A Geopolítica pode nos fazer compreender os movimentos dos Estados, a aflição dos políticos, a guerra pela informação e, também, a pressão exercida sobre os cientistas de cada país para que sejam os primeiros a descobrir a fórmula que levará à prevenção da doença em escala mundial, como também vai propiciar a volta da movimentação das economias globais. Além de, é claro, gerar um lucro fenomenal para investidores pela venda de bilhões de doses.
Quando olhamos para o mundo os países ricos detêm 16% da população mundial, mas já garantiram aproximadamente 60% das doses de vacina disponíveis até agora. A China, Índia e a Rússia, países que justamente com o Brasil e África do Sul fazem parte do chamado BRICS, produzem hoje oito das 12 vacinas com selo.
Num momento como este, ter a fórmula da vacina em mãos, produzir a matéria-prima, significa fonte de poder e de influência política, por isso alguns cientistas políticos comparam o momento atual de disputa entre nações como uma nova Guerra Fria, onde num futuro sem pandemia, as novas alianças poderão ter tido como base o acesso à vacina.
Somente a China está fornecendo imunizantes a 43 parceiros comerciais e ainda ofereceu doações a 69 países em desenvolvimento. Segundo matéria publicada por revista brasileira, a influência de Pequim tem assustado tanto o velho mundo que países como EUA, Japão, Austrália, e Índia se reuniram virtualmente para discutir formas de confrontar o gigante Asiático.
Recentemente, o governo Chinês tem liberado a entrada no seu País de estrangeiros que tomem a vacina fabricada no país. Essa tem sido uma das formas de pressionar o avanço da sua vacina pelo mundo.
Um concorrente direto, a Índia tem defendido de forma ferrenha sua posição de “farmácia do mundo”, tentando manter sua posição na Ásia e África. O governo Russo vem logo na cola, e tenta enviar para o máximo de países a Sputink V, sua vacina nacional, como forma de ampliar seu domínio político e científico. Para Putin, o prestígio é a rainha nesse xadrez.
Cartas são jogadas na mesa visando amparar ideologias e perspectivas políticas. Neste jogo, infelizmente, sobressaem os interesses particulares, mais do que os coletivos ou sociais, uma vez que a vacina contra o Coronavírus é uma necessidade global.
Israel, por exemplo, tem usado seu exemplo como “sucesso” na campanha de vacinação para trazer ganhos políticos e diplomáticos. Fala em doações inclusive a países que concordarem em transferir suas embaixadas para Jerusalém.
Distante, nesse jogo de influência e prestígio, os Estados Unidos estão tentando por meio de doação de vacinas para seus principais parceiros, conquistar esse espaço. O problema também é conseguir o selo de aprovação para Oxford-AstraZeneca.
Olhar para esse jogo com outros olhos é sobretudo vencer preconceitos e também o próprio vírus. As disputas entre nações sempre existiram, o poder econômico, tecnológico são estratégicos para inclusive dar melhores condições para sua população interna.
Resta aos Países sem recursos, entre eles o Brasil, se colocar diante deste jogo e correr atrás das vacinas necessárias para imunizar sua população. O Brasil tenta começar a produzir internamente inclusive o Instituto Butantan criou recentemente uma candidata a vacina e começará os testes necessários, mas isso levará um tempo e também nesse quadro atual brasileiro a princípio, o jogo principal a ser jogado é a vacinação da população interna, até lá, o Itamaraty deverá minimizar a dominação imposta pelo novo jogo de xadrez mundial.
Thiago Medeiros – Administrador e Sociólogo
Se tem algo consensual entre os analistas é que a gestão da política externa brasileira é desastrosa. O alinhamento automático e submisso aos EUA tem nos causado problemas em várias frentes, enfraquecido a posição do Brasil nos BRICS e prejudicado a relação com nosso principal parceiro comercial: a China. O reflexo concreto tem sido a perda de poder de barganha nas negociações de vacinas e insumos farmacêuticos, com atraso na oferta de imunizantes para a população brasileira, resultando em mais mortes. Infelizmente o Brasil virou um párea internacional, o que é lamentável pois já fomos protagonistas em diversos assuntos há não muito tempo. No mais, não simplificaria dizendo que Brasil é um país “sem recursos”. Não. Por opção política tem se reduzido drasticamente o investimento em ciência e tecnologia e isso nos tornou ainda mais dependentes de outros países não só para adquirir vacinas mas em outros segmentos do complexo industrial da saúde. Aliás, nem política industrial temos e isso, por opção, só reforça nossa posição de dependência na geopolítica internacional. Temos um sistema do porte do SUS, cientistas qualificados e know-how em para desenvolver tecnologias em saúde (inclusive vacinas, veja a Fiocruz, por exemplo); o que falta é financiamento, vontade política. Senti falta desses elementos no texto, sem os quais é difícil entender a posição do Brasil no tabuleiro externo. De todo modo, é importante a iniciativa de trazer este tema ao debate!
Quanto ao debate concordo que é importante. Porém os assuntos trazidos de certa forma são colocados pelo artigo. Entendi a intenção de se conversar globalmente. Infelizmente não se pode falar de tudo, mas a exposição coloca os assuntos mais relevantes para que se possa entender essa relação de poder e vacina.
E o Brasil com a nova Vacina o autor acredita que vamos ter espaço?
Bom dia, vamos aguardar alguns desdobramentos, porém de maneira rápida creio que a vacinal nacional terá algumas funções: 1) Amplificar a vacinação interna; 2) Ampliar sim a influência do Brasil na América do Sul, e com Países parceiros chaves, o qual o Brasil vinha perdendo poder (abro parênteses nessa questão, para mencionar que esse é um dos motivos que cada vez mais veremos uma disputada política em torno do Ministro do Exterior, que tem sido julgado por suas atitudes ou falta dela no passado, mas agora também com a vacinal nacional torna-se peça fundamental para relações comerciais e de poder com o mundo). O Brasil corre para melhorar sua imagem ante o mundo, e uma vacina nacional é peça chave nesse processo.
Sempre me questiono no tocante a informática. Será que quem cria o vírus de computador é o mesmo que cria o anti-vírus?
Esse jogo é bruto. Excelente posição, importante entendermos a situação do jogo mundial.