Um prefeito mal-avaliado e o principal partido de oposição dividido devem contribuir para transformar a disputa pela prefeitura de São Paulo do próximo ano em uma espécie de reality show eleitoral. Sem um nome favorito nas legendas tradicionais, notadamente PT e PSDB, o cenário na maior cidade do país se torna fértil para novatos na política, que podem usar a popularidade anabolizada por programas de televisão. Só nesta semana dois deles lançaram seus nomes: José Luiz Datena (PP), do policialesco “Brasil Urgente”, da Bandeirantes; e João Doria Jr. (PSDB), que há mais de 20 anos apresenta um programa de entrevistas com empresários na TV aberta, o “Show Business”, atualmente também na Bandeirantes.
Os dois novatos se juntam, no grupo de pré-candidatos, ao veterano Celso Russomanno (PRB) — que, impulsionado pela fama do quadro de defesa do consumidor, no ar há quase 25 anos na televisão, chegou a liderar a última eleição paulistana, em 2012. Na reta final, porém, ele deixou escapar a chance de ir ao segundo turno. Logo após a derrota daquele ano, Russomanno já anunciou que tentaria a sorte novamente em 2016, sem antes se eleger deputado federal em 2014.
Do lado da política tradicional, por enquanto, os nomes mais prováveis para a disputa são o do prefeito Fernando Haddad (PT), com uma gestão avaliada como ruim ou péssima por 44% dos paulistanos segundo pesquisa Datafolha de fevereiro; e o da senadora Marta Suplicy (sem partido), que ainda negocia filiação com o PMDB ou o PSB. A ex-petista também foi uma das pioneiras em usar a TV como impulso para a carreira política, já que era apresentadora do “TV Mulher”, nos anos 1980.
Ao se lançar na disputa nesta semana, Datena tentou fazer da sua inexperiência uma aliada.
— Não sou político mesmo e acho que tudo que o Brasil precisa é de não político. De gente que nunca tentou a política, de novidade — disse ontem o apresentador, em entrevista à Rádio Gaúcha, ao falar sobre suas negociações para ingressar no PP.
Para a cientista política Vera Chaia, coordenadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP, Datena pode ser um candidato com chances reais na eleição.
— Ele está surfando naquilo que todo mundo quer ver. Querendo dizer: não tenho nada a ver com o que acontecendo e quero fazer alguma coisa — analisa Vera Chaia.
Tentando enfrentar o constrangimento de negociar sua candidatura com o PP, partido que tem o maior número de políticos investigados na Lava-Jato (32), o apresentador disparou na entrevista de ontem que há no país uma “roubalheira desgraçada que desmoraliza a classe política”. Também respondeu ao deputado federal Paulo Maluf, ex-mandachuva do PP no estado e que se declarou contra a candidatura do apresentador:
— Aprendi com meus pais a respeitar as pessoas de mais idade. Eu respeito o Maluf como homem, mas como político jamais apertaria a mão dele para qualquer acordo.
As bandeiras conservadoras também devem ser um trunfo da possível candidatura do apresentador de programa policial.
Esse tipo de discurso também faz parte do repertório de um outro pré-candidato do PSDB, o deputado estadual Coronel Telhada, que se lançou ontem. Telhada foi comandante da Rota, tropa de elite da Polícia Militar. Os tucanos contam agora com seis nomes na disputa pelo posto de candidato: além de Telhada, João Doria Jr., Bruno Covas, José Aníbal, Andrea Matarazzo e Fernando Capez.
O Globo
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