Saúde

Problema global, álcool falsificado é uma preocupação crescente para turistas, mais comum do que se pode imaginar – além de já ter causado diversas mortes

As notícias sobre as mortes trágicas de diversos turistas norte-americanos na República Dominicana, em maio de 2019, criaram alarde e um frenesi da mídia. Até 30 de junho, houve ao menos nove mortes com circunstâncias semelhantes. O FBI e as autoridades dominicanas estão investigando, e uma das teorias é que álcool falsificado foi o causador das mortes.

O FBI coletou amostras de álcool para testagem, e os hotéis nos quais alguns turistas morreram removeram o álcool dos frigobares de quartos de hotel. Mas as preocupações estão crescendo, e o Senador de Nova York, Chuck Schumer, Partido Democrata, recomendou no dia 20 de junho que o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos e os Centros de Prevenção e Controle de Doenças tomassem conta da investigação.

Muitos acham estranho que álcool, especialmente adulterado ou falsificado, possa ter causado essas mortes. Mas alguns especialistas parecem concordar que os sintomas e circunstâncias se encaixam nos indicativos de morte causada por álcool adulterado.

Como professora de saúde pública, preciso notar que pesquisas agora mostram que nenhuma quantidade de álcool é considerada segura em termos de saúde, e que o álcool está relacionado a muitos cânceres e doenças do coração, além de ser um fator de risco chave para acidentes de trânsito, violência e suicídio.

Ainda assim, álcool falsificado ou produzido ilegalmente traz um novo nível de risco, por não ser monitorado para segurança e poder incluir ingredientes como metanol, conhecido por ser extremamente prejudicial para a saúde.

Falso, ilegal e adulterado

Graças à regulação rigorosa de álcool, os norte-americanos talvez não vejam ou escutem muito sobre álcool falsificado nos EUA, mas em muitas outras partes do mundo álcool falsificado ou “ilegal” é mais comum e uma preocupação de saúde pública crescente.

Álcool falsificado ou ilegal é parte de uma categoria maior descrita como álcool não registrado, porque não é revelada em estatísticas oficiais e não é monitorada para qualidade ou impostos. A Organização Mundial da Saúde estima que 25% do álcool consumido no mundo não é registrada.

Álcool falsificado geralmente é feito para parecer álcool legítimo, como vinhos finos e destilados caros, em termos de aparência, gosto e embalagem. Mas existem também outros tipos de álcool que são tipicamente considerados ilegais, como “moonshine” ou “bootleg”, ou simplesmente álcool feito com processos menos rigorosos e que tiveram ingredientes adicionados para produzir o álcool de forma mais rápida e barata.

Um dos aspectos-chave de álcool falsificado ou ilegal é que produtores destilam o álcool de forma mais barata e rápida usando atalhos perigosos no processo, como acrescentar água e metanol, também conhecido como álcool mefítico, que é altamente tóxico. Metanol não é adequado para consumo humano e pode causar danos ao fígado, cegueira e morte se consumido. No início do ano, álcool tóxico matou ao menos 154 pessoas na Índia por estar batizado com metanol.

Álcool com ingredientes especiais adicionados é geralmente descrito como álcool adulterado. Às vezes, quem produz álcool falsificado acrescenta ingredientes não só para torná-lo mais barato, mas também para melhorar o gosto ou fortalecer a embriaguez. Os ingredientes adicionados podem variar.

Por exemplo, no Quênia, um dos álcoois ilegais populares é chamado Chang-aa, ou “mate-me rápido”. Isso porque ele geralmente tem uma concentração de álcool muito alta e também é frequentemente adulterado com ingredientes danosos, como combustível de aviões ou fluido de embalsamamento de funerárias. Esse tipo de álcool é geralmente consumido nas favelas por pessoas pobres e vulneráveis que querem o álcool mais barato com o efeito mais potente.

Sifonando as vendas de bebida legítima

A Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) afirma que álcool falsificado é umas das maiores preocupações em todo o mundo. Em 2018, durante uma operação, ela reportou que “16 mil tonéis e 33 milhões de litros de comidas e bebidas falsas potencialmente perigosas foram apreendidas, num total de US$ 117 milhões”. Na Europa, vinho e bebidas estão nos cinco principais setores de perda de vendas.

Vinho falsificado está se tornando mais comum e agora representa um mercado bilionário. Na China, por exemplo, vinho falsificado é tão comum que tem sido considerado uma epidemia, especialmente em termos de vinhos mais finos.

De acordo com a Forbes, compradores asiáticos são os maiores compradores de vinhos finos (60%) em leilões da Sotheby’s ao redor do mundo. Uma garrafa de vinho muito cara vendida na Christie’s, em Londres, por US$ 157 mil, que quebrou um recorde na época, em 1985, era falsa.

Mas mesmo mais recentemente, em maio, uma operação na Ucrânia apreendeu uma grande operação de bebidas falsificadas.

Mais do que dinheiro em jogo

Apesar das perdas em vendas ser uma grande preocupação para agentes da lei e negócios, recomendações de viagem para norte-americanos que viajam ao exterior volta e meia são emitidas por causa do risco de álcool falso. Uma orientação foi emitida em 2017 para um resort no México. Do mesmo modo, em junho de 2019, houve uma notificação de que 23 pessoas morreram e 10 pacientes estavam passando em tratamento por causa de álcool batizado com metanol na Nigéria.

A realidade é que álcool falsificado ou tóxico é comum em muitos lugares do mundo, até em lugares que você talvez não espere. Então, na próxima vez que viajar para o exterior e quiser uma bebida alcoólica, particularmente um vinho ou destilado mais fino, olhe com cuidado a garrafa.

Os especialistas em viagem do Overseas Security Advisory Council (Conselho de Aconselhamento de Segurança no Exterior, em tradução livre) dos EUA fizeram uma lista para consumir álcool no exterior. Eles recomendam que:

1. Não tome bebida feita em casa ou falsificada.
2. Não beba em excesso.
3. Não tente competir com locais e suas bebidas.
4. Não perca a sua bebida de vista.

Há também algumas dicas do Instituto de Padrões Comerciais do Reino Unido para identificar álcool falso. É fundamental lembrar de prestar atenção ao lugar, preço, embalagem e produto, os especialistas dizem. Mais importante, se o álcool tem gosto ou cheiro ruim, não beba.

A comunidade médica e de saúde pública está mais preocupada em relação aos efeitos perigosos do álcool, visto que novas pesquisas mostram que não há limite seguro para consumo. Dito isso, se você decidir beber, especialmente ao viajar para o exterior, tenha certeza de que o álcool em sua bebida é real, e mantenha-o chacoalhado e misturado, mas não envenenado.

Texto publicado originalmente no site The Conversation
Galileu

 

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