Economia

Auxílio emergencial reduziu a pobreza em 23%; FGV diz que 15 milhões de brasileiros saíram dessa linha

Foto: © 12/06/2012/Arquivo/Wilson Dias/Agência Brasil

Em meio à pandemia da covid-19, o auxílio emergencial contribuiu para a queda temporária da pobreza no Brasil. Segundo o estudo Covid, Classes Econômicas e o Caminho do Meio: Crônica da Crise até Agosto de 2020, divulgado nesta sexta-feira (9) pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), 15 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza até agosto de 2020, uma queda de 23,7%. A comparação é feita com os dados fechados de 2019.

De acordo com a definição usada pela FGV, a pobreza é caracterizada pela renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50).

Segundo o coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, apesar de o país ainda registrar 50 milhões de pobres após esta queda, este é o nível mais baixo de toda a série estatística.

“De maneira geral, a gente observou um boom social inédito, mesmo comparando com períodos pós-estabilização, que foram períodos de boom social. Em toda a série estatística a pobreza nunca esteve num nível tão baixo, são 50 milhões de brasileiros. A queda foi realmente inédita, de acordo com as séries estatísticas”.

A redução de pobreza chegou a 30,4% na Região Nordeste e a 27,5% no Norte do país. No Sul, a redução foi de 13,9%; no Sudeste de 14,2% e no Centro-Oeste a queda na pobreza chegou a 21,7%.

Segundo a FGV Social, essas regiões têm maiores parcelas do público-alvo do Auxílio Emergencial. “O Brasil, nos nove meses do auxílio emergencial, até o final do ano, pretende gastar R$ 322 bilhões, cerca de nove meses são nove anos de Bolsa Família, uma injeção de recursos bastante substantivo”, destaca o pesquisador.

Mercado de trabalho

Por outro lado, Neri disse que as camadas com renda acima de dois salários mínimos per capita perderam 4,8 milhões de pessoas na pandemia e os dados do mercado de trabalho demonstram forte retração.

“Houve uma queda de renda de 20%. O índice de Gini teve um aumento muito forte, que é o índice de desigualdade. A renda do trabalho da metade mais pobre caiu 28%. Então guarda um certo paradoxo na pesquisa. As rendas de todas as fontes tiveram um aumento espetacular, principalmente na base da distribuição, enquanto a renda do trabalho, que deveria ser a principal renda das pessoas, teve uma queda igualmente espetacular, especialmente também na base da distribuição. O que explica esse paradoxo é a atuação do auxílio emergencial, que atingiu no seu pico com 67 milhões de brasileiros”.

Com a queda no topo e a subida na base das classes de renda, as camadas intermediárias tiveram um aumento de 21,4 milhões de pessoas, o que equivale à quase metade da população da Argentina. Neri lembra que a diminuição na pobreza é temporária e tende a ser totalmente revertida após o fim do auxílio emergencial.

“O boom social ocorrido em plena pandemia é surpreendente, mas enseja uma preocupação, porque a sua principal causa, que é o auxílio emergencial, generoso, que foi concedido, ele cai à metade agora em outubro, e depois é totalmente extinto em 31 dezembro. Então, a nossa estimativa é que esses 15 milhões que saíram da pobreza vão voltar à velha pobreza de maneira relativamente rápida. Isso equivale a cerca de meia Venezuela em termos populacionais”, disse o pesquisador.

A pesquisa aponta também que ainda não foram definidos novos programas sociais para contornar a crise atual, bem como há “cicatrizes trabalhistas de natureza mais permanente abertas pela crise”.

Além disso, a questão sanitária preocupa, já que o segmento mais pobre, público alvo do auxílio emergencial, tem taxas mais baixas de isolamento social, o que indica o impedimento das pessoas mais pobres em conseguirem exercer “ações mais ajustadas às necessidades impostas pela pandemia”.

Agência Brasil

Opinião dos leitores

  1. Mérito do congresso e dos partidos de esquerda q aumentaram o valor do auxílio p 600 conto.
    Bolsonaro não queria dar auxílio algum.

