Duas situações sobre o jornalismo potiguar me despertaram a curiosidade e inevitável questionamento: afinal, como se tem preparado nossos alunos de jornalismo?
E não falo apenas de colégios e faculdades. Parece regra o desapego pela leitura e conhecimento básico de cultura. Os repórteres estão especializando no o quê, onde, como, por que… é como se isso fosse suficiente – sem ser. Estão criando um geração profissionais mecânicos, mandriões para falar o mínimo.
Dias atrás, um jornalista ligou para uma emissora de TV local tentando vender o peixe de Dorian Gray, artista plástico natalense e mundialmente conhecido.
Gray iria abrir para visitação pública seu acervo de outros artistas: de quadros de Portinari à obra surrealista de Pablo Picasso.
Tendo concluído o resumo sobre Dorian Gray, o jornalista esperou uma resposta da produção da TV, que se saiu com essa: “Esse cara chega quando a Natal?”. O horror, o horror!
Dias antes, em um hotel da Via Costeira, o dramaturgo e poeta Ariano Suassuna concedia entrevista coletiva. Ele fora convidado para integrar a programação do “Agosto de Alegria”.
No meio da entrevista, enquanto Ariano respondia a questionamentos pertinentes, um repórter partiu com essa: “qual o nome do senhor?”
Ariano ficou surpreso. Não é para menos.
Balzac, no século XIX, escreveu um primoroso livro sobre o jornalismo: “As ilusões perdidas”, no qual ele relata que ética e compromisso não eram os fortes dos jornalistas na França de 1820.
Para muitos ainda não o são. A geração de mandriões, dispondo de livros históricos e atualíssimos sobre que erros poderia não repetir, prefere ser aplacada pela preguiça. Essa, que vence qualquer talento.
*Dinarte Assunção para o BG
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