Foto: Nicola Giordano – Pixabay
A chegada da internet abriu um mundo de possibilidades que nós fomos aprendendo a explorar aos poucos, tateando e experimentando. Nossos filhos, ao contrário de nós, ainda usavam fraldas quando conheceram o primeiro tablete ou assistiram ao vídeo da Galinha Pintadinha no celular. Lembro do Samuca sentado no meu colo, chupeta na boca, pegando o mouse e fechando um pop-up que atravancou meu caminho enquanto eu tentava ler uma notícia. Aquele movimento para ele tão natural ainda me demandava alguns comandos mentais que muitas vezes demoravam a se realizar, confesso.
Essa naturalidade que eles lidam com as novas tecnologias (e eu dou risada quando vejo que usei o adjetivo ‘novas’ para falar de algo que começou a se popularizar há quase 30 anos) nos assusta, claro. É como se as crianças tivessem nascido com as chaves de um labirinto onde muitos de nós ainda se perde. Mas a gente, ao contrário delas, sabe que o Minotauro se esconde entre essas paredes. Há alguns anos li um artigo da psicóloga e agora colega de Estadão, Rosely Sayão, em que ela dizia que permitir que as crianças naveguem na internet sem supervisão seria o equivalente a “deixá-las sozinhas na praça da Sé”. Não poderia concordar mais e acho que a maioria dos pais já entendeu esse conceito, e vem agindo para educar digitalmente seus filhos.
Pesquisa TIC Kids online Brasil divulgada na última terça-feira nos ajuda a entender um pouco mais o que os nossos filhos fazem nas redes, quais são os riscos e as oportunidades que essa conexão tem trazido às suas vidas e me fez crer que a maioria de nós está no caminho certo. Esse estudo, realizado desde 2014 no Brasil (e que está alinhado com a rede europeia EU Kids Online, liderada pela London School of Economics, e com o projeto Global Kids Online, coordenado pelo Unicef) entrevistou 2964 crianças e adolescentes de 9 a 17 anos de todas as regiões do Brasil entre outubro do ano passado a março desse ano. Uma das perguntas feitas foi: o que mais gostam de fazer quando estão conectados?
A atividade digital preferida de 83% das crianças e adolescentes é assistir a vídeos, séries ou programas online. Ouvir música (82%), jogar sem estar conectado com outros jogadores (60%) e conectado com outros parceiros (55%) também foram citadas por eles.E qual a participação desses jovens em redes sociais como Whats App, Facebook e Instagram? Cerca de 82% já estão nessas plataformas.
“É um número bem expressivo, são cerca de 22 milhões de crianças e adolescentes”, revelou Luísa Adib, responsável pela pesquisa, durante coletiva de imprensa. E a rede queridinha dos jovens mudou, conta. “Pela primeira vez na nossa série histórica o número de crianças e adolescentes que estão no Whats App supera os que possuem perfil no Facebook.”. Adib, contudo, afirmou que a participação dos jovens na rede social de Mark Zuckeberg não pode ser desprezada. Já o Instagram, embora apareça em terceiro lugar, é o que teve o crescimento mais expressivo entre as crianças e os adolescentes (36% em 2016 para 45% em 2018) e já é a terceira plataforma com mais engajamento.
A boa notícia é que é possível ver que crianças e adolescentes têm divulgado menos informações privadas ou sensíveis nas redes se comparado aos estudos anteriores, destacou Luísa. Em 2013, quando os pesquisadores saíram a campo pela primeira vez, 93% dos jovens entrevistados afirmaram que haviam compartilhado fotos mostrando o rosto, 73% o sobrenome, 52% o nome da escola onde estudavam e 21% o número de seu telefone. Em 2018 houve uma queda significativa no fornecimento dessas informações pessoais. Quando o recorte é feito para os dados do último estudo, ‘apenas’ 15% dos adolescentes de 15 a 17 afirmaram terem enviado um vídeo ou uma foto para alguém que não conheciam pessoalmente e 6% dados pessoais para pessoas que não conhecem na vida off-line.
“Uma coisa que é importante destacar é que, embora (os pais) tenham que estar atentos aos riscos, eles não necessariamente incorrem em danos”, ressalvou Luísa. Ela acrescentou, ainda, que a “parte boa” das redes sociais tem prevalecido: 62% dos adolescentes de 15 a 17 anos revelou que usou essas plataformas “para fazer novos amigos”. Ainda bem. (Quer ter acesso à íntegra da pesquisa? Clique aqui.)
RITA LISAUSKAS – Emais – Estadão
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