    1. Vc está novamente distorcendo os fatos!!!
      O governo mandou proposta de R$200,00 e o Congresso aumentou para R$600,00.

    2. Vc está novamente distorcendo os fatos!!!
      O governo mandou proposta de R$200,00 e o Congresso TODO aumentou para R$600,00.

    3. E mais que isso.
      BOTAFOGO deu um tiro no pé.
      A economia brasileira está pujante, e o véi Bolsonaro ta estourado em todo Brasil sil sil sil.
      Inclusive no NE.
      Botafogo e os comparsas, queriam quebrar e afundar o País.
      Lascou se.
      Tiro pela culatra.
      O Brasil é grande, não tem quem quebre, nem a quadrilha petista deu conta depois de roubar em todo canto que era possível roubar.

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Saúde

Brasil reduziu taxa de reprodução do novo coronavírus a menos da metade, mostra estudo

Foto: Amanda Perobelli – 6.mai.2020/Reuters

O Brasil conseguiu reduzir a sua taxa de reprodução do coronavírus para menos da metade desde o início da pandemia. Em fevereiro, quando foi registrado o primeiro caso no país, uma pessoa que contraísse a doença a transmitia para outras 3,5 na média. Hoje, o número está em 1,4. Em São Paulo, esse índice é menor, de 1,3.

Essa é uma das conclusões de um estudo feito pelo físico nuclear Rubens Lichtenthaler Filho, da Universidade de São Paulo, e do médico Daniel Lichtenthaler. O levantamento foi feito com base nos números oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde. “Ficou claro que a política de distanciamento social é essencial para reduzir o número total de casos e controlar a epidemia”, diz o estudo.

“É consequência dessas medidas de afastamento social que foram tomadas. Mas ainda é pouco. Em termos de epidemia, o número tem que ficar abaixo de um. Ao olharmos os dados da Alemanha, por exemplo, está em 0,8. Lá eles conseguem controlar. E aqui o número de casos ainda está crescendo”, diz um dos autores do estudo, Rubens Lichtentaler, do departamento de Física Nuclear da USP. O estudo ainda é um manuscrito (pré-print), que ainda não passou por revisão de pares.

O levantamento aponta que um relaxamento nas medidas de isolamento aumentará essa taxa de reprodução de forma “imprevisível”, apontando que tais mudanças para o retorno da atividade econômica e social devem ocorrer de forma “gradual”, mantendo o monitoramento das curvas da epidemia.

O estudo também defende que sejam feitas pesquisas amostrais com a população para determinar a quantidade de pessoas com a doença, como forma de determinar em que momento da epidemia o país está e a que distância do pico. Se não houver conhecimento de quantos estão realmente infectados, ficaria muito difícil de fazer previsões confiáveis sobre controle do novo coronavírus, diz o texto.

Os pesquisadores defendem que o lockdown é uma forma de reduzir essa taxa para abaixo de 1, e que tal decisão deve ser tomada a partir da análise de dados de cada cidade ou comunidade. O governo federal é contrário a essa medida e tem defendido, inclusive, o relaxamento das políticas atuais de isolamento social.

Em São Paulo, estado com mais casos, o governador João Doria (PSDB) já afirmou que havia a possibilidade, mas ainda não decidiu nada a respeito. Alguns municípios no país já adotaram a política de lockdown. Segundo levantamento da CNN, a medida já vale em São Gonçalo e Campos (RJ), Belém e outras 16 cidades do Pará, Fortaleza (CE), Recife e outras 4 cidades de Pernambuco, três cidades na Bahia, três no Paraná, em todo o estado do Amapá e em 4 municípios do Amazonas.

De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, às 18h deste domingo, o Brasil tinha 347,3 mil casos confirmados de coronavírus e 22.013 mortes. É o segundo no mundo em número de casos, atrás apenas dos Estados Unidos, e o sexto no mundo em mortes, atrás de EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França.

