Foto: JORDI MIRO / AFP
Em um episódio confuso, a Embaixada da Venezuela em Brasília foi ocupada no início da manhã desta quarta-feira por seguidores do líder opositor Juan Guaidó , presidente da Assembleia Nacional daquele país e reconhecido como “presidente interino” pelo Brasil e mais cerca de 50 países.
Há versões contraditórias do episódio. Segundo um comunicado divulgado mais cedo pela “embaixadora” designada por Guaidó para o Brasil, María Teresa Belandria , um “grupo de funcionários” da embaixada teria entrado em contato com os representantes do governo autoproclamado para informar “que reconhecem Juan Guaidó como presidente” da Venezuela.
O grupo, segundo o comunicado, “entregou voluntariamente” a sede diplomática da Venezuela no Brasil à oposição. Funcionários que estavam dentro da representação diplomática teriam sido notificados da ação e convidados a aderir ao movimento, “garantindo todos os direitos trabalhistas”.
Já Freddy Menegotti , encarregado de negócios da Venezuela no Brasil, nomeado pelo governo de Nicolás Maduro , afirma que a embaixada foi invadida, em uma ação calculada para coincidir com a cúpula dos líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que começa nesta quarta em Brasília. No meio da manhã, Menegotti foi até a grade da embaixada fazer um pronunciamento e disse que o “imperialismo norte-americano” está por trás da ocupação da embaixada, que, pelas normas internacionais, é território estrangeiro.
— Um assédio a uma embaixada é um assédio a um país, o que está por trás disto é o imperialismo norte-americano, já denunciado em diferentes e reiteradas oportunidades que o imperialismo norte-americano assedia nosso país — disse. — É muito importante anunciar que essa situação está acontecendo no dia de hoje no Brasil quando está acontecendo um evento tão importante de transcendência internacional como o Brics.
O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, disse no Twitter que a embaixada foi invadida à força e responsabilizou o governo brasileiro pelo que ocorrer: “Fazemos responsável o governo do Brasil pela segurança de nosso pessoal e instalações diplomáticas. Exigimos respeito à convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”, escreveu.
A notícia mobilizou desde cedo o governo brasileiro. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, para tratar da questão. Uma nota a respeito do assunto será divulgada pelo Itamaraty nas próximas horas.
Fontes do governo brasileiro disseram que há dúvidas sobre como está a situação. Afirmaram que o Ministério das Relações Exteriores só foi informado pela manhã, “com o episódio instalado”.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), líder do partido na Câmara, está dentro da embaixada, onde chegou no começo do dia. Segundo ele, houve uma reunião entre o governo brasileiro, representado pelo diplomata Maurício Correia, coordenador-geral de Privilégios e Imunidades do Itamaraty, e os representantes de governo Maduro. De acordo com o deputado, o diplomata disse que o Brasil não reconhece o governo venezuelano desde janeiro e, portanto, não tomaria providências contra as pessoas que entraram na embaixada de manhã.
— Eu participei da reunião quando ele informou que o governo brasileiro, o Itamaraty não reconhece desde janeiro o governo de Nicolás Maduro e portanto não tomariam nenhuma providência contras as pessoas que invadiram a embaixada, respaldando a ação criminosa que aqui aconteceu — disse.
Apoiadores do governo Maduro, na maioria brasileiros, agora fazem um cordão de isolamento na frente da entrada da embaixada. O Batalhão do Rio Branco, da Polícia Militar do Distrito Federal, encarregado de dar proteção às embaixadas, também na porta, mas não pode entrar devido à inviolabilidade diplomática — oficialmente, o prédio é considerado território estrangeiro. Poucos apoiadores de Juan Guaidó foram para a frente da embaixada após a ocupação.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou ao GLOBO que vai à embaixada agora pela manhã para declarar apoio aos funcionários supostamente leais a Guaidó:
— Nesse momento estou indo para a embaixada da Venezuela dar apoio ao diplomata Tomás, que faz parte da equipe da embaixadora María indicada por Guaidó, que está dentro da embaixada junto com o adido militar venezuelano de Maduro, senhor Barroso, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) e o embaixador de Cuba. — disse o deputado. — Não entendo como o Brasil reconhece Guaidó como presidente mas quem ocupa a embaixada é o indicado pelo narcoditador Maduro. Estar contra Maduro é estar ao lado do povo venezuelano que morre de fome e é assassinado quando protesta. O Brasil não é a Venezuela de Maduro.
Caracas não tem embaixador no Brasil desde 2016, quando Maduro chamou Alberto Castelar de volta em protesto contra o impeachment de Dilma Rousseff.
O Globo
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