Diversos

FOTOS E VÍDEO: UFRN pede patenteamento de nova tecnologia para a construção civil

Foto: Divulgação/UFRN

A cidade é Jericó, no Oriente Médio. O ano é 7500 a.C. Nesse tempo e lugar, pesquisadores encontraram as primeiras informações a respeito do tijolo que se tem conhecimento. Estabeleceu-se como substituto da madeira e da pedra em regiões onde havia escassez desses materiais. Uma curiosidade desta época é que os tijolos eram unidos com a utilização de betume e palhas.

Na passagem brusca do tempo a respeito do conhecimento de diferentes técnicas da tecnologia da construção, chegamos a 2021, d.C, em Natal, cidade no Nordeste do Brasil. Um grupo de cientistas da construção civil desenvolve um bloco em terra semiensacado, estabilizado a partir da combinação de solo, manipueira e fibra de polietileno de alta densidade, sem a necessidade da utilização do cimento, o que repercute na diminuição do uso da água na construção civil. É um material com baixo custo e, por conseguinte, sustentável – segundo levantamento da US Green Building Council, a construção civil consome cerca de 21% de toda a água tratada do planeta.

Além de ser mais barato, Ana Lígia Pessoa Sampaio esclarece que o bloco propõe uma remodelação dos blocos em terra, associando-os ao desenvolvimento de uma formulação química à base essencialmente de solo e manipueira. Autora da dissertação defendida em 2020 no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estudo que deu origem à nova tecnologia, ela acrescenta que o propósito é obter um sistema construtivo inovativo de fácil absorção pela indústria, adaptável ao padrão de vida contemporâneo e que melhora o desempenho termoacústico do ambiente construído.

“Essa situação acontece em regiões que exigem sistemas construtivos com elevada massa térmica, como a Zona Bioclimática 07, que abrange boa parte do semiárido brasileiro, mas também trazendo benefícios para Zona Bioclimática 08, referente às áreas litorâneas, como comprovado nos resultados da dissertação. A ideia é que essa nova tecnologia possa ser utilizada como alternativa a qualquer técnica convencional, dando mais possibilidades aos projetistas e construtores de proporem ambientes mais confortáveis sem aumentar os custos”, destaca Ana Lígia.

Denominado Bloco em terra semi-ensacado estabilizado a partir da combinação de solo, manipueira e fibra de polietileno de alta densidade, o depósito do pedido de patente da invenção foi realizado no mês de março e tem também como autores os professores Wilson Acchar e Vamberto Monteiro, respectivamente da UFRN e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), instituição coautora do pedido.

Os cientistas frisaram que a fase de desenvolvimento do bloco já foi finalizada e há protótipos construídos há um ano com os blocos. Inclusive a pesquisa passará por uma espécie de complementação a partir de novos testes termoacústicos e de durabilidade para avaliação do comportamento do bloco às condições climáticas de Natal. “É importante frisar que há algumas invenções e técnicas que procuram resolver alguns dos objetivos citados no nosso trabalho, mas nenhuma atende às necessidades descritas, principalmente quanto à dificuldade de se atrelar conforto, materiais naturais, desempenho mecânico, facilidade de execução e estética flexível”, especificou Wilson Acchar.

A principal dificuldade de técnicas similares é se adaptar ao modelo vigente de construção no Brasil, às técnicas de nivelamento, ao acabamento e possibilidades de revestimentos, enfim, ao know-how dos trabalhadores da construção civil, que trabalham com tijolos e blocos rígidos, que possam ser produzidos em grande quantidade, transportados, e resistam a impactos para manuseio.

Wilson Acchar tem uma ampla experiência em pesquisas com aproveitamento de resíduos a partir da análise das suas estruturas e dos efeitos termodinâmicos da sua combinação com outros resíduos ou com os materiais convencionais. Exemplo é um outro depósito de patente realizado no segundo semestre de 2020 e que usava um resíduo da produção do sal para a fabricação de um tijolo ecológico, ou a carta patente concedida em 2019 para a fabricação de massas cerâmicas para pisos e revestimentos com adição de cinzas da casca do café . No caso deste novo pedido, a substância é um efluente do processo de lavagem da mandioca, a manipueira, substância tóxica em decorrência do teor elevado de ácido cianídrico e matéria orgânica.

Construídos no campus central, os protótipos estão em espaço disponibilizado pelo Centro de Tecnologia, unidade que contribuiu com materiais e a mão de obra – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Vamberto Monteiro complementa que a substância já é utilizada para produção de tijolos ecológicos no Ceará e na Paraíba por alguns agricultores, mas ainda não havia sido testada em blocos ou sistemas que envolvem muita massa térmica. A proposição era testar a substituição total da água nesse processo, pois havia a hipótese de que a energia de compactação atrelada ao efeito agregador da manipueira eliminaria a necessidade do cimento na composição. “Saliente-se que a adição do cimento é benéfica em termos mecânicos, mas não essencial, pois reduz o efeito desagregador do solo seco e aumenta a resistência à compressão do bloco. No entanto, devido à elevada massa de cada bloco, as composições com cimento foram restritas a 10% e é sugerido o máximo de 20%”.