CNN Brasil

Opinião dos leitores

  1. BG, quando dispor de Estudos , por favour, dispor no link do referido ou o mesmo em PDF, se puder, um abraço

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Saúde

Brasil reduziu taxa de expansão da Covid-19 de 3,5 para 1,4, mas valor ainda é alto

Foto: Fotoarena / Agência O Globo

O “número básico de reprodução” da Covid-19 — parâmetro que indica quantas pessoas um indivíduo infectado contagia — caiu no Brasil desde o início da pandemia, mas ainda é alto.

Quando o novo coronavírus chegou ao país, em 26 de fevereiro, cada pessoa que o contraía passava a doença para outras 3,5, em média. Depois das primeiras medidas de isolamento social, em 23 de março, o número caiu para 1,9. Agora, com mais estados promovendo quarentena, está em 1,4. Ou seja, cada dois brasileiros infectados transmitem o Sars-CoV-2 para outros três.

O valor é menor, mas ainda preocupante, porque alimenta um crescimento exponencial da pandemia, que dobra de tamanho a cada 9 ou 10 dias, um patamar temerário num momento em que o Brasil já tem mais de 260 mil casos.

Os pesquisadores responsáveis pela estimativa são o físico nuclear Rubens Lichtenthäler Filho, professor da Universidade de São Paulo (USP), e seu filho, Daniel, médico do Hospital Israelita Albert Einstein.

Para chegar aos números, os dois trabalharam essencialmente com dados oficiais. Eles afirmam que as datas-chaves identificadas na análise coincidem com momentos em que estados implementaram medidas mais duras de isolamento.

— A gente sabe que o impacto que a gente está vendo é o de medidas progressivas de distanciamento social ao longo do tempo — diz Daniel.

Para enxergar um panorama mais claro sobre a evolução da pandemia, Daniel explica que os dados oficiais foram tratados para eliminar flutuações estatísticas (em domingos há poucos registros, por exemplo) e foi levado em conta o tempo da doença e seu período de incubação. O tratamento matemático do trabalho usou recursos empregados comumente na área de atuação de Rubens.

Crescimento explosivo

— O tipo de processo é o mesmo que a gente tem em algumas áreas da física onde existem fenômenos com crescimento exponencial — diz o cientista. — Uma reação nuclear é isso. Você joga um nêutron num átomo de urânio, ele fissiona e emite dois a três nêutrons. Cada um desses nêutrons vai provocar uma outra fissão, e assim vai…

O foco dos pesquisadores na taxa de reprodução básica — tradicionalmente representada em estudos de epidemiologia pela variável R0— se justifica porque ela é essencial para entender o futuro da pandemia, mesmo não sendo o único parâmetro necessário para isso.

Quando se sabe o número de leitos disponíveis numa cidade, determinar a R0 ajuda a prever quando a capacidade excede. Quando se sabe o número total de pessoas infectadas numa população, é possível calcular em tese o momento em que será atingida a “imunidade de rebanho”, que é a porcentagem de pacientes recuperados/imunizados alta o suficiente para impedir o crescimento da epidemia.

Longe do pico

O problema, porém, é que o Brasil não sabe com precisão ainda a parcela de sua população que já foi infectada. E, qualquer que ela seja, o pico da pandemia parece estar ainda distante. Estudos que buscam a prevalência da doença por amostragem — como em pesquisas eleitorais — ainda estão em andamento. Na avaliação dos Lichtenthäler, tentar determinar quando será o pico sem essa informação em mãos é muito difícil.

Segundo Daniel, porém, o modelo de análise que ele criou com seu pai e coautor não tem essa pretensão, por isso resiste às incertezas da subnotificação,que não afetam o a taxa de reprodução básica da Covid-19.

Enquanto muitos grupos de pesquisa buscam fazer modelos mais complexos e ambiciosos, a dupla optou por uma abordagem mais simples, mas com mais poder de determinar um parâmetro crucial da pandemia, a R. Para isso, consideraram como premissa que a taxa de subnotificação não tem oscilado muito.

Os Lichtenthäler publicaram na última sexta-feira (15) uma versão preliminar de seu estudo no portal MedrXiv. Na ocasião, a Ro para o Brasil estava ainda em 1,4.

O Globo

 

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