Camila Bonfim – TV Globo
O assessor especial José Wilde, que trabalhava no gabinete do ministro da Previdência, Garibaldi Alves, pediu demissão na manhã desta quinta-feira (17). Segundo reportagem publicada pela revista “Veja”, com base em investigação da Polícia Federal, ele recebeu um repasse de R$ 20 mil da empresa M.O Consultoria, ligada ao doleiro Alberto Youssef – um dos alvos da Operação Lava Jato, que apura suposto esquema de lavagem de R$ 10 bilhões.
O doleiro está preso há quase um mês. Segundo relatórios da Polícia Federal, a M.O Consultoria foi criada por Youssef e movimentou R$ 90 milhões entre 2009 e 2013. Procurado pela reportagem da TV Globo, Wilde não retornou às ligações.
Na carta de demissão, Wilde negou ligação com a empresa. Disse que no fim de 2010, antes de ser nomeado assessor no Ministério da Previdência, prestou serviço de assessoria a uma empresa paulista que não está sendo investigada na operação. Ele não informou o nome da empresa e disse que não tinha como saber de “eventuais relações entre empresas, suas coligadas e outras companhias”.
Ele afirmou que as atividades eram prestadas de forma esporádica e legal. “Especialmente neste caso, em que prestei serviços lícitos, não sendo de meu dever pesquisar a origem de recursos que, também licitamente, me foram destinados”. Wilde concluiu a carta de demissão afirmando que sai para afastar o ministro de cobranças indevidas e para poder se defender.
Leia a íntegra da carta de demissão:
Senhor Ministro Garibaldi Alves Filho,
Meios de comunicação social divulgaram a informação de que eu teria recebido recursos financeiros da empresa M. O Consultoria, investigada na Operação Lava Jato da Polícia
Federal.
Não tenho, nem nunca tive qualquer ligação com a empresa citada nas reportagens. É fato, porém, que no final de 2010, antes de ser nomeado para o Ministério da Previdência Social, prestei serviço de assessoria de imprensa a uma companhia paulista, que não esta ora investigada.
A firma para qual de prestei essa assessoria – obviamente com cláusula confidencialidade, como comum nessas questões de tratamento de imagem pública – desempenhava atividades legais no mercado.
A propósito, esse trabalho esporádico que então desempenhei não me permitiu tomar conhecimento de eventuais relações entre empresas, suas coligadas e outras companhias.
Causa-me, portanto, perplexidade e justa indignação por qualquer insinuação da mais remota ligação minha com pessoas ou organizações envolvidas em negócios escusos, especialmente neste caso, em que prestei serviços lícitos, não sendo de meu dever pesquisar a origem de recursos que, também licitamente, me foram destinados.
Sei, entretanto, que o julgamento não é só de Vossa Excelência, que conhece minha inteireza moral há décadas, e disso tem dado testemunho, o que muito me desvanece e conforta neste momento de sugestões gratuitas e injustas.
Mas, repito, o julgamento não é só de Vossa Excelência, que tem, como também eu, responsabilidades públicas a preservar. Assim, para afastá-lo de pronto de cobranças indevidas, e para que eu possa defender minha honra longe de deveres funcionais, peço exoneração, em caráter irrevogável, do cargo de Assessor Especial do Ministro, que exerço no Ministério da Previdência Social.
Reiterando minha admiração, respeito e meu afeto por Vossa Excelência, aguardo serenamente o julgamento isento dos fatos.
José Wilde de Oliveira Cabral
SANTA HIPOCRISIA BATMAN
O que diferencia esse especificamente dos demais, é que ele não é petista, pois se fosse a chamada da matéria começaria com essa "informação", e não apenas se tratando de pessoas comuns completamente desligada de partidos, como aliás são todos os casos que não possuem petistas envolvidos. Isso cria falsos paradigmas por associação de idéias e manipulação de argumentos e estatísticas em prol de fomentar munição para a guerra pelo poder político na terra brasilis.
Afinal, de qual partido esse consultor era? Trabalhava para quem mesmo? E Garibaldi não sabia? Se fosse o Lula ou a Dilma, seria imperdoável não saberem, não concordam?
Eh incrível como tem assessores consultores neste Brasil velho de guerra!
Quando se trata de serviço público, a figura do "consultor" pode estar ligado à tráfico de influência. Por exemplo: um banco particular está para ser liquidado pelo Banco Central por causa de alguma irregularidade. Daí o consultor usa o seu conhecimento e o seu prestígio reverter a situação.
Entre seus clientes também podem estar megaempresários e megainvestidores com quem conversa a portas fechadas, participam de negócios, enfim, o "consultor" viaja muito.
Quando retorna ao Brasil, certamente dá encaminhamento ao que foi combinado e nessa hora o que vale ouro é o mapa do poder que ele tem na memória.
Outro tipo de nome que se pode dar ao consultor: lobbysta.
Mas estamos no era PTista e agora chama-se consultoria.
Palocci quando foi pego disse que prestava atividade de consultoria. Fernando Pimentel da mesma forma. Agora José Wilde. Ao que aparenta consultor é a atividade que mais remunera, mas também a mais arriscada sob o ponto de vista moral e penal. Os consultores ainda que digam e defendem a licitude dos recebimentos sempre se afastam dos cargos ocupados. Sendo lícitos esses recebimentos qual o motivo da exoneração a pedido? Outra coisa: invariavelmente todos esses consultores que surgem nas investigações do DPF estão bem postados no Governo. O que será que os diferencia em relação aos demais?
Para este fim é que fomos dotados de dois braços. Sorte que o outro já estava no bolso do paletó.
Coitado, vai passar fome.