Depois do falso sequestro, um novo método de crime que pode se tornar comum é a clonagem da conta de Whatsapp, que dispensa a confirmação de dados e é bem articulada. Criminosos se fizeram passar por funcionários da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) executando uma atualização de segurança de dados no contato com Eliana Werneck, auxiliar da Justiça. Ela desconfiou se tratar de um golpe logo no início, mas, como não lhe foi pedido nenhuma informação pessoal, manteve a conversa com os bandidos. Crimes virtuais como este vêm crescendo, alerta especialista.
— A fala era muito boa, citava segurança virtual e dados criptografados. Eles só me perguntaram se era eu quem usava o aparelho e eu confirmei. O discurso era bom, com protocolo e dizendo que a ligação estava sendo gravada — explica Eliana.
Em seguida, ela foi alertada que receberia um código de segurança por SMS e que deveria informá-lo para validar a atualização. A sequência numérica era o que os criminosos precisavam para permitir a clonagem da conta dela no aparelho deles. Por fim, Eliana foi orientada a desligar o celular para que as supostas atualizações fossem feitas.
Ao encerrar o telefonema, ela desconfiou ter sofrido uma fraude de imediato. Ao tentar acessar o Whatsapp, uma tela dizia que o aplicativo estava sendo usado em outro aparelho. Nos cerca de cinco minutos que demorou para alertar à mãe que havia sido enganada, os criminosos já tinham feito contato se passando por ela. No discurso enviado a cerca de dez amigos, a mensagem supostamente enviada por Eliana dizia que sua conta bancária e os cartões de créditos estavam bloqueados. Ela conta que o golpe só não foi além porque ela agiu rápido e avisou aos amigos e familiares:
— Como eu desconfiei logo e publiquei nas redes sociais, ninguém chegou a ser vítima da fraude, mas poderia ter sido. Uma vez que meus contatos não responderam às mensagens, eles (os criminosos) não insistiram na conversa e nem mesmo passaram os dados bancários para os possíveis depósitos a nenhum deles.
A especialista em Direito Digital Cristina Sleiman defende que essa engenharia social — termo usado para esse tipo de crimes virtuais — está se tornando comum, como o falso sequestro em que os criminosos se passam pela vítima e extorquem a família. Ela explica que é necessária uma maior educação digital para evitar esse tipo de fraude:
— É importante que haja mais informação digital para todas as idades, desde a escola, já que estamos vivendo uma nova cultura. As pessoas precisam saber reconhecer esse tipo de fraudes para não se tornarem outras vítimas, porque a tecnologia é maravilhosa, mas há muitas pessoas mal-intencionadas que se aproveitam disso.
Em resposta, o Whatsapp informou que caso uma conta seja cadastrada em outros dispositivos, a ativação só é concluída depois da verificação de duas etapas, em que um código de seis dígitos é criado no aparelho de origem e inserido no novo, caso contrário, a ativação não é concluída. A plataforma reforça que os códigos de segurança são pessoais e não devem ser fornecidos para terceiros. Em casos de dúvidas, os usuários podem falar com o suporte pelo e-mail [email protected], ou pelo próprio aplicativo, clicando em Configurações > Ajuda > Fale conosco. A comunicação pode ser feita em português e é importante repassar o máximo de detalhes.
O Especialista em Segurança da Informação, Leandro De Bom, corrobora que o processo de segurança do aplicativo é efetivo, assumindo que só o dono do celular tem acesso ao aparelho. Desta forma, ele defende a criação de bloqueios que impeçam o acesso ao aparelho como um todo:
— É necessário se blindar, criando senhas, porque caso o celular caia em mão errada, todos as contas abertas no aparelho, como as de banco e e-mails, ficam protegidas.
Procurada, a Anatel informou que desconhece e condena o tipo de fraude. A agência reforça que não realiza ligações para consumidores solicitando seus dados pessoais. Por fim, a Anatel recomenda ao consumidor que nunca forneça dados pessoais como CPF, data de nascimento ou endereço, senhas ou PINs, a não ser que tenha certeza da origem da chamada ou da mensagem. E que, em caso de dúvida, entre contato com a Anatel pela Central de Atendimento Telefônico gratuito, no número 1331 – ou 1332, para deficientes auditivos; pelo aplicativo “Anatel Consumidor” ou ainda com a própria operadora telefônica.
O Globo
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