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Vale é ‘joia brasileira’ e não pode ser condenada por ‘acidente’ em Brumadinho, diz presidente da empresa

O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, durante audiência na Câmara dos Deputados Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Na esteira das revelações de documentos internos que mostram como a empresa negligenciou a segurança em nome dos lucros, como acusa o Ministério Público em parecer revelado pelo GLOBO, o presidente da Vale , Fabio Schvartsman , disse nesta quinta-feira, que a companhia não pode ser condenada pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Para o executivo, a Vale é uma “joia brasileira” e não pode pagar pelo que classificou de “acidente”. O rompimento da barragem do Córrego do Feijão, no fim de janeiro, deixou 166 mortos e 155 desaparecidos.

— A Vale é uma das melhores empresas que eu conheci da minha vida. É uma joia brasileira, que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia — disse Schvartsman.

O executivo participa de sessão da Comissão Externa criada por parlamentares para acompanhar os desdobramentos do caso . Ele também afirmou que a empresa ainda não sabe quais são as causas do rompimento da barragem de Brumadinho .

— Continuamos sem saber os motivos que causaram o acidente. Todas as informações que nós possuíamos e que foram enviadas pelos técnicos demonstravam que não havia qualquer perigo iminente sobre aquela barragem e que não havia qualquer razão de alarme ou de preocupação maior da gestão da companhia. Se tivéssemos qualquer sinal relevante nessa direção, teríamos agido — afirmou.

Schvartsman disse ainda que a prioridade da empresa é cuidar e acelerar o atendimento às vítimas. Segundo ele, a intenção é “minimizar, se é que é possível, a dor dos atingidos”.

— A Vale está concedendo uma doação de R$ 100 mil para cada uma das famílias atingidas que têm vítimas. Outra doação de R$ 50 mil para cada indivíduo que teve sua casa destruída pelo acidente e mais uma doação de R$ 15 mil para todas as pessoas impactadas. Não que achamos que resolva. São doações mesmo, em troca de nada. E as indenizações serão pagas — disse o presidente da Vale.

Durante sua exposição, o presidente da empresa ressaltou que a Vale possuía um laudo de estabilidade da barragem do Córrego do Feijão e que esse tipo de documento representa “a pedra fundamental de todo o sistema de mineração”.

Schvartsman destacou que o sistema operacional de barragens é descentralizado e funciona por “delegação”:

— Em Brumadinho, os gestores locais têm total autonomia quando avaliam algum risco.

Ao responder às perguntas, Schvartsman declarou que compartilhava a indignação de parlamentares. O presidente da Vale chegou a ser chamado de “bandido” e “assassino” pelo deputado André Janones (Avante-MG). Outros dois parlamentares disseram que Schvartsman tinha a “cara lavada” por argumentar que a Vale não deveria ser punida.

O executivo disse que a companhia está investindo em técnicas modernas de mineração a seco e que está empenhado na renovação da companhia. Afirmou que continua à frente da Vale enquanto tiver a confiança dos acionistas e que se vê como parte “da solução”.

Schvartsman repetiu que a empresa não tinha conhecimento técnico de perigos sobre a barragem que se rompeu.

— Relatórios técnicos estão sendo divulgados como se fossem informação. Eles são estudos em andamento. Ninguém leva especulação (ao alto escalão da empresa) — disse ele, que acrescentou: — Estávamos tentando fazer a coisa direito. Mas, infelizmente, deu alguma coisa de muito errado.

Multas

Também participam da audiência a coordenadora-geral de Emergências Ambientais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fernanda Cunha Pirillo Inojosa; o procurador-geral de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tonet; e o diretor-geral da Agência Nacional de Mineração, entre outros convidados.

Representando o Ministério Público, Antônio Sérgio Tonet afirmou que as causas do acidente ainda estão sendo apuradas, mas “já há elementos para indicar que esse rompimento não aconteceu por obra da natureza”. Ele sustentou que a Vale já sabia de alguns problemas na barragem e que havia preocupação da empresa em relação ao local.

Pelo Ibama, Fernanda Pirillo questionou a falta de pagamento das multas ambientais aplicadas à Vale.

— Aproveitando que o presidente da Vale está aqui, faço a sugestão para que a Vale pague as multas que deve. A Samarco (empresa responsável pela barragem de Mariana, cujo principal acionista é a Vale) não pagou nenhuma — disse ela, que foi aplaudida pelos parlamentares.

Já o diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Victor Bicca, disse que “pode não parecer”, mas a agência intensificou a fiscalização de barragens desde a primeira tragédia de Mariana (MG), em 2015, quando 19 pessoas morreram.

Bicca disse que a agência possui um sistema de recepção online de parâmetros hidráulicos e geotécnico.

— Desde julho de 2016 não há aprovação de nenhuma construção de barragem cujo método seja alteamento a montante — disse ele, referindo-se à técnica de construção tanto de Mariana quanto de Brumadinho.

O diretor da ANM também destacou que, no ano passado, o sistema online de monitoramento acendeu nove vezes o alerta amarelo e vermelho, mas que os problemas foram mitigados. No caso de Brumadinho, não houve alerta.

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. Matou sabendo que ia matar, inclusive tinha estudo que mataria 100 pessoas. Imagino só as empresas irresponsáveis assassinas o que são capazes de fazer. Criminosos!

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