A Universidade de Oxford e a AstraZeneca planejam recrutar cerca de 10 mil adultos e crianças do Reino Unido para realizar testes de uma vacina experimental contra coronavírus. A medicação recebeu um aporte de mais de US$ 1,2 bilhão dos Estados Unidos na quinta-feira (21).
Nesta sexta-feira (22), a universidade disse que instituições parceiras de todo o Reino Unido começaram a recrutar até 10.260 adultos e crianças para ver como o sistema imunológico humano reage à vacina e o quanto ela é segura.
Um teste inicial que começou no dia 23 de abril já aplicou a injeção em mais de mil voluntários de idades variando entre 18 e 55 anos. De acordo com os pesquisadores de Oxford, as fases 2 e 3 acrescentarão pessoas de 56 anos e mais velhas, além de crianças de 5 a 12 anos.
“A velocidade com que esta nova vacina avançou para testes clínicos de fase adiantada é um testemunho da pesquisa científica pioneira de Oxford”, disse Mene Pangalos, executivo da AstraZeneca.
A AstraZeneca já assinou com o Reino Unido e com os EUA como parceiros para produzir a vacina em escala industrial, antecipando-se à confirmação de que ela funciona e é segura.
Pesquisador trabalha em vacina contra coronavírus na Universidade de Copenhaguem. Foto: Thibault Savary / AFP
A Johnson & Johnson anunciou nesta segunda-feira que investirá, junto com o governo americano, US$ 1 bilhão para fabricar mais de um bilhão de doses de uma possível vacina para o coronavírus. Trata-se de uma vacina candidata que foi selecionada e está sendo testada pela própria Johnson & Johnson.
Como parte do acordo, o governo dos EUA dará US$ 421 milhões para ajudar a empresa a ampliar sua capacidade de fabricação. A Johnson & Johnson disse que iniciaria o teste em humanos em setembro, com o objetivo de ter a vacina pronta no início de 2021, sob uma autorização de uso emergencial. Esse período seria muito mais curto do que os habituais 18 meses necessários para o teste, a aprovação e fabricação de uma vacina.
O diretor científico da Johnson & Johnson, Paul Stoffels, disse que a empresa precisa aumentar sua capacidade de produção agora, mesmo sem sinal de que seu experimento funciona. Embora ainda não saiba se a vacina será aprovada, a empresa vai arriscar.
— Essa é a única opção para chegarmos a tempo — disse Stoffels.
A Johnson & Johnson possui uma fábrica na Holanda que pode produzir até 300 milhões de doses da vacina, acrescentou o cientista. Isso não seria o suficiente para o mundo, alertou ainda.
Stoffels disse que a companhia está começando a construir nos Estados Unidos uma fábrica que será reservada à produção de vacinas e deve ficar pronta até o fim do ano, quando os ensaios clínicos mostrarão se o experimento funciona.
Quase metade do US$ 1 bilhão virá da Autoridade Biomédica Avançada de Pesquisa e Desenvolvimento dos EUA (BARDA), que busca ampliar a colaboração antiga que já mantinha com a Johnson & Johnson.
Stoffels disse que a empresa também está procurando por fábricas em outras partes da Europa e Ásia capazes de produzir o tipo de vacina em que a empresa está trabalhando.
Tecnologia usada contra o Ebola
Até agora, a companhia não ministrou nenhuma dose de sua vacina aos seres humanos. Mas Stoffels disse que a vacina contra o coronavírus será baseada na mesma tecnologia usada para fabricar a vacina contra o Ebola, que tem sido amplamente usada em pessoas, e a empresa acredita que ela se mostrará segura.
Em testes de laboratório, o candidato da Johnson & Johnson produziu fortes anticorpos neutralizantes contra o vírus — o tipo necessário para obter uma vacina bem-sucedida.
A J&J continuará testando a vacina em estudos com animais nos próximos meses e planeja iniciar testes em humanos em setembro.
Os Estados Unidos, com mais de 143 mil casos confirmados de Covid-19, concentra a maioria dos episódios registrados no mundo todo — onde a doença já matou mais de 35 mil pessoas.
Este mês, a Moderna começou o teste inicial da vacina experimental contra o coronavírus em voluntários saudáveis, tomando a liderança na corrida dos laboratórios para desenvolver uma vacina viável.
Vacina contra HIV testada em macacos rhesus protege contra o vírus — Foto: Creative Commons
Uma nova pesquisa, publicada na revista “Immunity”, mostra que a estratégia experimental de vacina contra o HIV desenvolvida por pesquisadores da Universidade da Califórnia funciona em primatas não- humanos.
O novo estudo mostra que os macacos rhesus podem ser estimulados a produzir anticorpos neutralizantes contra uma cepa do HIV que se assemelha à forma viral resiliente que mais comumente infecta pessoas, chamada de vírus Tier 2. A pesquisa também fornece a primeira estimativa de níveis de anticorpos neutralizantes induzidos pela vacina necessários para proteger contra o HIV.