Um olhar curioso, um olhar social

O resultado do trabalho é um exemplo claro de pesquisa aplicada com amplo alcance social local. Ao ouvir os pesquisadores, percebe-se claramente que esse entrelaçamento não foi à toa. “Sou arquiteta e sempre tive interesse em construir usando o solo, mas as técnicas em terra ainda estão muito restritas a nichos e grupos de permacultura ou associadas à falta de recursos”, diz Ana Lígia. Segundo ela, a maior barreira nesse interesse é a falta de estudos tecnológicos que embasassem as técnicas a respeito dos aspectos da utilização propriamente, além de como “combiná-las” ao padrão e estilo de vida contemporâneos.

Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

“Quanto aos processos construtivos, destaca-se a adaptação de uma técnica de baixa complexidade tecnológica, mas que vem sido deixada de lado nos estudos científicos devido a um estigma social que relaciona construções em terra à pobreza. Não menos importante, a clareza de que o Brasil possui oito zonas bioclimáticas, com parâmetros e recomendações distintas para as construções, fato esse importante inclusive ao se usar o sistema aqui proposto, no qual a manipueira atua como uma resina”, enumera a arquiteta.

Para a pesquisa, outro ponto essencial para o sucesso da criação da tecnologia foi a articulação de técnicas e teorias advindas de disciplinas diferentes, procurando envolver Engenharia Civil, Ciência e Engenharia de Materiais e Arquitetura. Atuando junto ao Laboratório de Propriedades Físicas e Materiais Cerâmicos (LaPFiMC), ela defende que para se resolver um problema estrutural — como é o caso da habitação no Brasil, a poluição decorrente da produção em larga escala do cimento e a grande quantidade de água exigida pelo setor da construção civil — “é necessária uma avaliação pelos mais diferente vieses”, realçou.

Foto: Pesquisadores/UFRN

Vitrine Tecnológica da UFRN

Para o diretor da Agência de Inovação (AGIR) da UFRN, Daniel de Lima Pontes, este depósito de pedido de patente é um exemplo de criação de produtos e processos que ajudam no desenvolvimento regional e econômico do país. “É também uma espécie de utilização dos resultados encontrados nas pesquisas científicas que geram produtos que atendem a demanda de um mercado específico, um mercado grande. Na UFRN, temos uma vitrine tecnológica com quase 300 pedidos de patente que podem ser fruto de parcerias publico-privadas, por exemplo, na qual os investidores podem ter vários benefícios ao associar-se à universidade, como o know-how e a expertise que nós detemos em vários âmbitos”, afirmou Daniel Pontes.

Os pedidos de patentes e as concessões já realizadas estão na Vitrine Tecnológica da UFRN, disponível para acesso no endereço: agir.ufrn.br, mesmo local em que os interessados obtêm informações a respeito do processo de licenciamento. Na UFRN, a Agência de Inovação (AGIR) é a unidade responsável pela proteção e gestão dos ativos de propriedade intelectual, como patentes e programas de computador. As notificações de invenção, passo inicial de todo o processo, são feitas mediante o Sigaa, por meio da aba Pesquisa. Em seguida, a equipe da AGIR entra em contato com o inventor para dar prosseguimento aos trâmites.

Com UFRN

 

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Tecnologia

Desempenho de Notebook: nova tecnologia promete deixar seu smart voando

Os celulares podem ficar até 20% mais rápidos para tarefas comuns e 40% mais velozes em jogos, no que depender da Arm, companhia britânica que apresentou nessa segunda-feira (27) novas arquiteturas para chips de smartphones. Foram revelados o Cortex A77 e o Mali G77, destinados respectivamente à fabricação de chips tradicionais e chips gráficos.

Empresas como a Samsung usam as chamadas arquiteturas para fabricação de chips como o Exynos 9820 presente no Galaxy S10 nacional. As novas tecnologias devem despontar em produtos lançados a partir de 2020. Segundo a Arm, novos processadores terão poder de fogo equivalente à de um notebook intermediário.

Processadores como o Snapdragon 855 usam design ARM e núcleos inspirados na linha Cortex — Foto: Aline Batista/TechTudo

Segundo a ARM, os ganhos dos novos Cortex consideram o aumento de 20% no número de instruções que o processador realiza por clock. Traduzindo de uma forma mais simples, os novos processadores que usarem a nova arquitetura poderão realizar 20% mais operações a cada ciclo.

