Foto: Tourism Kelowna/CedarCreek Estate Winery/Brian Sprout
Quando a pandemia de coronavírus chegou e as fronteiras se fecharam em todo o mundo, BreAnne Henry descartou seus planos de viagem para a Irlanda e Portugal no verão do Hemisfério Norte.
No lugar disso, a fisioterapeuta de Calgary, Canadá, e o noivo vão se contentar com um plano B para as férias de julho: uma viagem de carro de sete horas para Kelowna, para conferir as vinícolas, as trilhas e as praias da região.
Mas até esse projeto é provisório, porque requer atravessar a divisa entre as províncias canadenses de Alberta e British Columbia e, pelo menos neste momento, cruzar as divisas é algo fortemente desaconselhado pelas autoridades de saúde pública.
“É aí que entra o plano C”, diz BreAnne Henry. “Obviamente, queremos seguir todas as regras estabelecidas pelo governo e, se apenas viagens essenciais entre as províncias forem autorizadas, vamos acampar em Alberta mesmo”, conforma-se.
Ficar perto de casa
Especialistas do setor de turismo sugerem que as pessoas voltem a viajar explorando atrações mais próximas de casa – de preferência, aquelas que ficam praticamente no próprio quintal.
“Mesmo quando os confinamentos forem suspensos, haverá uma tendência para as pessoas ficarem mais próximas de casa nos primeiros meses por estarem preocupadas com uma possível segunda onda da pandemia”, prevê Caroline Bremner, a chefe de viagens da Euromonitor International, uma empresa de pesquisa de mercado global sediada em Londres.
“Quando as restrições forem atenuadas, o passeio de um dia será a primeira atividade que vai renascer, pois as pessoas se sentirão livres para explorar suas regiões e aproveitar a natureza novamente”, opina Bremner.
Para o médico Griffin, “viajar de carro para destinos próximos pode ser uma opção para aumentar o controle que você e sua família têm sobre riscos potenciais, em comparação a viajar de avião ou transporte público”.
Essa viagem “hiperlocal” – explorando um bairro do outro lado da cidade ou lojas ou restaurantes recém-reabertos em uma cidade vizinha – ainda oferece uma sensação de aventura, como explica Jantine Van Kregten, diretora de comunicações da Ottawa Tourism, na capital do Canadá.
“Todos precisamos de uma mudança de cenário após dez semanas de confinamento. Uma das coisas divertidas é incentivar as pessoas a conversar com
amigos e parentes em sua própria cidade, visitar o bairro que eles conhecem bem e encontrar os restaurantes e lojas de que gostam”.
Quanto às viagens que exigem pernoites, é provável que os viajantes comecem a satisfazer sua sede de viajar reprimida com roteiros de carro, nos quais podem arrumar sua própria comida, carregar lenços umedecidos com álcool gel e dirigir em seus próprios veículos por algumas horas.
“Acho que a mentalidade das pessoas é essa: ‘Se acontecer alguma coisa, posso pegar meu carro e voltar para casa'”, avalia Van Kregten. “Não é preciso esperar um avião ou ter de reagendar voos ou outros métodos de transporte”.
À procura de espaços abertos
Dirigir para grandes espaços abertos, como o Grand Canyon, será mais popular do que o normal, pois a maioria das pessoas tenta manter distância umas das outras e ficar ao ar livre, onde o coronavírus é menos propenso a se espalhar.
“Nos EUA, com quase metade dos estados reabrindo, será possível pegar a estrada, levando em consideração o distanciamento social e a Covid-19 balizando a viagem”, opinou Bremner, do Euromonitor International.
Nas estradas que levam aos campos de batalha de Gettysburg, na Pensilvânia, o tráfego já aumentou. Mesmo que locais como o centro de visitantes e os banheiros tenham sido temporariamente fechados, a área de um hectare e meio que serviu
de campo de batalha durante a Guerra Civil norte-americana foi aberta para visitas autoguiadas.
“Ao gerenciar nossos canais de mídia social, recebemos mensagens de muitas pessoas de Harrisburg, Maryland, e de outros lugares distantes a uma hora ou mais de viagem, que vieram com seus filhos para conhecer essas áreas históricas, já que a maioria das crianças não está na escola no momento”, contou Natalie Buyny, do Destination Gettysburg. “Percebemos que muitas pessoas estão vindo com seus trailers para passar alguns dias e ficam animadas por estarem aqui”.
Locais populares onde as multidões se reúnem, no entanto, podem ser problemáticos, pela dificuldade de manter o distanciamento social. O médico Griffin sugere viajar para parques menos conhecidos ou ir a um lago com apenas sua família, em vez de visitar uma praia lotada ou entrar na aglomeração de turistas para ver o gêiser Old Faithful, em Yellowstone”.
Hotéis mais limpos e seguros
Os hotéis também estão se preparando para receber turistas. Por exemplo, o Hotel Figueroa, no centro de Los Angeles, oferece descontos para os californianos que podem provar que vivem no estado. Assim como hotéis em outros lugares, o Figueroa está fazendo de tudo para tranquilizar os hóspedes sobre o aumento das práticas de limpeza e higienização.
“Essa será uma grande preocupação para os consumidores”, diz Bremner. “Toda interação do cliente com o hotel e sua equipe precisará ser vista pelas lentes da Covid-19, ou seja, o distanciamento social nas salas de jantar, o álcool em gel para as mãos em toda a propriedade, máscaras para funcionários, portas que se abrem automaticamente etc.”
Os hóspedes também começarão a fazer o próprio check-in e outros serviços, sem depender de atendentes. Para Van Kregten, será essencial comunicar essas novas práticas. “Será o primeiro pensamento para a maioria das pessoas: ‘Se eu for, o que você está fazendo para me manter seguro?’ Acho que chegaremos a um ponto em que já entenderemos de antemão que as precauções existem e os hotéis estão fazendo tudo certo”.
Sem voar por enquanto
Embora as pessoas possam estar dispostas a fazer check-in em hotéis próximos e outras hospedagens durante a temporada, é menos provável que comecem a embarcar em voos para destinos estrangeiros.
“Em países como a Grécia, o setor já está se preparando para a temporada de verão a partir do início de junho”, diz Bremner. “Mas não é esperado que os consumidores realizem viagens aéreas internacionais a médio prazo.”
Muitas fronteiras, incluindo a que separa os Estados Unidos do Canadá, ainda estão fechadas para viagens não essenciais. Países como Espanha e Reino Unido estão permitindo a entrada de visitantes, mas exigem que eles cumpram quarentena por 14 dias após a chegada, o que torna as férias muito mais complicadas e caras.
Outras nações estão criando “bolhas de viagem” com seus vizinhos para permitir uma entrada mais fácil para os cidadãos – casos da Nova Zelândia e Austrália e dos países bálticos Estônia, Letônia e Lituânia.
BreAnne Henry passou boa parte do ano passado organizando sua aventura pela Europa em 2020. “Sou do tipo planejadora. Gosto de esperar algo que sei que vai acontecer”, contou.
Mesmo sem planos de decolar tão cedo, a fisioterapeuta canadense está ansiosa pela viagem alternativa que fará nas férias de verão.
“É uma chance de explorar nosso próprio país. Temos uma lista de caminhadas que vínhamos adiando porque normalmente no verão optamos por viagens mais longas. Esta é uma excelente oportunidade de transformar uma restrição numa bênção.”
CNN Brasil
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