“Descobrimos que anticorpos neutralizantes que foram induzidos pela vacinação podem proteger os animais contra vírus que se parecem muito com o HIV no mundo real”, diz Dennis Burton, presidente do Departamento de Imunologia e Microbiologia da Scripps Research e diretor científico da Iniciativa International de Vacina contra a Aids (IAVI).
Embora a vacina esteja longe de testes clínicos em humanos, o estudo fornece uma prova de conceito para a estratégia de vacina contra o HIV que Burton e seus colegas vêm desenvolvendo desde os anos 90.
O objetivo dessa estratégia é identificar as áreas raras e vulneráveis do HIV e ensinar o sistema imunológico a produzir anticorpos para atacar essas áreas. Estudos conduzidos por cientistas da Scripps Research mostraram que o corpo precisa produzir anticorpos neutralizantes que se ligam ao trímero de proteína do envelope externo do vírus.
Para apoiar esta ideia, os cientistas descobriram que poderiam proteger os modelos animais do HIV, injetando-os com anticorpos neutralizantes que foram produzidos no laboratório.
O desenvolvimento da vacina
O desafio, então, era fazer com que os animais produzissem os próprios anticorpos neutralizantes. Para fazer isso, os cientistas precisavam expor o sistema imunológico ao trímero de proteína do envelope, treinando-o efetivamente para identificar esse alvo e produzir os anticorpos corretos contra ele.
Mas houve um grande problema. O trímero do envelope do HIV é instável e tende a desmoronar quando isolado. Como os cientistas poderiam usá-lo como um ingrediente em uma vacina? Um grande avanço veio em 2013, quando cientistas projetaram geneticamente um trímero mais estável, ou SOSIP.
“Pela primeira vez, tivemos algo que se parecia muito com o trímero de proteína do envelope do HIV”, diz Matthias Pauthner, pesquisador associado da Scripps Research e co-autor do novo estudo.
Os cientistas rapidamente avançaram com o projeto de uma vacina experimental contra o HIV que continha este trímero SOSIP estável. Seu objetivo com o novo estudo era ver se esse tipo de vacina poderia realmente proteger os animais da infecção.
O teste em macacos
A equipe testou a vacina em dois grupos de macacos rhesus. Um estudo anterior usando a mesma vacina mostrou que alguns macacos imunizados naturalmente desenvolveram baixos níveis de anticorpos em seus corpos, enquanto outros desenvolveram altos níveis após a vacinação.
A partir deste estudo, os pesquisadores selecionaram e revacinaram seis macacos com baixos níveis e seis macacos com altos níveis. Eles também estudaram 12 primatas não imunizados como seu grupo de controle.
Os primatas foram então expostos a uma forma do vírus chamado SHIV, uma versão artificial do HIV que contém o mesmo trímero de envelope que o vírus humano.
Esta cepa particular do vírus é conhecida como um vírus Tier 2 porque se mostrou ser difícil de neutralizar, bem como as formas de HIV que circulam na população humana.
Os pesquisadores descobriram que a vacinação funcionava nos animais com altos níveis. Os macacos conseguiram produzir níveis suficientes de anticorpos neutralizantes contra o trímero da proteína do envelope para prevenir a infecção.
“Desde que o HIV surgiu, esta é a primeira evidência que temos de proteção baseada em anticorpos contra um vírus Tier 2 após a vacinação. Uma questão agora é como podemos obter esses altos níveis em todos os animais?”- Matthias Pauthner, pesquisador associado da Scripps Research e co-autor do estudo.
O foco nos níves de anticorpos tornou-se especialmente importante, pois os pesquisadores viram a proteção contra o HIV diminuir à medida que os níveis caíram nas semanas e meses após a vacinação. Ao rastrear os níveis enquanto expunham continuamente os animais ao vírus, os pesquisadores determinaram os níveis de anticorpos necessários para manter o HIV sob controle.
O futuro
É importante ressaltar que o estudo também mostrou que os anticorpos neutralizantes, mas não outros aspectos do sistema imunológico, eram a chave para parar o vírus. Pauthner diz que esta é uma descoberta importante, uma vez que outros laboratórios se concentraram no potencial das células T e outras defesas do sistema imunológico para bloquear a infecção.
No futuro, os cientistas estão procurando melhorar o projeto da vacina para testes em humanos e manter os níveis de anticorpos altos. “Há muitos truques imunológicos que podem ser explorados para tornar a imunidade mais duradoura”, diz Pauthner.
Os pesquisadores estão buscando uma estratégia para obter anticorpos amplamente neutralizantes (bnAbs) que possam neutralizar muitas cepas do HIV, em vez da única cepa descrita nesses estudos. “Esta pesquisa dá uma estimativa dos níveis de bnAbs que podemos precisar para induzir através da vacinação, a fim de proteger contra o HIV em todo o mundo”, diz Burton.
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