Na prática, isso significa que se você comparar dois processadores hipotéticos com núcleos Cortex A76 e outro com núcleos A77 e a mesma velocidade de 3 GHz, ainda assim a versão com A77 será mais rápida porque fará 20% mais trabalho em cada um desses três bilhões de ciclos (a outra forma de ler os 3 GHz).

Fortalecendo ainda o interesse no mercado de PCs, a Arm afirma que a nova arquitetura faz um processador Cortex A77 atingir performance comparável à de notebooks intermediários disponíveis no mercado.

ARM promete 20% mais desempenho com os novos núcleos Cortex A77 — Foto: Divulgação/ARM

No componente gráfico, os saltos também são expressivos. A Mali G77 não só é 40% mais rápida, como gasta 30% menos energia, aspecto crucial para celulares. O novo processador gráfico (GPU) também tem novos mecanismos de processamento para aprendizado de máquina, fundamental para serviços de inteligência artificial, e que representam ganhos de performance de 60% sobre o que a Mali anterior oferece.

Entenda o que é Cortex

Quando você olha para a ficha técnica de seu smartphone dificilmente se depara com o nome da ARM quando chega no processador: há grande chances de que seu telefone use um Snapdragon, Exynos ou A12 Bionic, se for um iPhone.

Cada um desses processadores – e muitos outros, como os Kirin da Huawei ou Helio da MediaTek – usam designs e arquiteturas da Arm. A empresa cria a tecnologia e o design de referência da arquitetura e comercializa direitos de uso desses designs a terceiros, que podem implementá-los com ou sem modificações feitas pelos próprios engenheiros.

O A76, por exemplo, é usado no Kirin 980 do P30 Pro, enquanto que o Snapdragon 855 usa uma versão modificada pela Qualcomm do mesmo núcleo. Isso significa que o Cortex A77 pode acabar aparecer em dispositivos de todas as marcas a partir do ano que vem, assim como a GPU Mali G77 – normalmente nos produtos mais sofisticados num primeiro momento.

Globo, via Techtudo, ARM e The Verge

 

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Diversos

RN poderá receber nova tecnologia para o setor eólico

O setor eólico do Rio Grande do Norte, destaque no cenário nacional no potencial de geração de energia, poderá em breve ser também detentor de uma nova e avançada tecnologia na construção de torres eólicas. A parceria para discutir o projeto de transferência de tecnologia foi tema de reunião nesta sexta-feira (24) entre o secretário do Desenvolvimento Econômico, Silvio Torquato, e o empresário Sérgio Azevedo, do grupo potiguar 2A Engenharia, e Frans Brughuis, da holandesa ATS.

A tecnologia já utilizada em vários países, porém com poucas empresas detendo o conhecimento, tem como diferencial torres eólicas em concreto armado substituindo as utilizadas atualmente em estrutura de aço ou metal.

Com a parceria firmada entre os grupos, o transporte e a construção dos aerogeradores será mais ágil, o custo para produção de energia será menor e o Rio Grande do Norte passará a ter maior rapidez também no início do funcionamento dos parques eólicos.

De acordo com o empresário Sérgio Azevedo, a partir da associação entre os dois grupos a questão na logística do transporte das torres não será mais problema no estado, além de ser possível atender a demanda de estados vizinhos ao RN que possuam geração de energia eólica.

Na reunião com o secretário Silvio Torquato e equipe técnica da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, foram apresentados aos empresários os benefícios do Governo para instalação da fábrica em solo potiguar. “O setor eólico teve importante avanço nos últimos anos e é uma das prioridades dentro da política de desenvolvimento da governadora Rosalba Ciarlini. O investimento de empresários locais no setor demonstra que a energia eólica tem uma cadeia produtiva muito ampla e com grande capacidade de geração de bons negócios”, analisa Silvio Torquato.

Nos próximos dias acontecerá uma nova reunião entre representantes de diversos setores do Governo do Estado e empresários para aprofundamento na política de incentivos local.

Parceria firmada, a estimativa é que o estado receba investimento inicial de R$ 15 milhões em uma fábrica com potencial para gerar cerca de 500 novos postos de trabalho durante operação e construção.

Opinião dos leitores

  1. Caro Bruno,
    O Governo e os politícos tem que encontrarem uma forma de compenssaro o roubo do nosso Petroleo, que de uma forma mentirosa e vergonhosa, desviaram a construção das nossas refinarias para os Estados PE, CE e MA.
    Perdemos só de investimentos diretos $ 44.000.000,00, fora impostos, geração de emprego e renda, etc….
    Essa marca do Governo do PT em nosso Estado, nao conseguirão tirar nunca!!!
    A FAMOSA LAGARTA DE FÔGO!!! O GOVERNO QUE DISTRUIU NOSSOS SONHOS E AS NOSSAS PESPECTIVAS DE SER UM ESTADO RICO E EQUILIBRADO ECONOMICAMENTE!!!

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