho Odilon. Dominghetti envia a ele a seguinte mensagem:
“Estamos negociando algumas vacinas em números superior a 3 milhões de doses. Neste caso a comissão fica em 0,25 centavos de dólar por dose”.
Laurício Monteiro Cruz, civil, médico veterinário e ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde
“O Laurício foi quem apoiou a compra, através da Senah. Agendou reuniões e, inclusive, indicou que fosse copiado o Élcio Franco nos e-mails. Deu todas as credenciais necessárias para que pudéssemos avalizar que a Senah poderia concluir o negócio”, declarou Cristiano Carvalho.
Laurício é a única autoridade do Ministério da Saúde sem patente militar, na lista citada por Carvalho.
Militar sem cargo
O representante da Davati citou, ainda, um militar que não teve cargo ministerial: o coronel Helcio Bruno, do Instituto Força Brasil.
“Esse instituto, de cunho bolsonarista, patrocina sites e redes que são investigadas no inquérito das fake news e divulgava notícias falsas contra membros da CPI da Pandemia”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues.
Em seu depoimento na CPI da Covid, Carvalho disse que o Instituto Força Brasil conseguiu a reunião com o então secretário executivo, Élcio Franco, para discutir a proposta de venda de 400 milhões de doses de vacina.
O instituto admite ter agendado a audiência com o então secretário executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco, mas diz que a reunião deveria ser realizada diretamente por representantes oficiais das vacinas, sem intermediários. E que a negociação dependia da confirmação da existência do produto disponível para entrega ao governo brasileiro.
“O Instituto Força Brasil, no meu ver, foi o braço que a Senah utilizou para chegar frente a frente com o Élcio Franco”, afirmou Carvalho.
Disputa entre militares
Cristiano Carvalho relatou ainda, à CPI, que havia dois “caminhos paralelos” de negociação com o Ministério da Saúde: um capitaneado por Élcio Franco, e outro, por Roberto Ferreira Dias.
“Eu vou deixar claro, porque talvez não tenha ficado claro. Eu vou reforçar. Havia dois caminhos dentro do ministério, aparentemente – um era via Elcio Franco, e um era via Roberto Dias –, e um não sabia do outro. O caminho que ele [Dominghetti] tentou via Roberto Dias, aparentemente, não prosseguiu por conta de algum pedido que foi feito lá, segundo chegou para mim num primeiro momento, como grupo do Blanco ou grupo do Odilon. Aparentemente não estava prosseguindo por causa disso”, disse.
“E, paralelamente, eles foram falar diretamente com o Secretário Elcio Franco, por intermédio do Força Brasil, acho que no intuito, ao meu ver, de driblar, inclusive, essa resistência por parte do comissionamento ou algo que o valha. São dois caminhos completamente diferentes”, prosseguiu Carvalho.
“O Roberto Dias não tinha conhecimento de que a gente estava falando com o Elcio Franco naquele dia. Inclusive, eu relatei aqui há pouco que, inclusive, recebi uma ligação, naquele mesmo dia, daquele Sr. Odilon, me perguntando se eu… que tinha um contato com o Roberto Dias, me indagando se eu tinha estado no ministério.”
G1
Esquerdista gosta de bandido com fuzil.
Os soldados não iriam atirar do nada…
Criminosos não gostam de polícia nem de forças armadas.
Lula deixou o Brasil com uma dívida de 4 trilhões…
200 mil funcionários nas universidades…
Não sobra dinheiro pra nada…
Botam esses bostas nas ruas e armados com cada fuzil maior que a estrovenga que é habitual para todos, não podem esperar resultado diferente.