Educação

Com novas regras, escolas do Rio e SP já podem ter 100% dos alunos presenciais na volta das férias

Foto: Leo Martins / Agência O Globo

As cidades do Rio e de São Paulo se aproximam do fim do rodízio em salas de aulas. Com novas regras, as escolas com mais espaço, em geral as privadas e de elite, poderão ter 100% dos estudantes presencialmente, em todas as classes e dias da semana. As mais apertadas, no entanto, continuam no no modelo híbrido, sendo parte das lições no colégio, e outra em casa.

Em São Paulo, o governador João Doria anunciou o fim da limitação de 35% da turma presencial, seja pública ou privada. Agora, a regra passa a ser o tamanho das salas: aquelas que comportarem todos os alunos com um metro de distância entre si poderão funcionar sem rodízio. A capital paulista decidiu seguir a mudança, que já está valendo.

— O avanço da vacinação e a redução de casos nos possibilita avançar em alguma flexibilização. Mas ainda é preciso tomar muitos cuidados, especialmente por causa da variante Delta, já identificada aqui — afirmou Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 do estado de São Paulo.

Na rede estadual do Rio, a liberação de alunos em sala de aula ainda é definida pela proporção da turma. Em cidades com bandeira laranja, como está a maior parte do estado, podem 50% dos estudantes. Aquelas no nível verde é possível 100% em sala.

No entanto, na cidade do Rio, responsável por regular a rede municipal e a privada, houve uma diminuição no tamanho da distância entre crianças: passou de 1,5 metro para um metro. A regra foi definida há duas semanas, após aprovação do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da prefeitura.

“A análise de um estudo feito em escolas públicas em Massachusetts, nos EUA, comparou o impacto de políticas de distanciamento de um metro e dois metros, mostrando que a diferença da distância recomendada não alterou o número de casos. Com isso, concluiu que políticas de distanciamento de um metro podem ser adotadas em escolas sem que a segurança da comunidade seja prejudicada”, divulgou o município.

Apesar de parecer pouca, essa diferença de 0,5 metro é fundamental para o fim dos rodízios. Com ela, algumas escolas privadas já decidiram e estão comunicando os pais de alunos que, na volta das férias em agosto, haverá a volta completa. Esses são os casos, por exemplo, da Eleva e do Colégio Recanto. A rede Mopi discute o tema, mas a tendência é definir a mudança também. No entanto, essa não deve ser a realidade da maior parte das escolas públicas da cidade, que possuem salas mais apertadas.

— Na sala do meu filho tem de 25 a 28 alunos e, com um metro de distanciamento, só cabem nove por vez — conta Cátia Guimarães, mãe de um estudante da rede.

Pais de alunos da rede municipal do Rio reclamam ainda que, além de diminuir a distância de alunos em sala de aula, a prefeitura do Rio decidiu acabar com as aulas ao vivo pela internet. Segundo Guimarães, a medida prejudica tanto os que optam pelas lições à distância, quanto aqueles que fazem o sistema híbrido.

— Quanto mais crianças entram no rodízio, mais tempo elas ficam estudando em casa. Hoje, os alunos da turma do meu filho vão para a escola semana sim, semana não. Com mais estudantes se revezando, podem passar para semana sim, duas não. E a aula ao vivo é o único momento em que os estudantes têm contato direto com o professor quando estão no sistema remoto— diz.

Desigualdade

Estudo do Instituto Unibanco e do Insper com base em pesquisas acadêmicas dos últimos dez anos descobriu que, mesmo em condições ideais, o ensino remoto consegue apenas 17% da aprendizagem esperada em Matemática e 38% de Linguagem.

Por isso, especialistas em educação se preocupam com a desigualdade de aprendizagem entre alunos de escolas funcionando integralmente de forma presencial e dos que seguem em sistema de ensino híbrido ou até mesmo completamente remoto.

No primeiro semestre de 2021, enquanto 18 redes estaduais tiveram 100% das aulas de forma remota, todas as particulares já foram autorizadas a passar para algum formato híbrido, no qual pelo menos parte das atividades é feita dentro da escola. E, nas últimas seis semanas, não houve proibição em nenhum momento de que a rede privada funcionasse com rodízio.

— Muitos jovens em situação de vulnerabilidade estudaram apenas com apostilas que eram corrigidas à distância por seus professores. Se a gente pensar no Enem, as chances desses alunos competirem com quem já passou pelo menos para o híbrido são muito desiguais — avalia Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV.

Nesta terça-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, revelou que trabalha em uma portaria com o Ministério da Educação para disciplinar a volta às aulas no país. Por enquanto, outros estados e capitais têm regras mais rígidas do que as atuais de Rio e São Paulo — que, na prática, inviabilizam um retorno sem rodízio.

Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais determinaram uma distância mínima de 1,5 metros por estudante. Em Salvador e Porto Alegre também. Já Belo Horizonte determinou dois metros. No Distrito Federal, a regra define que metade da turma terá aulas presenciais em uma semana e o restante terá ensino remoto, alternando os grupos a cada semana.

— O mínimo razoável de distanciamento entre os alunos é 1,5 metro, atrelado a uma boa infraestrutura para oferecer salas arejadas, todos usando máscaras e passando álcool em gel ou lavando as mãos com frequência, a disponibilização de máscaras, de preferência a PFF2/N35, tudo isso em conjunto à vacinação — afirma Eliseu Waldnan, epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo (USP).

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. Os estados que querem voltar com 100% deveriam é fornecer Internet de boa qualidade nas escolas e para os alunos para que pudessem fornecer um ensino híbrido de qualidade e não expor a comunidade escolar dessa forma.

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