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Estudo da UFRN mostra a riqueza dos resíduos do solo potiguar para a construção civil

Foto: Reprodução/UFRN

A utilização de água em larga escala somada ao descarte inadequado de substâncias tóxicas por parte da indústria de construção civil motivou pesquisadores do Centro de Tecnologia da UFRN (CT) a buscar novos materiais que impactem cada vez menos o meio ambiente. O estudo tem como objetivo reaproveitar e valorizar resíduos como a manipueira, scheelita e o pó de pedra, resíduos próprios do território potiguar, de modo a desenvolver materiais sustentáveis ideais para as condições climáticas da região, gerando menos gastos e menos danos ao meio ambiente.

Inicialmente, o grupo — coordenado pelos professores Wilson Acchar, do Departamento de Física Teórica e Experimental da UFRN, Vamberto Monteiro, do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), e alunos do mestrado em Materiais e Processos Construtivos — estudou o planejamento da base estrutural da parede, na busca por um tipo de tijolo mais sustentável, e em seguida explorou a possibilidade de utilizar esses resíduos nas argamassas. Além disso, foram resgatadas técnicas antigas de construção, como as edificações de adobe, propondo uma adaptação mais moderna nessa retomada. O estudo obteve resultados bem promissores com essa adaptação. “No processo, percebemos propriedades bem melhores em todos os aspectos, como resistência e absorção”, afirma o mestrando Rayanderson Saraiva, um dos integrantes da pesquisa.

Planta do projeto e amostras dos recursos utilizados. Foto: Hogla Geovanna

Um dos resíduos utilizados, a manipueira, um líquido proveniente da produção de mandioca que oferece riscos aos lençóis freáticos, muitas vezes é mal descartado por casas de produção de farinha, como destacou um dos pesquisadores, Jonathan Macedo. Isso acontece no momento em que se prensa a macaxeira: um líquido nocivo ao meio ambiente é expelido, contendo elevada carga de materiais orgânicos danosos e ácido cianídrico que atingem o lençol freático.

A manipueira é, de fato, significativamente danosa, porém o cianeto contido nela é extremamente volátil, então, quando exposta ao ambiente em qualquer temperatura na faixa dos 20°C, já é suficiente para que evapore. Se o cianeto for exposto por um período de 24 horas, por exemplo, a meia-vida do seu teor cianídrico cai pela metade, depois de 48 horas cai por um quarto e assim sucessivamente. Além do mais, a manipueira extraída no Rio Grande do Norte é mais suave, pois a mandioca, conhecida como mansa, que é trabalhada no litoral, não contém tanto ácido cianídrico.

Outra característica crucial para o projeto é o fato da manipueira poder substituir a água potável no processo de hidratação do cimento, de acordo com Jonathan. “Vimos que foi bastante viável, atendeu a todas as normas, obtendo até resultados melhores do que com tijolo convencional”, afirma. O tijolo de manipueira apresenta apenas um pouco de porosidade externa. Contudo, em termos técnicos, esse tijolo tem mais resistência que o convencional. Não obstante, devido a presença do cianeto e do enxofre, a manipueira também serve para combater pragas, como formigas e insetos.

Outro material pesquisado, a scheelita, é encontrado em grande proporção na Mina Brejuí, em Currais Novos. O mineral, quando unido ao pó de pedra e à manipueira, promove um melhor empacotamento das partículas nos tijolos, tornado o material resultante mais maleável e de fácil manuseio. O tijolo convencional tem várias consequências negativas ao meio ambiente, por causa dos impactos provenientes de sua fabricação: a produção dos tijolos de resíduos evita a liberação de gases tóxicos, que acontece no processo de queima tradicional.

É assim que a produção de tijolo de solo-cimento passa a ser o objeto de pesquisa das construções inovadoras. O pesquisador Ricardo Ramos afirma que o tijolo feito de solo, cimento e manipueira foi alvo de “testes obtendo a combinação de resíduos, de forma que a união proporcione melhoria nas propriedades”.

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